Peçamos a intercessão dele, para que nos ensine a amar, rezando:
São Damião, irmão de jornada,
missionário feliz e generoso,
que amou o Evangelho mais do que a sua
própria vida,
que por amor de Jesus deixou sua família, sua pátria,
sua segurança e seus sonhos,
Ensina-nos a dar nossas vidas
com alegria semelhante à tua
para estar solidários com os esquecidos do mundo,
para celebrar e contemplar a Eucaristia
como a fonte do nosso compromisso.
Ajude-nos a amar até as últimas consequências
e, pela força do Espírito Santo, perseverar
na compaixão
Assim poderemos ser
bons discípulos de Jesus e Maria.
Amém.
Tudo começou quando os
superiores da ordem decidiram enviar o irmão de Damião para ser missionário no
Havaí. Contudo, ele não pôde ir, pois havia ficado muito doente. Mesmo ainda
não sendo sacerdote, Damião se candidatou para viajar no lugar do irmão e foi
aceito. Chegou em Honolulu em 1864 e foi ordenado sacerdote no mesmo ano. Sobre
sua ordenação, Damião escreveu a um superior: “Como eu tremia ao subir pela
primeira vez ao altar; como estava emocionado meu coração ao dizer pela
primeira vez ao Verbo que descesse às minhas mãos.”
Por nove anos, Padre Damião
exerceu o ministério em terras havaianas até que, em 1873, o superior geral de
sua Congregação pede que alguns sacerdotes se revezassem em turnos de três
meses para atender os habitantes da ilha de Molokai, um lugar de quarentena
para os portadores da lepra, doença terrível e incurável na época.
Damião foi o primeiro a ir.
Ouviu a mesma recomendação dos médicos e religiosos: “Não toque nos doentes
e volte em três meses.”
Contudo, assim que chegou à
ilha e viu a realidade daquelas pessoas, o sofrimento que padeciam, sentiu
compaixão e resolveu não abandoná-las jamais. Assim, volta a Honolulu e
solicita ao bispo sua permanência em Molokai.
Escreveu Damião a um
religioso: “Tendo já passado sob o pano mortuário no dia de meus votos,
acreditei ser meu dever oferecer-me ao bispo, que não teve a crueldade, como
ele dizia, de ordenar tal sacrifício”. Seu sacrifício de amor foi aceito, e
ele foi nomeado pároco de Molokai.
Na ilha, apesar de tantas
dificuldades, Padre Damião dedicou todo o seu tempo a aliviar os sofrimentos
físicos e espirituais daqueles doentes. As dificuldades eram as mais diversas:
problemas com o governo e com as famílias que não mandavam o necessário para os
doentes (tudo faltava, até o mais básico); uma igreja em ruínas que ele
reconstruiu com suas próprias mãos; problemas morais dos doentes que, no
desespero, entregavam-se ao álcool e à depravação sexual.
Contudo, para Padre Damião,
a maior dificuldade era não conseguir se confessar com frequência, já que nos
cinco primeiros anos o isolamento da colônia de leprosos era total, por ordem
do governo. O próprio bispo foi até a ilha para ouvir a confissão de Damião, mas
foi impedido de desembarcar, limitando-se a ouvir do navio os pecados do
penitente que se aproximava em uma canoa; tudo em voz alta, já que Damião
estava proibido de subir a bordo devido a seu contato com os doentes.
Embora soubesse o risco que
corria, Damião não deixava de se aproximar dos leprosos, muitas vezes acolhendo
em seus braços e segurando as suas mãos na hora da morte. O próprio padre
cavava os túmulos e proporcionava um enterro digno a todos. Teve de se habituar
a fumar cachimbo, pois só assim conseguia suportar o cheiro forte e podre que
exalava das feridas dos doentes.
Ao superior geral da
congregação, o Pe. Damião escreveu em agosto de 1873:
“eis-me aqui, reverendíssimo padre, em meio a meus queridos
leprosos. São muito hediondos de ver, porém têm uma alma resgatada pelo preço
do sangue adorável de nosso divino Salvador. Ele também, em Seu divino amor,
consolou os leprosos. Se eu não os posso curar como Ele, ao menos os posso
consolar, e pelo santo ministério que Sua bondade me confiou espero que muitos
entre eles, purificados da lepra da alma, apresentem-se ao Seu tribunal em
estado de entrar na sociedade dos bem-aventurados”.
Diz também que “acabo de
fazer um pedido ao Bipo para ampliar a capela. O odor infecto que emana de seus
corpos e de suas feridas exigiria uma igreja grande para tornar o culto menos
penoso. Algumas vezes me era difícil resistir durante a santa missa e no
sermão. É como o ‘já cheira mal’ de São Lázaro. Enfim: Nosso Senhor suportou
isso, e eu também o posso. Oxalá pudesse conseguir, por esse sacrifício, a
ressurreição espiritual dos que, entre eles, ainda não saíram da tumba do
pecado para viver a vida de graça que o bom Deus a eles oferece todos os dias”.
A maioria dos habitantes de
Molokai correspondeu ao amor e entrega de Padre Damião. Muitos se converteram e
receberam o batismo, abandonaram vícios, começaram a frequentar a Santa Missa.
Pe. Damião pediu aos doentes mais fortes que ajudassem os mais fracos,
aliviando, assim, a dor de ambos. Os primeiros eram aliviados por dar amor, e
os outros eram aliviados por receber amor.
Depois de anos de intenso
trabalho, Padre Damião descobre que havia perdido a sensibilidade nos pés, um
sinal de que havia contraído a lepra. Torna-se leproso com os leprosos, seus
irmãos de Molokai.
Aos familiares, diz que “trato
de levar minha cruz com alegria, como Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Ao seu superior provincial,
o Padre Damião faz um pedido: “pois bem, meu reverendo padre, já não tenho
dúvidas, sou leproso; que o bom Deus seja bendito! Não tenha muita pena de mim,
pois estou perfeitamente resignado com minha sorte. Não peço mais que uma
graça: suplicai a nosso Muito Reverendo Padre que envie algum sacerdote que
possa uma vez ao mês descer até nossa tumba para confessar-me e, no restante do
tempo, ocupar-se das capelas do outro lado da ilha, onde não há doentes”.
Contudo, os sacerdotes não
chegavam e Padre Damião e mais uma vez encontrou dificuldade para se confessar.
A sua maior dor era imaginar que também poderia ficar sem a eucaristia. Escreveu
a um padre amigo: “a terrível doença, cujo começo conheceis, faz progressos
espantosos e ameaça impedir-me, talvez logo, de celebrar a Santa Missa e, não
tendo outro sacerdote, eu me veria privado da santa comunhão e do santo
sacramento. Tal privação é a que mais me custará e que tornará insuportável
minha situação. Não é a doença e os sofrimentos o que me desencoraja; longe
disso. Até aqui me sinto feliz e contente e, se me fosse dada a oportunidade de
sair daqui em boa saúde, diria sem titubear: fico com meus leprosos.”
Depois de ter seu pedido
várias vezes negado, Padre Damião finalmente consegue permissão para ir a
Honolulu e se confessar. Ali também sofre humilhações de um pastor protestante,
que o acusou de comportamento impróprio, baseado na crença popular daquela
época de que a lepra era uma doença transmitida sexualmente. Apesar das
dificuldades, consegue encontrar-se com a família real. Em setembro de 1881 a
princesa havaiana Lydia Liliuokalani visita os leprosos em Molokai, e fica tão
comovida com a miserável situação em que se encontravam e com a extrema
dedicação do sacerdote missionário que não conseguiu pronunciar o discurso que
havia preparado. Ela providenciou alimentos, remédios e intercedeu para que
fossem enviados sacerdotes e religiosas para Molokai. Foram enviados, enfim, um
sacerdote e seis religiosas à ilha.
Padre Damião continuou
ministrando sacramentos, trabalhando e confortando doentes enquanto fora
possível. Por fim, sente que sua missão neste mundo já estava completa. No
início de 1889, Padre Damião conta a seus amigos que a vontade de Deus era que
ele passasse a próxima Páscoa não em Molokai, mas no céu. Ele morreu em
decorrência da lepra durante a Semana Santa, em 15 de abril de 1889.
Nenhum comentário:
Postar um comentário