sábado, 15 de abril de 2017

15 de abril - São Damião de Molokai

"Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão"  Quantas vezes cantamos esses versos e hoje o cantamos recordando a vida desse santo tão especial que entregou sua vida para a salvação de milhares de leproso.
Peçamos a intercessão dele, para que nos ensine a amar, rezando:

São Damião, irmão de jornada,
missionário feliz e generoso,
que amou o Evangelho mais do que a sua 
própria vida,
que por amor de Jesus deixou sua família, sua pátria,
sua segurança e seus sonhos,
Ensina-nos a dar nossas vidas
com alegria semelhante à tua
para estar solidários com os esquecidos do mundo,
para celebrar e contemplar a Eucaristia
como a fonte do nosso compromisso.
Ajude-nos a amar até as últimas consequências
e, pela força do Espírito Santo, perseverar 
na compaixão
Assim poderemos ser
bons discípulos de Jesus e Maria.
                                                              Amém.

Joseph de Veuser nasceu na Bélgica, em 1840. Penúltimo de oito filhos de uma família muito católica, sentiu desde muito cedo o chamado à vocação religiosa. Duas de suas irmãs eram religiosas da Congregação de Santa Úrsula, e seu irmão mais velho havia ingressado na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e da Adoração ao Santíssimo Sacramento do Altar com o desejo ardente de ser sacerdote missionário. Impulsionado pelo mesmo ardor, Joseph é admitido na mesma congregação de seu irmão, e toma o nome religioso de Damião, em honra a São Damião, médico e mártir do ano 300.

Tudo começou quando os superiores da ordem decidiram enviar o irmão de Damião para ser missionário no Havaí. Contudo, ele não pôde ir, pois havia ficado muito doente. Mesmo ainda não sendo sacerdote, Damião se candidatou para viajar no lugar do irmão e foi aceito. Chegou em Honolulu em 1864 e foi ordenado sacerdote no mesmo ano. Sobre sua ordenação, Damião escreveu a um superior: “Como eu tremia ao subir pela primeira vez ao altar; como estava emocionado meu coração ao dizer pela primeira vez ao Verbo que descesse às minhas mãos.”

Por nove anos, Padre Damião exerceu o ministério em terras havaianas até que, em 1873, o superior geral de sua Congregação pede que alguns sacerdotes se revezassem em turnos de três meses para atender os habitantes da ilha de Molokai, um lugar de quarentena para os portadores da lepra, doença terrível e incurável na época.
Damião foi o primeiro a ir. Ouviu a mesma recomendação dos médicos e religiosos: “Não toque nos doentes e volte em três meses.”
Contudo, assim que chegou à ilha e viu a realidade daquelas pessoas, o sofrimento que padeciam, sentiu compaixão e resolveu não abandoná-las jamais. Assim, volta a Honolulu e solicita ao bispo sua permanência em Molokai.

Escreveu Damião a um religioso: “Tendo já passado sob o pano mortuário no dia de meus votos, acreditei ser meu dever oferecer-me ao bispo, que não teve a crueldade, como ele dizia, de ordenar tal sacrifício”. Seu sacrifício de amor foi aceito, e ele foi nomeado pároco de Molokai.

Na ilha, apesar de tantas dificuldades, Padre Damião dedicou todo o seu tempo a aliviar os sofrimentos físicos e espirituais daqueles doentes. As dificuldades eram as mais diversas: problemas com o governo e com as famílias que não mandavam o necessário para os doentes (tudo faltava, até o mais básico); uma igreja em ruínas que ele reconstruiu com suas próprias mãos; problemas morais dos doentes que, no desespero, entregavam-se ao álcool e à depravação sexual.

Contudo, para Padre Damião, a maior dificuldade era não conseguir se confessar com frequência, já que nos cinco primeiros anos o isolamento da colônia de leprosos era total, por ordem do governo. O próprio bispo foi até a ilha para ouvir a confissão de Damião, mas foi impedido de desembarcar, limitando-se a ouvir do navio os pecados do penitente que se aproximava em uma canoa; tudo em voz alta, já que Damião estava proibido de subir a bordo devido a seu contato com os doentes.

Embora soubesse o risco que corria, Damião não deixava de se aproximar dos leprosos, muitas vezes acolhendo em seus braços e segurando as suas mãos na hora da morte. O próprio padre cavava os túmulos e proporcionava um enterro digno a todos. Teve de se habituar a fumar cachimbo, pois só assim conseguia suportar o cheiro forte e podre que exalava das feridas dos doentes.
Ao superior geral da congregação, o Pe. Damião escreveu em agosto de 1873:
 “eis-me aqui, reverendíssimo padre, em meio a meus queridos leprosos. São muito hediondos de ver, porém têm uma alma resgatada pelo preço do sangue adorável de nosso divino Salvador. Ele também, em Seu divino amor, consolou os leprosos. Se eu não os posso curar como Ele, ao menos os posso consolar, e pelo santo ministério que Sua bondade me confiou espero que muitos entre eles, purificados da lepra da alma, apresentem-se ao Seu tribunal em estado de entrar na sociedade dos bem-aventurados”.

Diz também que “acabo de fazer um pedido ao Bipo para ampliar a capela. O odor infecto que emana de seus corpos e de suas feridas exigiria uma igreja grande para tornar o culto menos penoso. Algumas vezes me era difícil resistir durante a santa missa e no sermão. É como o ‘já cheira mal’ de São Lázaro. Enfim: Nosso Senhor suportou isso, e eu também o posso. Oxalá pudesse conseguir, por esse sacrifício, a ressurreição espiritual dos que, entre eles, ainda não saíram da tumba do pecado para viver a vida de graça que o bom Deus a eles oferece todos os dias”.

A maioria dos habitantes de Molokai correspondeu ao amor e entrega de Padre Damião. Muitos se converteram e receberam o batismo, abandonaram vícios, começaram a frequentar a Santa Missa. Pe. Damião pediu aos doentes mais fortes que ajudassem os mais fracos, aliviando, assim, a dor de ambos. Os primeiros eram aliviados por dar amor, e os outros eram aliviados por receber amor.
Depois de anos de intenso trabalho, Padre Damião descobre que havia perdido a sensibilidade nos pés, um sinal de que havia contraído a lepra. Torna-se leproso com os leprosos, seus irmãos de Molokai.
Aos familiares, diz que “trato de levar minha cruz com alegria, como Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Ao seu superior provincial, o Padre Damião faz um pedido: “pois bem, meu reverendo padre, já não tenho dúvidas, sou leproso; que o bom Deus seja bendito! Não tenha muita pena de mim, pois estou perfeitamente resignado com minha sorte. Não peço mais que uma graça: suplicai a nosso Muito Reverendo Padre que envie algum sacerdote que possa uma vez ao mês descer até nossa tumba para confessar-me e, no restante do tempo, ocupar-se das capelas do outro lado da ilha, onde não há doentes”.

Contudo, os sacerdotes não chegavam e Padre Damião e mais uma vez encontrou dificuldade para se confessar. A sua maior dor era imaginar que também poderia ficar sem a eucaristia. Escreveu a um padre amigo: “a terrível doença, cujo começo conheceis, faz progressos espantosos e ameaça impedir-me, talvez logo, de celebrar a Santa Missa e, não tendo outro sacerdote, eu me veria privado da santa comunhão e do santo sacramento. Tal privação é a que mais me custará e que tornará insuportável minha situação. Não é a doença e os sofrimentos o que me desencoraja; longe disso. Até aqui me sinto feliz e contente e, se me fosse dada a oportunidade de sair daqui em boa saúde, diria sem titubear: fico com meus leprosos.”

Depois de ter seu pedido várias vezes negado, Padre Damião finalmente consegue permissão para ir a Honolulu e se confessar. Ali também sofre humilhações de um pastor protestante, que o acusou de comportamento impróprio, baseado na crença popular daquela época de que a lepra era uma doença transmitida sexualmente. Apesar das dificuldades, consegue encontrar-se com a família real. Em setembro de 1881 a princesa havaiana Lydia Liliuokalani visita os leprosos em Molokai, e fica tão comovida com a miserável situação em que se encontravam e com a extrema dedicação do sacerdote missionário que não conseguiu pronunciar o discurso que havia preparado. Ela providenciou alimentos, remédios e intercedeu para que fossem enviados sacerdotes e religiosas para Molokai. Foram enviados, enfim, um sacerdote e seis religiosas à ilha.
Padre Damião continuou ministrando sacramentos, trabalhando e confortando doentes enquanto fora possível. Por fim, sente que sua missão neste mundo já estava completa. No início de 1889, Padre Damião conta a seus amigos que a vontade de Deus era que ele passasse a próxima Páscoa não em Molokai, mas no céu. Ele morreu em decorrência da lepra durante a Semana Santa, em 15 de abril de 1889.



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