Desejo chamar a atenção para duas falsificações da
santidade que poderiam extraviar-nos: o gnosticismo e o pelagianismo.
O
gnosticismo atual:
O gnosticismo é uma das piores ideologias, pois, ao mesmo
tempo que exalta indevidamente o conhecimento ou uma determinada experiência,
considera que a sua própria visão da realidade seja a perfeição.
Graças a Deus, ao longo da história da Igreja, ficou bem
claro que aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu grau de caridade, e
não a quantidade de dados e conhecimentos que possam acumular. Os “gnósticos”,
julgam os outros segundo conseguem, ou não, compreender a profundidade de
certas doutrinas. Preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma
Igreja sem povo.”
Mas atenção! Isto pode acontecer dentro da Igreja, tanto
nos leigos das paróquias como naqueles que ensinam filosofia ou teologia em
centros de formação. Com efeito, também é típico dos gnósticos crer que eles,
com as suas explicações, podem tornar perfeitamente compreensível toda a fé e
todo o Evangelho. Uma coisa é o uso saudável e humilde da razão para refletir
sobre o ensinamento teológico e moral do Evangelho, outra é pretender reduzir o
ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo.
Quando alguém tem resposta para todas as perguntas,
demonstra que não está no bom caminho e é possível que seja um falso profeta,
que usa a religião para seu benefício, ao serviço das próprias lucubrações
psicológicas e mentais. Quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a
transcendência de Deus.
Não se pode pretender definir onde Deus não Se encontra,
porque Ele está misteriosamente presente na vida de toda a pessoa, na vida de
cada um como Ele quer. Mesmo quando a vida de alguém tiver sido um desastre, destruída
pelos vícios ou dependências, Deus está presente na sua vida. Se nos deixarmos
guiar mais pelo Espírito do que pelos nossos raciocínios, podemos e devemos
procurar o Senhor em cada vida humana.
Algumas correntes gnósticas desprezaram a simplicidade
tão concreta do Evangelho e tentaram substituir o Deus trinitário e encarnado
por uma Unidade superior onde desaparecia a rica multiplicidade da nossa
história.
Com frequência, verifica-se uma perigosa confusão: julgar
que, por sabermos algo ou podermos explicá-lo com uma certa lógica, já somos
santos, perfeitos, melhores do que a “massa ignorante”. São João Paulo II
advertia, a quantos na Igreja têm a possibilidade de uma formação mais elevada,
contra a tentação de cultivarem “um certo sentimento de superioridade relativamente
aos outros fiéis”. Na realidade, porém, aquilo que julgamos saber sempre
deveria ser uma motivação para responder melhor ao amor de Deus, porque “se
aprende para viver: teologia e santidade são um binômio inseparável”.
São Francisco de Assis, ao ver que alguns dos seus
discípulos ensinavam a doutrina, quis evitar a tentação do gnosticismo. Então
escreveu assim a Santo Antônio: “Apraz-me que interpreteis aos demais frades a
sagrada teologia, contanto que este estudo não apague neles o espírito da santa
oração e devoção”.
Reconhecia a tentação de transformar a experiência cristã
num conjunto de especulações mentais, que acabam por nos afastar do frescor do
Evangelho. São Boaventura, por sua vez, advertia que a verdadeira sabedoria
cristã não se deve desligar da misericórdia para com o próximo: “A maior
sabedoria que pode existir consiste em dispensar frutuosamente o que se possui
e que lhe foi dado precisamente para o distribuir. Por isso, como a
misericórdia é amiga da sabedoria, assim a avareza é sua inimiga”. “Há
atividades, como as obras de misericórdia e de piedade, que, unindo-se à
contemplação, não a impedem, antes favorecem-na”.
Santo Antônio de Pádua
São Francisco de Assis
São João Paulo II
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