"Tu és meu Senhor! Fora de Ti não há felicidade para
mim". Sl 16,2
Estas palavras do
Salmista, que a liturgia de hoje pôs em nossos lábios, resumem bem as
aspirações de uma intimidade sem fim com Deus da irmã Marta Le Bouteiller.
Desejando entregar-se
totalmente ao Senhor e aos outros, ingressou na Congregação fundada por Santa
Maria Madalena Postel e, durante suas ocupações cotidianas na cozinha, na
fazenda, nos campos e no porão, levou uma vida de união com Deus, fazendo
"grandemente as pequenas coisas", de acordo com uma máxima cara à
fundadora "Vamos fazer o melhor
possível escondendo o máximo possível". A irmã Marta encontrou em
sua vida oculta com Cristo a alma de seu apostolado da bondade: "Aquele que habita em mim e em quem habito,
este dá muito fruto, pois sem mim, você não pode fazer nada". Muito
perto da santa fundadora e do Beato Placide Viel, a "boa" Irmã Marta
viveu suas humildes tarefas com uma qualidade de amor que desperta admiração.
Que esta nova
Bem-aventurada leve as novas gerações de hoje e de amanhã a descobrir a alegria
de entregar-se ao Senhor na consagração religiosa! Ajude-os a compreender
o primado da vida espiritual para participar na edificação da Igreja e realizar
uma ação frutuosa ao serviço dos homens! Nossos contemporâneos precisam
encontrar em seu caminho faces que manifestem a autêntica felicidade que
acarreta intimidade com Deus. Irmã Marta, na verdadeira Irmã da
Misericórdia, sabia irradiar em torno dela o amor de Deus. A extrema
simplicidade de sua existência não impediu que suas irmãs reconhecessem sua
verdadeira autoridade espiritual. Ela deu frutos para a glória do Pai: “Dando vós muito fruto, Meu Pai é
glorificado; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15, 8).
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 05 de novembro de 1990
Marta
(Amada Adélia) Le Bouteiller nasceu no
bairro La Henrière da cidade de Saint-Lô (França), de uma família que possuía
pequenos prédios e se dedicava à arte de tecer. Os pais confiaram a sua
educação às Religiosas
de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Tocou por sorte à menina ter
por preceptora uma santa religiosa, que usava repetir esta jaculatória: “Da negligência das tuas inspirações,
livra-nos, Senhor”.
Em 1º de setembro de
1827 o pai morreu com apenas 39 anos de idade, infelizmente na época uma
ocorrência comum; a mãe ficou sozinha com quatro filhos, teve de criá-los e
apoiá-los ajudada pelos filhos mais velhos; Amada, que tinha quase onze anos,
continuou seus estudos e ao mesmo tempo tinha que cuidar da casa.
Em 1837, seus dois
irmãos se casaram, e Amada, com 20 anos, começou a trabalhar como empregada
doméstica para ganhar a vida.
Com a Irmã Farcy,
organizadora da paróquia, ela ia todos os anos em peregrinação a
Chapelle-sur-Vire, a cerca de 15 km de Percy, e nesta localidade entrou em
contato com a Congregação das Irmãs das Escolas Cristãs da Misericórdia,
fundado em 1804 por Santa Maria Madalena Postel (1756-1846), para a educação da
juventude.
Amada, aos 25 anos, resolveu abraçar a vida
consagrada com o nome de Irmã Marta. Sua vida religiosa transcorreu no serviço
de Deus e das irmãs, sempre simples e jovial na execução dos serviços mais
humildes; dedicada à oração e à meditação, alimentou a sua espiritualidade
lendo autores da chamada "Escola Francesa de Espiritualidade".
Cuidava dos
domésticos e dos trabalhadores que prestavam serviço à Abadia, também dos
hospedes de passagem; distribuiu o vinho para 250 pessoas por dia e durante a
guerra chegou a 500 pessoas.
Diz-se que, durante a
guerra entre a França e a Alemanha, quando os estoques da abadia exauriram
pavorosamente, Irmã Marta pendurando na parede uma imagem de Madre Madalena,
morta há algum tempo, rezou intensamente e a partir desse momento os estoques
de 'cidra’ (vinho) e outros alimentos não acabaram.
No inverno de
1875-1876, Irmã Marta, agora em seus sessenta anos, caiu e fraturou a perna; a
longa convalescença, somando-se a morte de sua mãe e da amada Irmã Plácida, sua
confidente, foram suas grandes provações. Ela suportou-as sem deixar de atender
os interesses da despensa, apoiando-se a um bastão, mas o seu declínio era
evidente.
Em 18 de março de
1883, Domingo de Ramos, enquanto ela pretendia levar as garrafas para a cozinha
depois do jantar, caiu uma vez e, em seguida, uma segunda vez, tarde da noite,
atingida por um acidente vascular cerebral; morreu depois de receber os Sacramentos aos 67 anos.
A sua vida simples se
escreve de humildade, de obscuridade e de dom total aos outros, pondo assim em
prática uma das máximas de Santa Maria Madalena Postel: “Nadas façais por medo, fazei tudo por amor”.
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