terça-feira, 17 de abril de 2018

Dois Inimigos da Santidade - Gaudete et Exsultate n.ºs 35 a 46



Desejo chamar a atenção para duas falsificações da santidade que poderiam extraviar-nos: o gnosticismo e o pelagianismo.

O gnosticismo atual:

O gnosticismo é uma das piores ideologias, pois, ao mesmo tempo que exalta indevidamente o conhecimento ou uma determinada experiência, considera que a sua própria visão da realidade seja a perfeição.

Graças a Deus, ao longo da história da Igreja, ficou bem claro que aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu grau de caridade, e não a quantidade de dados e conhecimentos que possam acumular. Os “gnósticos”, julgam os outros segundo conseguem, ou não, compreender a profundidade de certas doutrinas. Preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo.”

Mas atenção! Isto pode acontecer dentro da Igreja, tanto nos leigos das paróquias como naqueles que ensinam filosofia ou teologia em centros de formação. Com efeito, também é típico dos gnósticos crer que eles, com as suas explicações, podem tornar perfeitamente compreensível toda a fé e todo o Evangelho. Uma coisa é o uso saudável e humilde da razão para refletir sobre o ensinamento teológico e moral do Evangelho, outra é pretender reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo.

Quando alguém tem resposta para todas as perguntas, demonstra que não está no bom caminho e é possível que seja um falso profeta, que usa a religião para seu benefício, ao serviço das próprias lucubrações psicológicas e mentais. Quem quer tudo claro e seguro, pretende dominar a transcendência de Deus.

Não se pode pretender definir onde Deus não Se encontra, porque Ele está misteriosamente presente na vida de toda a pessoa, na vida de cada um como Ele quer. Mesmo quando a vida de alguém tiver sido um desastre, destruída pelos vícios ou dependências, Deus está presente na sua vida. Se nos deixarmos guiar mais pelo Espírito do que pelos nossos raciocínios, podemos e devemos procurar o Senhor em cada vida humana.

Algumas correntes gnósticas desprezaram a simplicidade tão concreta do Evangelho e tentaram substituir o Deus trinitário e encarnado por uma Unidade superior onde desaparecia a rica multiplicidade da nossa história.

Com frequência, verifica-se uma perigosa confusão: julgar que, por sabermos algo ou podermos explicá-lo com uma certa lógica, já somos santos, perfeitos, melhores do que a “massa ignorante”. São João Paulo II advertia, a quantos na Igreja têm a possibilidade de uma formação mais elevada, contra a tentação de cultivarem “um certo sentimento de superioridade relativamente aos outros fiéis”. Na realidade, porém, aquilo que julgamos saber sempre deveria ser uma motivação para responder melhor ao amor de Deus, porque “se aprende para viver: teologia e santidade são um binômio inseparável”.


São Francisco de Assis, ao ver que alguns dos seus discípulos ensinavam a doutrina, quis evitar a tentação do gnosticismo. Então escreveu assim a Santo Antônio: “Apraz-me que interpreteis aos demais frades a sagrada teologia, contanto que este estudo não apague neles o espírito da santa oração e devoção”. 

Reconhecia a tentação de transformar a experiência cristã num conjunto de especulações mentais, que acabam por nos afastar do frescor do Evangelho. São Boaventura, por sua vez, advertia que a verdadeira sabedoria cristã não se deve desligar da misericórdia para com o próximo: “A maior sabedoria que pode existir consiste em dispensar frutuosamente o que se possui e que lhe foi dado precisamente para o distribuir. Por isso, como a misericórdia é amiga da sabedoria, assim a avareza é sua inimiga”. “Há atividades, como as obras de misericórdia e de piedade, que, unindo-se à contemplação, não a impedem, antes favorecem-na”.

São Boaventura
Santo Antônio de Pádua
São Francisco de Assis
São João Paulo II

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