Hoje queremos venerar de
modo especial àqueles que tomaram parte na morte de Cristo e sua ressurreição.
Eles ofereceram a Cristo suas vidas, e suas vidas lhes foram devolvidas por
Cristo através de sua ressurreição. O solene rito de beatificação de Isidoro
Bakanja, Gianna Beretta Molla e Isabella Canori Mora tem em particular a eloquência
de uma fé heroica e solicitude heroica. A fé heroica testemunha a verdade que é
Cristo. A solicitude faz heroico testemunho ao amor que não se coíbe de
qualquer sacrifício. Este é o amor com que Cristo nos amou.
Isabella Canori Mora, por sua
vez, no meio de muitas dificuldades conjugais demonstrou um compromisso total com a fidelidade feita
pelo sacramento do matrimonio e as responsabilidades dela decorrentes.
Constante na oração e dedicação heroica para a família, ela foi capaz de
dar-lhes filhas cristãs e obteve a conversão de seu marido.
Apontando para as duas
mulheres como modelos de perfeição cristã, queremos prestar homenagem a todas
as mães corajosas, que se dedicam a sua própria família, sem reservas, que
sofrem ao dar à luz a seus filhos, e estão prontas para fazer qualquer esforço,
para enfrentar qualquer sacrificar, para transmitir-lhes o melhor que guardam
em si mesmas.
A maternidade pode ser uma
fonte de alegria, mas pode tornar-se ainda uma fonte de sofrimento, e às vezes
grandes decepções. Mais uma vez, o amor se torna um teste, muitas vezes heroico,
que custa tanto para o coração de uma mãe. Hoje veneramos não só essas duas
mulheres notáveis, mas também aquelas que não poupam esforços para educar seus
filhos.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 24 de abril de 1994
Pense por um minuto nas
pessoas que vivem ao teu redor. Poderia chamar algum deles de santo? Houve um
bairro na Itália onde efetivamente uma santa vivia na casa contígua. A beata
Isabella Canori Mora que levou sua vida de mãe e esposa à plena conformação com
Cristo no cotidiano e na adversidade de ter um marido que a maltratava.
Nasceu em Roma em 21 de novembro de 1774. Filha de
Tommaso e Teresa Primoli, no seio de uma família de posição acomodada,
profundamente cristã e diligente na educação de seus filhos.
Estudou com as Irmãs Agostinianas de Cascia (1785-88),
onde se destacou por sua inteligência, uma profunda vida interior e seu
espírito de penitência. De volta a Roma, teve uma vida tranquila até que em
1796 - quando tinha 21 anos - se casou com o jovem advogado romano Cristóforo
Mora.
Para ela, o matrimônio foi uma decisão refletida, madura,
mas depois de alguns meses, a fragilidade psicológica de Cristóforo comprometeu
a serenidade da família. Transformou uma mulher de mal viver em sua amante e a
medida em que passava o tempo, humilhou e abusou de sua esposa de diferentes
formas, não exerceu mais a advocacia, e gastou tanto dinheiro em suas aventuras
que terminou levando a sua esposa e filhas à extrema pobreza e uma crescente
dívida.
À violência física e psicológica de seu esposo, Isabella
respondeu sempre com a absoluta fidelidade. Nunca pôs desculpas, conveniências
ou interesses para justificar um abandono de seu lar, para ela só primava o
código de fidelidade de amor de rendição total.
Isabella tratou seu marido com paciência gentil, oferecendo
penitências e orações por sua conversão. Nunca pensou em separar-se dele,
apesar dos conselhos de familiares e amigos. Em vez disto, sempre amou, apoiou
e perdoou a seu esposo esperando sua conversão.
Em 1801 sofreu uma misteriosa doença que a deixou à beira
da morte. Curou-se de forma inexplicável e teve sua primeira experiência
mística.
Esta é uma vidente italiana das tribulações dos últimos
tempos da Igreja, que foi favorecida com os dons da visão e da profecia.
O Senhor a fez alcançar a maturidade para receber as
visões e as ilustrações sobre o destino da Igreja. Recebeu em forma clara os
estigmas da paixão de Cristo, e em suas visões viu tremendas batalhas que terá
que sustentar a Igreja nos últimos tempos sob o poder das trevas.
Teve quatro filhos, mas os dois primeiros morreram poucos
dias depois de nascer. Com o abandono do marido, foi forçada a viver
trabalhando com suas próprias mãos para seguir ao cuidado de suas filhas
Marianna e Luciana. Dedicou muito tempo à oração, aos pobres e aos doentes.
Seu lar logo converteu-se em um ponto de referência para
muita gente em busca de ajuda material e espiritual. Dedicou-se especialmente a
cuidar das famílias em necessidade. Para ela, a família implicava dar um espaço
a cada pessoa, um lugar que dê frutos de vida, fé, solidariedade e
responsabilidade.
A família, para ela, era o templo em que recebia ao
"amado Senhor, Jesus de Nazaré" e a todos os que se dirigiam a ela.
Através da autonegação, Isabella oferecia sua vida pela paz e a santidade da
Igreja, a conversão de seu marido e a salvação dos pecadores.
Em 1807 Isabella uniu-se à Ordem terciária Trinitária.
Respondeu com dedicação à vocação ao matrimônio e a consagração secular. Suas
admiráveis virtudes humanas e cristãs assim como a fama de sua santidade difundiram-se
através de Roma, Albano e Marino, onde ganhou fama de santidade.
Em 5 de fevereiro de 1825, enquanto era assistida por
suas duas filhas, Isabella faleceu. Foi enterrada em Roma na igreja Trinitária
de São Carlino alle Quattro Fontane. Pouco depois de sua morte, como ela mesma
predisse, seu marido se converteu unindo-se à Ordem terciária Trinitária e
depois ordenou-se sacerdote dos franciscanos conventuais. Morreu em 9 de
setembro de 1845 e foi enterrado na igreja dos franciscanos conventuais de Sezze.
Foi beatificada junto com o jovem mártir Zaire Isidore
Bakanja, e outra mãe italiana santa, Gianna Beretta Molla, pelo papa João Paulo
II em 24 de abril de 1994, no Ano Mundial da Família.
Algumas
visões de Isabella Canori
Em uma visão de 25 de março de 1816 viu:
"Aos miseráveis que
cada dia com maior orgulho e desfaçatez, de palavra e de obra, com
incredulidade e apostasia, vão pisoteando a santa religião e a lei divina.
Servem-se de palavras da Sagrada Escritura e do Evangelho, corrompendo seu
verdadeiro sentido para respaldar, assim suas perversas intenções e seus
princípios destorcidos".
Em 15 de outubro de 1818 teve outra visão terrível:
"De repente, disse, lhe
foi mostrado o mundo. O via todo um revolução, sem ordem nem justiça. Os sete
vícios capitais (soberba, luxúria, ira, inveja, preguiça, avareza e gula) eram
levados ao triunfo, e por todas as partes via-se reinar a injustiça, a fraude,
a libertinagem e toda classe de iniquidades. Viu também Sacerdotes desprezando
a Santa Lei de deus e como cobria o Céu de nuvens negras; levantava-se um
tremendo furacão e no maior desconcerto os homens se matavam uns aos outros. Em
castigo dos soberbos que com ímpia presunção tentavam demolir a Igreja desde os
alicerces, permitia Deus aos poderes das trevas abandonar os abismos do
inferno..."
O triunfo da Igreja
Em 1821 ouviu ao Senhor falar do triunfo da Igreja, pois
esta sairia renovada daquelas tormentas, incendiada no primitivo zelo da Glória
de Deus e que seria recordada universalmente pelo povos.
Virá a reforma da Igreja..."e a restauração de todas
as coisas não se verificará sem um profundo transtorno de todo o mundo, de
todas os povos".
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