A figura de João
Batista nem sempre é fácil de entender. Quando pensamos em sua vida, é um
profeta, um homem que foi grande e depois acaba como um homem pobre.
Quem é então João?
Ele mesmo responde: “Eu sou uma voz, uma voz no deserto”, mas é uma voz sem
Palavra, porque a Palavra não é ele, é Outro. Eis então, qual é o mistério de
João: Nunca se apodera da Palavra, João é aquele que indica, que assinala. O
“sentido da vida de João é indicar outro.
Chama a atenção o
fato de que a Igreja escolheu para a festa de São João um período em que os
dias são os mais longos do ano, tem mais luz. E realmente João era o homem da
luz, carregava a luz, mas não tinha luz própria, refletia a luz. João é como
uma lua, e quando Jesus começou a pregar, a luz de João começou a diminuir cada
vez mais. Voz, não Palavra, luz, mas não luz própria.
João parece ser
nada. Essa é a vocação de João, anular-se. E quando contemplamos a vida deste
homem, tão grande, tão poderoso – todos acreditavam que ele era o Messias -,
quando contemplamos essa vida, como se anula até a escuridão de uma prisão,
contemplamos um grande mistério. Nós não sabemos como foram os últimos dias de
João. Não sabemos. Sabemos apenas que ele foi morto, a sua cabeça colocada em
uma bandeja, como grande presente para uma dançarina e uma adúltera. Eu acho
que mais do que isso ele não podia se rebaixar, anular-se. Esse foi o fim de
João.
Na prisão, João
experimentou a dúvida, tinha angústia e chamou os seus discípulos para irem até
Jesus e pedir-lhe: “És Tu, ou devemos esperar outro?”. Existe a escuridão, a
dor da sua vida. Nem mesmo isso foi poupado a João: a figura de João me faz
pensar muito na Igreja.
A Igreja existe
para proclamar, para ser voz de uma Palavra, do seu esposo, que é a Palavra. A
Igreja existe para proclamar esta Palavra até o martírio. Martírio precisamente
nas mãos dos orgulhosos, dos mais soberbos da Terra. João poderia tornar-se importante,
poderia dizer algo sobre si mesmo. Mas eu creio jamais faria isso: indicava,
sentia-se voz, não Palavra. O segredo de João. Porque João é santo e sem
pecado? Porque, ele jamais apresentou uma verdade como sua. Ele não queria ser
um ideólogo. Era o homem que se negou a si mesmo, para que a Palavra se
sobressaísse. E nós, como Igreja, podemos pedir hoje a graça de não nos
tornarmos uma Igreja ideologizada…
A Igreja deve ouvir a Palavra de Jesus e se fazer voz, proclamá-la com coragem. Esta é a Igreja, sem ideologias, sem vida própria: a Igreja que é o “mysterium lunae”, que recebe a luz do seu Esposo e deve diminuir para que Ele cresça.
Este é o modelo
que oferece hoje João para nós e para a Igreja. Uma Igreja que esteja sempre ao
serviço da Palavra. Uma Igreja, que nunca tome nada para si mesma. Hoje na
oração pedimos a graça da alegria, pedimos ao Senhor para animar esta Igreja no
seu serviço à Palavra, de ser a voz desta Palavra, pregar essa Palavra. Vamos
pedir a graça: a dignidade de João, sem ideias próprias, sem um Evangelho
tomado como propriedade, apenas uma Igreja voz que indica a Palavra, e isso até
o martírio. Assim seja!
Papa Francisco - 24 de junho de 2013
Hoje celebramos:
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