Nobres,
eclesiásticos e funcionários da corte de Henrique VIII, rei da Inglaterra,
foram decapitados porque se opunham ao seu divórcio e a sua consequente
separação da Igreja de Roma. Alguns deles tiveram sua morte reconhecida como
autêntico martírio e foram elevados à honra dos altares. A perseguição não
poupou a sobrinha dos reis Eduardo IV e Ricardo III da Inglaterra, Margarida,
filha do Duque de Clarence, irmão daqueles monarcas, e de Isabel Neville, a
filha de Ricardo Neville, Conde de Warwick.
Margarida nasceu em
14 de agosto de 1471, no Castelo de Farleigh, em Somerset (Inglaterra), e
cresceu na corte, junto com os filhos de Eduardo IV, porque seus pais haviam
falecido quando ela tinha poucos anos de vida. Margaret, por parte de seu avô
paterno, Ricardo de York, era herdeira da Casa de York, a principal Casa Real
que ainda conseguia ofuscar a Casa dos Tudor.
Aos 18 anos,
conforme o costume da época, desposaram-na com Sir Reginaldo Pole de
Buckinghamshire, que havia prestado grandes serviços ao rei na campanha da
Escócia e em outros empreendimentos militares. Reginaldo faleceu 12 anos
depois, deixando-a viúva com cinco filhos. Uma família para cuidar no meio de
dificuldades econômicas, porque sua família tivera todas as propriedades e
títulos nobiliárquicos confiscados.
Devia ser um modelo
de esposa, mãe e viúva, devota e piedosa, pois Henrique VIII, subindo ao trono
em 1509, quando ela já era viúva, considerava-a “a mulher mais santa da
Inglaterra”. Era tão grande a estima que ele nutria por ela, que restituiu
todos os bens que tinham sido confiscados, reintegrou-a a todos os direitos da
sua família, criou-a Condessa de Salisbury e, quando sua filha Maria Tudor
nasceu, confiou a Margarida a educação da princesa.
A sua reabilitação,
entretanto, foi tão rápida quanto a sua queda na desgraça. A Condessa Margarida
não se deixou seduzir pelas boas graças do rei e não aprovou seu casamento com
Ana Bolena após ter se divorciado da esposa legítima. Sua reprovação é tão
decisiva e pública, que atraiu a ira do rei que, como primeira reação a
exonerou do cargo de governanta da princesa e a obrigou a deixar a corte. Este
procedimento continuou após a queda de Ana Bolena, que foi decapitada.
Além disso,
Margaret cometia o “grave erro” de ser católica. Um de seus filhos,
Reginaldo Pole, havia mesmo se tornado um clérigo eminente da Igreja Católica.
Quando se recusou a conceder ao rei o direito de se divorciar de sua esposa,
Catarina de Aragão, atacando a política do rei, Reginaldo atraiu para si e sua
família a ira do monarca, principalmente ao redigir um tratado a favor da
unidade da Igreja e contra a supremacia do rei.
Quando Sir Henry
Neville se levantou em armas no norte, o rei enviou alguns emissários para
interrogar Margarida, com a esperança de envolvê-la na conspiração, ela, porém,
sujeita a um extenuante interrogatório durante um dia inteiro, enfrentou seus
opositores com sua habilidade intelectual e sobretudo com a sua dignidade e
elevação moral que todos reconheciam. Apesar de sua hábil defesa,
Margarida foi aprisionada, primeiro na casa de Lord Southampton, em Cowdray, e
depois na Torre de Londres. Ali sofreu muito durante o inverno, já que não
tinha roupas suficientes e não podia acender fogo, e passou fome também.
Como não existiam
provas para condená-la em um julgamento legal, Henrique VIII obrigou o
Parlamento a declará-la culpada de alta traição e condenaram-na à morte por
decapitação.
No dia 28 de maio
de 1541, Margarida foi conduzida ao pátio da Torre para ser decapitada. Lord
Herbert conta que ela se negou a ajoelhar-se e a reclinar a cabeça no tronco,
porque não se considerava culpada de traição. O verdugo, que carecia de prática
no ofício, errou várias vezes o golpe. Segundo o relato do embaixador francês,
Margarida não se negou a ajoelhar-se, porém o carrasco principal estava ausente
e o substituto manejou o machado com suma torpeza. Margarida morreu aos setenta
anos de idade.
A 2 de fevereiro de
1886, Leão XIII proclamou beata Margarida Pole, a condessa que não teve medo de
se opor ao rei, ainda que isso lhe custasse a vida.
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