Hoje, dia dos
Santos Inocentes, ainda ressoa nos nossos corações as palavras do anjo aos
pastores “anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na
cidade de David, nasceu-vos um Salvador”. Nestes dias, podemos
experimentar como a liturgia nos toma pela mão e conduz ao coração do Natal,
introduzindo-nos no Mistério e levando-nos pouco a pouco à fonte da alegria
cristã.
A nosso malgrado, o
Natal é acompanhado também pelo pranto. Os evangelistas não se permitiram
mascarar a realidade para a tornar mais credível ou atraente; o Natal não era
um refúgio imaginário onde esconder-se perante os desafios e injustiças do seu
tempo. Ao contrário, anunciam-nos o nascimento do Filho de Deus envolvido também
numa tragédia de dor. Com grande crueza nos apresenta, citando o profeta
Jeremias: “Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto; é Raquel
que chora os seus filhos”. É o gemido de dor das mães que choram a
morte de seus filhos inocentes, causada pela tirania e desenfreada sede de
poder de Herodes.
Um gemido que
podemos continuar a ouvir também hoje, que nos toca a alma e que não podemos
nem queremos ignorar ou silenciar. Hoje, entre o nosso povo, infelizmente,
ouve-se ainda a lamentação e o pranto de tantas mães, de tantas famílias, pela
morte dos seus filhos, dos seus filhos inocentes.
Contemplar o
presépio é também contemplar este pranto, é também aprender a escutar o que
acontece em redor e ter um coração sensível e aberto à dor do próximo,
especialmente quando se trata de crianças, e é também ser capaz de reconhecer
que ainda hoje se está a escrever este triste capítulo da história. Contemplar
o presépio, isolando-o da vida que o circunda, seria fazer do Natal uma linda
fábula que despertaria em nós bons sentimentos, mas privar-nos-ia da força
criadora da Boa Nova que o Verbo Encarnado nos quer dar. E a tentação existe…
Pode-se viver a
alegria cristã, voltando as costas a estas realidades? Pode-se realizar a
alegria cristã, ignorando o gemido do irmão, das crianças?
A alegria cristã
não é uma alegria que se constrói à margem da realidade, ignorando-a ou fazendo
de conta que não existe. A alegria cristã nasce de um chamado – o mesmo que
recebeu São José – para tomar e proteger a vida, especialmente a dos santos
inocentes de hoje. O Natal é um tempo que nos desafia a guardar a vida e
ajudá-la a nascer e crescer; a renovar-nos como pastores corajosos.
Papa
Francisco – 28 de dezembro de 2016
Hoje celebramos:
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