No evangelho Jesus
mostra o caminho da verdadeira justiça mediante a lei do amor que supera a do talião,
ou seja, olho por olho, dente por dente. Esta antiga regra impunha que se
infligisse aos transgressores penas equivalentes aos danos causados: a morte a
quem tinha matado, a amputação a quem tinha ferido alguém, e assim por diante.
Jesus não pede aos seus discípulos que suportem o mal, aliás, pede que reajam,
e não com outro mal, mas com o bem. Só assim se interrompe a corrente do mal:
um mal leva a outro mal, outro mal leva a mais outro... Interrompe-se esta
corrente de mal, e as coisas mudam deveras. Com efeito o mal é um “vazio”, um
vazio de bem, e um vazio não se pode encher com outro vazio, mas só com um
“cheio”, ou seja, com o bem. A represália nunca leva à resolução dos conflitos.
“Tu tramaste contra mim, vais pagar”: isto nunca resolve um conflito, nem
sequer é cristão.
Para Jesus, a
rejeição da violência pode exigir também a renúncia a um direito legítimo; e dá
alguns exemplos: apresentar a outra face, ceder a própria veste ou o próprio
dinheiro, aceitar outros sacrifícios. Mas esta renúncia não significa dizer que
as exigências da justiça são ignoradas ou contraditas; não, ao contrário, o
amor cristão, que se manifesta de modo especial na misericórdia, representa uma
realização superior da justiça. Aquilo que Jesus nos quer ensinar é a clara
distinção que devemos fazer entre a justiça e a vingança.
Distinguir entre justiça e vingança. A vingança nunca é justa. É-nos consentido
pedir justiça; é nosso dever praticar a justiça. Ao contrário, é-nos proibido
vingar-nos ou fomentar de qualquer forma a vingança, enquanto expressão do ódio
e da violência.
Jesus não pretende
propor um novo ordenamento civil, mas antes o mandamento do amor ao próximo,
que inclui também o amor aos inimigos: Amai os vossos inimigos e rezai por
aqueles que vos perseguem. E isto não é fácil. Esta palavra não deve ser
interpretada como aprovação do mal praticado pelo inimigo, mas como convite a
uma perspectiva superior, a uma perspectiva magnânima, semelhante à do Pai
celeste, o qual — diz Jesus — faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e
a chuva desça sobre justos e injustos. Com efeito, também o inimigo é uma
pessoa humana, criada como tal à imagem de Deus, mesmo se atualmente esta
imagem é ofuscada por uma conduta indigna.
Quando falamos de
“inimigos” não devemos pensar em sabe-se lá quais pessoas diversas e distantes
de nós; falamos também de nós mesmos, que podemos entrar em conflito com o
nosso próximo, por vezes com os nossos familiares. Quantas inimizades nas
famílias, quantas! Pensemos nisto. Inimigos são também aqueles que falam mal de
nós, que nos caluniam e são injustos conosco. E não é fácil digerir isto. A
todas estas pessoas estamos chamados a responder com o bem, que também ele tem
as suas estratégias, inspiradas pelo amor.
A Virgem Maria nos
ajude a seguir Jesus por este caminho exigente, que exalta deveras a dignidade
humana e nos faz viver como filhos do nosso Pai que está nos céus. Nos ajude a
praticar a paciência, o diálogo, o perdão, e a sermos artífices de comunhão e
artífices de fraternidade na nossa vida diária, sobretudo na nossa família.
Papa Francisco - 19 de fevereiro de 2017
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