Saúdo o Beato
Luis de Casoria, singular figura dos Frades Menores e ardorosa testemunha
da caridade de Cristo. Somos movidos pelas palavras do seu testamento: "O Senhor chamou-me a ele com um amor
muito doce, e com infinita caridade me guiou e dirigiu o caminho da minha
vida".
A força desse amor levou, um valioso estudioso e professor, a
se dedicar aos mais pobres: aos sacerdotes doentes, aos imigrantes africanos, aos
mudos, aos cegos, aos velhos, aos órfãos. Beato Luis, grande filho da Igreja de
Nápoles, fez o seu o carisma de Francisco de Assis e viveu-o na sociedade do
seu tempo, no sul da Itália do século passado, assumindo a responsabilidade
ativa para com as formas mais graves de pobreza, descendo com compaixão cristã
para a concretude da história do seu povo e seus dramas diários.
A amplitude do escopo
do seu apostolado nos deixa quase incrédulos, e naturalmente lhe perguntamos:
como você pode se aproximar de tantas misérias, com tanta
"imaginação" na promoção humana? E novamente suas palavras nos
respondem: "O amor de Cristo feriu
meu coração"
Peçamos-lhe que nos
ensine também a viver para os outros e a ser construtores de autênticas
comunidades eclesiais, nas quais a caridade floresce com alegria e com uma
esperança diligente. Jesus nos disse: "Pobres sempre o tereis"
(Mt 26:11). Abençoado Luis, ajude-nos a descobri-los, amá-los, servi-los com
aquele ardor que fez maravilhas em você.
Papa
João Paulo II – Homilia de beatificação – 18 de abril de 1993
Luis nasceu a 11 de
março de 1814, em Casória (Nápoles), filho de Vicente Palmentiéri e de Cândida
Zenha. Colocado como aprendiz em casa de um entalhador napolitano, pouco tempo
ali viveu desde que pôde reiniciar os estudos para o sacerdócio. A pobreza dos
pais orientou-o para a vida religiosa, e em 1832 foi aceito na ordem dos frades
menores. Fez o noviciado em Lauro, perto de Nola, onde permaneceu até à
ordenação sacerdotal. Em 1841 encarregaram-no de ensinar filosofia, matemática,
física e química. Uma ocasião em que orava numa igreja de Nápoles, sofreu uma
síncope, caindo no chão sem sentidos. Daí em diante dedicou-se às mais variadas
obras de assistência e caridade. Fundou uma enfermaria e uma farmácia para os
franciscanos doentes. Empenhou-se na difusão da ordem terceira na
Campânia, dando especial relevo às obras de caridade, pois, dizia, “uma ordem
terceira sem obras de caridade, não me agrada nem a quero”.
Em 1854 o sacerdote
genovês João Batista Oliviéri sugeriu-lhe uma obra destinada ao resgate e à
formação cristã de crianças africanas vendidas como escravas. Luís dedicou-se a
esse empreendimento com entusiasmo e paixão, e nesse mesmo ano começou a
acolher os primeiros negros recomendados pelo P. Oliviéri, a quem educou em sua
casa, com resultados promissores. Essa primeira experiência levou-o a projetar
o envio de missionários para a África, porque “é a África que deve converter a
África”. Em agosto de 1856 já tinha reunido nove meninos negros, cinco dos
quais foram batizados pelo cardeal de Nápoles. No ano seguinte embarcou para o
Cairo, visitou a Terra Santa e regressou de Alexandria com outros doze pequenos
escravos negros. Este núcleo familiar de futuros missionários indígenas
aumentou tanto, que em 1858 já eram 38, em 1859 eram 45, e posteriormente
chegaram a 64.
Projeto semelhante realizou também para meninas em condições idênticas. Ajudado pela Beata Ana Maria Lapíni, fundadora das irmãs estigmatinas, instituiu um colégio para meninas negras em Florença e outro em Nápoles. Nesta cidade fundou também uma academia de religião e ciências, para qual obteve o apoio de ilustres escritores, e iniciou a publicação do periódico La Carità. Estas generosas iniciativas granjearam-lhe a admiração de muitos, até mesmo de alguns anticlericais, e foi condecorado com a cruz da ordem dos santos Maurício e Lázaro.
Promoveu ainda
numerosas obras de beneficência em favor de órfãos, surdos mudos, raquíticos,
deficientes, para os quais fundou diversos institutos que de preferência
confiou às duas congregações por ele fundadas: os terceiros franciscanos
regulares, apelidados Frati Bigi (irmãos cinzentos) da Caridade, para os
homens; e as irmãs cinzentas Elisabetinas para mulheres. Para residência dos
seus missionários, a congregação da propagação da fé concedeu-lhe a estação
africana de Scellal, onde foi pessoalmente tomar posse a 12 de novembro de
1875.
Encomendou aos seus
irmãos cinzentos a obra de educação dos meninos negros. E pôde então dedicar-se
mais à vida espiritual de oração e íntima união com Deus, que sempre aliás
soubera conciliar com o seu maravilhoso apostolado de caridade. Com 71 anos
recebeu a visita da irmã morte, na manhã de 30 de março de 1885.
Foi beatificado pelo
Papa João Paulo II em 18 de abril de 1993 e canonizado pelo Papa Francisco em
23 novembro de 2014.
Hoje a Igreja põe à
nossa frente modelos como os novos Santos que, precisamente mediante as obras
de uma generosa dedicação a Deus e aos irmãos, serviram, cada um no seu âmbito,
o reino de Deus e dele se tornaram herdeiros. Cada um deles respondeu com
extraordinária criatividade ao mandamento do amor de Deus e do próximo.
Dedicaram-se incansavelmente ao serviço dos últimos, assistindo indigentes,
doentes, idosos e peregrinos. A sua predilecção pelos pequeninos e pelos pobres
era o reflexo e a medida do amor incondicional a Deus. Com efeito, procuraram e
descobriram a caridade na relação forte e pessoal com Deus, da qual se liberta
o amor verdadeiro ao próximo. Por isso, no momento do juízo, ouviram este doce
convite: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25, 34).
Papa
Francisco – Homilia de Canonização – 23 de novembro de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário