“Se alguém me ama, guarda a minha
palavra" (Jo 14,23).
Nestas palavras evangélicas, está apresentado e delineado o perfil espiritual
de Aníbal Maria Di Francia que, o amor ao Senhor, o estimulou a
dedicar a existência inteira ao bem espiritual do próximo. Nesta perspectiva,
ele sentia sobretudo a urgência de realizar este mandato evangélico: "Por
isso, pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara!" (Mt 9,
38).
Aos Padres rogacionistas e às Irmãs Filhas do
Zelo Divino, deixou a tarefa de se empenharem com todas as forças, a fim de que
a oração pelas vocações fosse "incessante e universal". O Padre
Aníbal Maria Di Francia dirige este mesmo convite aos jovens do nosso tempo,
resumindo-o na sua exortação habitual: "Apaixonai-vos por Jesus Cristo!".
Desta intuição providencial nasceu no
interior da Igreja um grande movimento de oração pelas vocações. Formulo votos
de coração para que o exemplo do Padre Aníbal Maria Di Francia oriente e
sustente esta ação pastoral também no tempo presente.
Papa João Paulo II –
Homilia de Canonização – 16 de maio de 2004
Aníbal Maria Di Francia nasceu em Messina
(Itália) aos 5 de julho de 1851. Foram seus pais, a Anna Toscano e o Francisco,
marquês de S. Catarina de Jonio, vice-cônsul pontifício e capitão honorário da
marinha.
Aníbal, terceiro de quatro filhos, ficou
órfão aos 15 meses pela morte prematura do pai. A amarga experiência infundiu-lhe,
uma particular ternura e um especial amor para com os órfãos e crianças
abandonadas que caracterizaram não só a sua vida, mas todo o seu sistema
educativo.
Desenvolveu grande amor a Jesus Sacramentado,
tanto que recebeu autorização - excepcional naquele tempo - de comungar
diariamente. Muito jovem ainda, diante de Jesus Sacramentado solenemente
exposto, recebeu a graça especial que podemos definir como a inteligência
do Rogate (Rogai): “A colheita é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Rogai [Rogate], pois, ao dono da colheita que mande trabalhadores
para a sua colheita” (Mt9, 38; Lc 10, 2). Estas palavras do Evangelho
constituíram a intuição fundamental, o carisma ao qual dedicou toda a sua vida.
Dotado de grande genialidade e notáveis
capacidades literárias, apenas ouviu o chamado do Senhor, respondeu pronta e
generosamente, adaptando os talentos ao seu ministério. Completados os estudos foi
ordenado sacerdote. Alguns meses antes se encontrou providencialmente com um
mendigo quase cego que lhe proporcionou a oportunidade de entrar em contato com
a triste realidade social e moral da periferia mais pobre de Messina, as assim
chamadas Casas Avignone que lhe abriu o caminho daquele imenso amor
para com os pobres e órfãos que se tornou uma característica fundamental de sua
vida. Com o consentimento de seu Bispo
foi morar naquele gueto e empenhou todas as suas energias na redenção daqueles
infelizes, que aos seus olhos se apresentavam com a imagem evangélica das
ovelhas sem pastor. Foi uma experiência marcada por contradições,
incompreensões e dificuldades de todo tipo, que superou com grande fé, vendo
nos humildes e marginalizados o próprio Jesus Cristo realizando aquilo que
definia “espírito de dupla caridade: evangelização
e serviço dos pobres”.
No ano de 1882 tiveram início seus orfanatos
que em seguida colocou sob a proteção de Santo Antônio de Pádua, daí recebendo
o nome de antonianos. Sua preocupação não consistia somente em dar aos órfãos
pão e trabalho, mas, sobretudo em proporcionar-lhes educação integral
especialmente no aspecto moral e religioso, oferecendo aos assistidos um
verdadeiro clima de família que favorecesse o processo formativo de descobrir e
realizar o plano de Deus.
Pelo seu espírito missionário desejava
abraçar todos os órfãos e pobres do mundo. Mas o que fazer? A palavra Rogate abria-lhe
esta possibilidade. Por isso escreveu: “O
que é este punhado de órfãos que são evangelizados diante de milhões que se
perdem e são abandonados como rebanho sem pastor? Eu procurava uma saída ampla,
imensa e a encontrei nas adoráveis palavras de N. S. Jesus Cristo: Rogate
ergo... e então me pareceu ter encontrado o segredo de todas as boas obras e da
salvação de todos os homens”.
Aníbal tinha intuído que o Rogate não era uma
simples recomendação do Senhor, mas um comando explicito e um “remédio
infalível”. Razão pela qual seu carisma deve ser considerado princípio animador
de uma providencial fundação na Igreja. Outro aspecto a se destacar é que ele
antecede o tempo ao considerar como vocações também os leigos engajados, pais,
professores e até os bons governantes.
Para realizar na Igreja e no mundo seus
ideais apostólicos, fundou duas novas famílias religiosas: em 1887 a Congregação das Filhas do Divino Zelo
e, dez anos mais tarde, a dos Rogacionistas.
Quis que os membros dos dois Institutos,
aprovados canonicamente aos 6 de agosto de 1926, se empenhassem a viver o Rogate com um quarto voto. Assim o
Di Francia escreveu numa suplica de 1909 a S. Pio X: “Dediquei-me desde a minha juventude à santa palavra do
Evangelho: Rogate ergo. Nos meus mínimos Institutos de beneficência
se eleva oração incessante e cotidiana dos órfãos, dos pobres, dos sacerdotes e
virgens consagradas, com as quais se suplicam aos Corações Santíssimos de Jesus
e Maria, ao Patriarca São José e aos Santos Apóstolos para que queiram prover
abundantemente a Santa Igreja de sacerdotes eleitos e santos, de evangélicos
operários da mística messe das almas”.
Para difundir a oração pelas orações promoveu
numerosas iniciativas, correspondia-se e teve encontros pessoais com os Sumos
Pontífices de seu tempo, instituiu a Sagrada Aliança para o clero e
a Pia União da Rogação Evangélica para todos os fiéis. Fundou o
jornal com o significativo título “Deus e o Próximo” para envolver os fiéis na
vivência dos mesmos ideais.
“É toda
a Igreja - escreve - que oficialmente deve rezar para esta intenção, pois a
missão da oração para obter bons operários é tal que deve interessar vivamente
os bispos, os pastores do místico rebanho, aos quais são confiadas as almas e
são hoje os apóstolos de Jesus Cristo”. O Dia Mundial de oração pelas vocações,
instituído por Paulo VI em 1964, pode considerar-se a resposta da Igreja à esta
sua intuição.
Teve grandíssimo amor ao sacerdócio, convicto
de que somente mediante a ação de numerosos e santos sacerdotes é possível
salvar a humanidade. Empenhou-se fortemente na formação espiritual dos
seminaristas que o Arcebispo de Messina confiou a seus cuidados. Com frequência
repetia que sem uma sólida formação espiritual, sem oração, «toda fadiga dos
bispos e reitores de seminários se reduz geralmente a um cultivo artificial de
padres...». Sua caridade, definida sem cálculos e sem limites, manifestou-se
com conotações particulares mesmo para com sacerdotes em dificuldade e irmãs de
clausura.
Durante sua vida terrena já se manifestava
clara e genuína fama de santidade observável em todos os níveis, de tal modo
que, - quando a 1 de junho 1927 morria santamente em Messina, confortado pela
presença de Nossa Senhora que muito amara ao longo de sua existência, o povo
repetia: “vamos ver o santo que dorme”.
A santidade e missão de Padre Aníbal
declarado “insigne apóstolo da oração
pelas vocações” são experimentadas hoje profundamente por todos que estão
compenetrados das necessidades vocacionais da Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário