A segunda figura eclesial
elevada hoje aos altares, o religioso trinitário Domingo
Iturrate Zubero, nasceu em terras da Espanha, no País Basco.
A sua breve existência, de apenas 26 anos, contém uma
rica mensagem que se concretiza na tensão constante para a santidade. Nesse
caminho há algumas características peculiares, que desejo apresentar em
síntese.
O fiel cumprimento da vontade de Deus é uma meta que
atinge cotas muito altas, sobretudo nos últimos anos da sua vida. Por isso, em
1922 escreverá nas suas anotações espirituais: "A nossa conformidade com a
vontade divina há de ser total, sem reservas e constante". Animado
deste espírito, e com o consentimento do seu diretor espiritual, faz voto de
"cumprir sempre o que conhecer ser mais perfeito", propondo-se
além disso "não negar nada a Deus Nosso Senhor, mas seguir em tudo as suas
santas inspirações, com generosidade e alegria".
Como religioso trinitário, procurou viver segundo os dois
grandes eixos da espiritualidade da sua ordem: o mistério da Santíssima
Trindade e a obra da redenção, que nele se fazia vivência de intensa caridade.
E como sacerdote, teve uma clara ideia da sua identidade como "mediador
entre Deus e os homens", ou "representante do Sacerdote Eterno,
Cristo". Era tudo isto que o chamava a viver cada dia a Eucaristia como um
ato de pessoal imolação, unido à Suprema Vítima, em favor dos homens.
Não menos notável foi a presença de Maria na trajetória
espiritual do novo Beato. Desde a infância até à morte. Uma devoção que ele
viveu com grande intensidade e que procurou inculcar sempre nos outros,
convencido como estava de "quanto
bom e seguro é esse caminho: ir ao Filho por meio da Mãe".
Estes poucos traços põem diante de nós a força de um
modelo e exemplo válidos para hoje. Com o seu testemunho de fidelidade ao
chamado interior e de resposta generosa ao mesmo, o Padre Domingo mostra aos
nossos dias um caminho a seguir: o de uma fidelidade eclesial que plasma a
identidade interior e que conduz à santidade.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 30 de outubro de 1983
Domingos nasceu em Dima,
Vizcaya, Espanha, em 11 de maio de 1901. Seus pais eram lavradores no vilarejo
de Biteriño. Era o primeiro de uma numerosa família de 11 filhos e filhas. A
educação cristã e sua inclinação aos atos de piedade o conduziram a pedir ao
pároco que o admitisse como coroinha. Mesmo ficando seu vilarejo bem distante
da paróquia, não faltava nem um só dia ao seu encontro com o Senhor.
Sentindo-se chamado por Deus para uma vida de seguimento
radical a Jesus, pede para ser admitido no convento Trinitário de Algorta
(Vizcaya).
Tinha já 16 anos completos quando, no dia 11 de dezembro
de 1917, foi admitido ao noviciado, que foi feito no santuário de Nossa Senhora
Bien Aparecida (Marrón-Santander). Alguns começam a chamá-lo “o santinho”.
Sobressai-se, de modo especial, por sua piedade, modéstia, amor à pobreza e à
obediência. Jesus Sacramentado é seu novo nome na Ordem. Por seu testemunho
pessoal se sabe que durante o noviciado “sentiu aridez de espírito, sensação de
ser condenado, obscuridade, amargura”. Tudo isto desapareceu no dia de sua
profissão.
Foi enviado a São Carlino (Roma) para cursar seus estudos
de filosofia e teologia.
Na Universidade Gregoriana demonstrou aplicação e talento. As máximas
qualificações e uma medalha de honra dão testemunho de seu aproveitamento.
Queria preparar-se bem para ser “um apto instrumento nas mãos de Deus”.
Destacou-se na comunidade por sua piedade e seu espírito
de serviço: a sacristia, a cozinha e, sobretudo, os enfermos eram seus
“preferidos”. Antes de ser ordenado sacerdote, já foi nomeado Mestre dos
estudantes. Tinha prática no ofício, pois durante alguns anos, havia exercido o
de zelador.
Recebeu sua ordenação sacerdotal no dia 9 de agosto de
1925. Era o Ano Santo da Redenção. Escreve a seus pais: “Fui constituído mediador entre
Deus e os homens. Sejam felizes e mil vezes felizes as famílias que entre seus
membros têm um sacerdote que interceda por eles. Felizes os pais que em sua
velhice, quando veem próxima a morte, podem dizer: Tenho um filho sacerdote que
oferece sacrifícios por mim”.
Tinha se preparado conscientemente para ser um bom
sacerdote, um missionário. No entanto Domingos estava gravemente enfermo.
Alguns dias antes de sua ordenação sacerdotal precisava fazer o exame de
Doutorado em Teologia. Sua enfermidade já se havia manifestado. Os professores
que lhe aplicavam o exame se deram conta da palidez de seu rosto. A tuberculose
estava destruindo-o. No verão de 1925, os médicos recomendaram-lhe que voltasse
à Espanha.
Seu primeiro destino foi a casa de Algorta. Não podendo
dedicar-se ao apostolado direto, procurou escrever alguns artigos para a
revista O Santo Triságio. Afirmava: “É consolador que se possa chegar às almas
de diversas maneiras”.
Os especialistas não sabiam o que fazer e sugeriram como
último recurso que fosse enviado a uma casa da Ordem que estava em Belmonte
(Cuenca). Ali havia um clima mais seco, para realizar uma cura com repouso
absoluto. Era o dia 28 de dezembro de 1926. Ao entrar pela portaria daquele
convento, disse: “Hic dormiam et requiescam” (Aqui deitar e descansar).
No dia 5 de janeiro de 1927, escreve a seu companheiro
Félix da Virgem: “Na casa de Deus há muitas moradas. Importa que cumpramos a vontade de
Deus. Deus chama a alguns na flor da idade, antes que se envolvam com negócios
e responsabilidades. A outros lhes reserva grandes trabalhos e lutas. Tudo pode
ser ocasião de mérito e ninguém se perde senão por sua negligência”.
No fim de sua vida revisava seus propósitos:
1. O voto de fazer o que
acreditasse ser mais perfeito.
2. Não negar nada a Deus,
nosso Senhor; seguir em tudo suas santas inspirações com generosidade e alegria.
Para Domingo o
importante foi: "...não fazer muitas coisas mas fazer bem tudo o
que é do agrado de Deus". Quem o rodeava testemunhou que: "Quando
celebrava a Eucaristia, se identificava com a pessoa de Cristo". O
conceito de santidade que adquiriu em sua vida, o assistiu na sua enfermidade,
já que uma tuberculose acelerou sua entrada na pátria celestial.
Não só se destacou por seu amor a Cristo, a Virgem Maria, e a Eucaristia, também por sua piedade e por sua erudição teológica, como também por seu amor aos enfermos abandonados. Beatificado pelo Papa João Paulo II em 30 de Outubro de 1983, que afirmou: "Tudo o orientava para a Trindade e tudo contemplava desde esse inefável mistério".
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