Era o dia oito de junho de 1899. Em Roma, o Santo Padre Leão
XIII iniciava com toda pompa o tríduo preparatório para a consagração do mundo
ao Sagrado Coração de Jesus. Nesse mesmo dia, expirava na cidade do Porto, após
três anos de atrozes sofrimentos, uma humilde religiosa que fora o principal
instrumento da Divina Providência para tornar realidade esse ato de
transcendental importância para a humanidade: a Beata Maria do Divino Coração,
da Congregação da Caridade do Bom Pastor.
No dia 1º de novembro de 1975, Maria Droste Zu
Vischering, que mudou seu nome para Irmã Maria do Divino Coração, era
beatificada por Paulo VI.
A beatificação da Irmã Maria do Divino Coração, da
Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, alemã por nascimento e
portuguesa de coração, tem para Portugal especial significado. Ela dedicou a
Portugal, por chamamento divino, o melhor da sua curta vida.
Filha dos Condes Droste Zu Vischering, nasceu em Münster, na
Vestefália (Alemanha), a 8 de setembro de 1863. Passou a infância no Castelo de
Darfeld, não longe daquela cidade, no seio duma família profundamente
cristã.
Maria bebeu a devoção ao Sagrado Coração de Jesus com o leite
materno. Já seus pais a viviam intensamente e souberam-na comunicar aos seus
filhos e familiares. Foi numa vida de felicidade, de pureza e de austeridade
que ela se preparou para a mais intima e mística união esponsal com o Coração
de Jesus. «Desde a mais tenra idade,
escreve ela, senti a dita de ser filha da Santa Igreja».
No Natal de 1883, consagra-se a Deus pelo voto de castidade
perpétua. E Ele apodera-se dela e marca-lhe a consagração com o sinal da cruz,
fazendo-a passar por dilatada e penosa doença. Com o espírito embalado por
longo tempo em sonhos de heroísmo missionário, no dia 1 de julho de 1888,
esperando na igreja paroquial a sua vez de se confessar, ouve subitamente a voz
do Senhor: «Tens de entrar no
convento do Bom Pastor».
Uma tarde, passeando meditativamente pelas alamedas do jardim
do seu solar, «senti vivamente, escreveu
ela, que o Senhor me dizia que teria de sofrer muito por Ele. Jesus
falou-me dos momentos por que passava, vendo-se abandonado de todos, e pediu-me
Lhe fizesse companhia. Disse-me que O aflige, sobretudo, o abandono de muitos
sacerdotes...».
A 10 de janeiro de 1889 toma o hábito religioso no convento
de Münster, no mesmo dia em que, no Carmelo de Lisieux, Teresa do
Menino Jesus recebeu o dela. Professou a 29 de janeiro de
1891.
Em 1894, após três anos de dedicação ao apostolado das
penitentes, próprio do seu Instituto, é enviada a Portugal. Depois de três
meses passados em Lisboa, chega ao Porto como Superiora do Recolhimento do
Bom Pastor na Rua de Vale Formoso (Paranhos), a 17 de maio de 1894.
De lá escreve ela, pouco depois: «Vivemos numa situação angustiosa. A casa está em ruínas, devorada por
dívidas que nos sufocam. Vejo, porém, e sinto que Deus está comigo, e assim
cresce, cada dia mais, a minha coragem, embora por vezes isto seja difícil de
suportar... Só temos em caixa cinco ou
seis marcos, e temos de alimentar 120 pessoas... Sinto-me tão portuguesa, que
não me importo com tanto desconforto, tanto frio e tanta humildade...».
E a sua tenacidade, aliada a uma absoluta confiança no
Coração de Jesus, realiza o milagre de transformar aquela casa e a comunidade
em ruínas num florescente jardim de Deus.
A 21 de maio de 1896 cai de cama, esgotada de trabalho, para nunca mais se levantar: uma ostiomielite a paralisa e martiriza com dores atrozes constantes. É nesta longa, heroica crucifixão, que a Irmã Maria se imola pelos pecadores, pelos sacerdotes, pela Igreja, por Portugal.
A 21 de maio de 1896 cai de cama, esgotada de trabalho, para nunca mais se levantar: uma ostiomielite a paralisa e martiriza com dores atrozes constantes. É nesta longa, heroica crucifixão, que a Irmã Maria se imola pelos pecadores, pelos sacerdotes, pela Igreja, por Portugal.
«Muitas
vezes na minha doença, quando sentia ardentes desejos de morrer, Nosso Senhor,
duma imagem dos Passos me dizia: "Então queres que Eu leve sozinho a cruz
de Portugal?"» (Carta de 1896).
O sinal da autenticidade da sua missão divina é precisamente
o recrudescer dos seus padecimentos. E quando pela terceira vez o Coração
Divino se dirige à Irmã Maria a pedir a intervenção dela junto de Leão XIII,
pergunta-lhe ainda «se estava disposta a suportar toda a espécie de
sofrimentos, humilhações e desprezos».
Às 3 horas da tarde do dia 8 de junho de 1899, ao hino das
primeiras vésperas da Festa do Coração de Jesus, quando por todo o mundo
católico se fazia o tríduo solene de preparação para a consagração ao mesmo
Divino Coração, ela consumava o seu sacrifício.
No dia
11, o Papa Leão XIII realizava aquilo que ele mesmo declarou ser o «ato
mais grandioso do seu pontificado», a consagração do mundo inteiro ao
Sagrado Coração de Jesus. Este ato foi-lhe pedido por Cristo. A mensageira
transmissora da mensagem de Cristo foi a Irmã Maria do Divino Coração.
As suas venerandas relíquias repousam em Ermesinde, na Igreja
do Coração de Jesus, ereta pelas suas filhas. Na primeira sexta-feira de julho
(ou agosto) de 1897, recebeu ela ordem do Senhor: «Deves erigir-Me aqui um lugar de reparação, e Eu erigirei nele um
lugar de graças. Depois disse-me que queria que esta igreja fosse sobretudo um
lugar de reparação pelos sacrilégios, e para atrair graças e bênçãos sobre o
clero».
A construção deste templo foi uma das suas últimas
preocupações. Ela mesma, no seu leito de dor, mal podendo segurar um lápis
entre os dedos, traçou as linhas arquitetônicas. Não quis o Senhor dar-lhe em
vida a alegria de ver realizado o seu sonho. Realizaram-no as suas filhas em
Ermesinde.
Diante da Hóstia consagrada em constante exposição, almas
rezam em adoração reparadora. O lugar de reparação está ereto. A
palavra do Senhor não falhará!
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