quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Beata Anna Maria Aranda Riera

Nascida em Denia, na província de Alicante, em 24 de janeiro de 1888 no seio de uma família rica onde teve grande educação, recebendo os primeiros ensinamentos na escola das Irmãs Carmelitas. Desde jovem era piedosa, militou  com muito zelo nas Filhas de Maria na Ação Católica na Sociedade São Vicente de Paulo.
Era muito dedicada à Eucaristia e devota da Virgem Maria participando da missa e comungando diariamente.
Anna Maria nunca tinha machucado alguém ou tinha dado motivo para que alguém a odiasse. Foi apenas a sua fé em Jesus Cristo e sua defensa dos direitos da Igreja que levou à sua prisão em uma penitenciária feminina em Valência quando a revolução veio 1936.
Ela tudo suportou com grande paciência e humildade e dedicou-se à oração e ao consolo de suas companheiras de prisão, diariamente rezavam o rosário.
Seu martírio aconteceu nos estábulos de Paterna, onde foi baleada no dia14 de outubro de 1936.
Juntamente com outros 232 companheiros foi beatificada em 11 de março de 2001 por João Paulo II:
"O Senhor Jesus Cristo... transformará o nosso corpo miserável, tornando-o conforme ao Seu corpo glorioso" (Fl 3, 21). Estas palavras de São Paulo, recordam-nos que a nossa pátria verdadeira está no céu e que Jesus transfigurará o nosso corpo mortal num corpo glorioso como o Seu.
O Apóstolo comenta assim o mistério da Transfiguração do Senhor que a Igreja proclama no segundo domingo de Quaresma. De fato, Jesus quis dar um sinal e uma profecia da sua Ressurreição gloriosa, da qual também nós somos chamados a participar. O que se realizou em Jesus, nossa Cabeça, também se deve completar em nós, que somos o seu Corpo.
Este é um grande mistério para a vida da Igreja, pois não se deve pensar que a transfiguração se realizará só no além, depois da morte. A vida dos santos e o testemunho dos mártires ensinam-nos que, se a transfiguração do corpo se realizará no final dos tempos com a ressurreição da carne, a do coração verifica-se agora nesta terra, com a ajuda da graça.
Podemos perguntar-nos:
Como são transfigurados os homens e as mulheres?
A resposta é sublime: são os que seguem Cristo na sua vida e na sua morte, que se inspiram n'Ele e se deixam inundar pela graça que Ele nos dá; são aqueles, cujo alimento é cumprir a vontade do Pai; os que se deixam guiar pelo Espírito; os que nada antepõem ao Reino de Cristo; os que amam o próximo até derramar por ele o seu sangue; os que estão dispostos a oferecer tudo sem nada exigir em troca; os que em poucas palavras vivem amando e morrem perdoando.
Assim viveram e morreram José Aparício Sanz e os seus duzentos e trinta e dois companheiros, assassinados durante a terrível perseguição religiosa que atormentou a Espanha nos anos trinta do século passado. Eram homens e mulheres de todas as idades e condições: sacerdotes diocesanos, religiosos, religiosas, pais e mães de família, e jovens leigos. Foram assassinados porque eram cristãos, devido à sua fé em Cristo, por serem membros ativos da Igreja. Todos eles, segundo o que consta dos processos canônicos para a sua declaração como mártires, antes de morrer perdoaram sinceramente os seus algozes.
A lista dos que hoje sobem à glória dos altares por terem confessado a sua fé e dado a sua vida por ela é numerosa. São trinta e oito sacerdotes da Arquidiocese de Valença, juntamente com um numeroso grupo de homens e mulheres da Ação Católica também de Valença: dezoito dominicanos e dois sacerdotes da Arquidiocese de Saragoça; quatro Frades Menores Franciscanos e seis Frades Menores Franciscanos Conventuais; treze Frades Menores Capuchinhos, com quatro Religiosas Capuchinhas e uma Agostinha Descalça, onze Jesuítas com um jovem leigo; trinta e dois Salesianos e duas Filhas de Maria Auxiliadora; dezenove Terciários Capuchinhos da Virgem das Dores com uma cooperadora leiga; um sacerdote Deoniano; o Capelão do Colégio de La Salle da Boaventura, de Barcelona, com cinco Irmãos das Escolas Cristãs; vinte e quatro Carmelitas da Caridade; uma Religiosa Servita; seis Religiosas Escolápias com duas cooperadoras provenientes do Uruguai as primeiras Beatas desse País latino-americano; duas Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados; três Terciárias Capuchinhas da Sagrada Família; uma Missionária Claretiana; e, enfim, o jovem Francisco Castellói Aleu, da Ação Católica de Lérida.
Os testemunhos que chegaram até nós falam de pessoas honestas e exemplares, cujo martírio selou uma vida repleta de trabalho, oração e compromisso religioso nas suas famílias, paróquias e congregações religiosas. Muitos deles gozavam já em vida de fama de santidade entre os seus coetâneos. Pode dizer-se que os seus comportamentos exemplares foram como que uma preparação para essa confissão suprema da fé que é o martírio.
Como não nos comovermos profundamente ao escutar os relatos do seu martírio? Maria Teresa Ferragud foi presa com oitenta e três anos de idade, juntamente com as suas quatro filhas religiosas contemplativas. A 25 de Outubro de 1936, festa de Cristo Rei, pediu para acompanhar as suas filhas ao martírio e para ser executada em última lugar para assim poder encorajá-las a morrer pela fé. A sua morte impressionou de tal forma os seus verdugos que exclamaram: "Esta é uma verdadeira santa". Não menos edificante foi o testemunho dos demais mártires, como o jovem Francisco Castellói Aleu, de vinte e dois anos, químico de profissão e membro da Ação Católica que, consciente da gravidade do momento não se escondeu, mas ofereceu a sua juventude em sacrifício de amor a Deus e aos irmãos, deixando-nos três cartas, exemplo de fortaleza, generosidade, serenidade e alegria, escritas poucos momentos antes de morrer, às suas irmãs, ao seu diretor espiritual e àquela que fora sua noiva. Ou também o neo-sacerdote Germán Gozalbo, de vinte e três anos, que foi fuzilado logo dois meses depois de ter celebrado a sua Primeira Missa, após ter padecido humilhações e maus tratos sem conta.
Quantos exemplos de serenidade e esperança cristã! Todos estes novos Beatos e muitos outros mártires anônimos pagaram com o seu sangue o ódio à fé e à Igreja, desencadeado com a perseguição religiosa e o rebentar da guerra civil, essa grande tragédia vivida na Espanha durante o século XX. Ao longo daqueles terríveis anos muitos sacerdotes, religiosos e leigos foram assassinados simplesmente por serem membros ativos da Igreja. Os novos beatos que hoje sobem aos altares não estiveram implicados em lutas políticas ou ideológicas, nem quiseram entrar nelas. Sabei-lo bem muitos de vós, que sois familiares seus e hoje participais com grande alegria nesta beatificação. Eles morreram unicamente por motivos religiosos. Agora, com esta solene proclamação de martírio, a Igreja deseja reconhecer naqueles homens e mulheres um exemplo de valentia e constância na fé, auxiliados pela graça de Deus. Eles são para nós, ao mesmo tempo, modelo de coerência com a verdade professada e honram o nobre povo espanhol e a Igreja.
A sua recordação afaste para sempre do solo espanhol qualquer forma de violência, ódio e ressentimento! Que todos, e especialmente os jovens, possam conhecer a bênção da paz em liberdade: paz sempre, paz com e para todos!
Queridos irmãos, recordei em diversas ocasiões a necessidade de conservar a memória dos mártires. O testemunho deles não deve ser esquecido. Eles são a prova mais eloquente da verdade da fé, que sabe dar um aspecto humano até à morte mais violenta e manifesta a sua beleza mesmo no meio de atrozes padecimentos. É preciso que as Igrejas particulares façam tudo o que é possível para não perder a recordação daqueles que sofreram o martírio.
No início do terceiro milênio, a Igreja que caminha na Espanha está chamada a viver uma nova primavera de cristianismo, pois foi banhada e fecundada com o sangue de tantos mártires. Sanguis martyrum, semen christianorum! O sangue dos mártires é semente de novos cristãos! (Tertuliano, Apol., 50, 13: CCL 1, 171). Esta expressão, aparecida durante as perseguições dos primeiros séculos, deve hoje encher de esperança as vossas iniciativas apostólicas e os vossos esforços pastorais na tarefa, nem sempre fácil, da nova evangelização. Para isto, contais com a ajuda inigualável dos vossos mártires. Recordando o seu valor, "considerai o êxito da seu procedimento e imitai a sua fé. Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje e por toda a eternidade" (Hb 13, 7-8).
Desejo confiar à intercessão dos novos beatos uma intenção que tendes profundamente arraigada nos vossos corações: o fim do terrorismo na Espanha. Há várias décadas que sois provados por uma série horrenda de violências e assassínios que causaram numerosas vítimas e grandes sofrimentos. Na base destes acontecimentos tão lamentáveis está uma lógica pervertida que é preciso denunciar. O terrorismo nasce do ódio e, por sua vez, alimenta-o, é radicalmente injusto e aumenta as situações de injustiça, pois ofende gravemente a Deus, a dignidade e os direitos das pessoas. Com o terror, o homem perde sempre! Nenhum motivo, nenhuma causa ou ideologia o podem justificar. Só a paz edifica os povos. O terror é inimigo da humanidade.
Amados no Senhor, a voz do Pai também nos diz no Evangelho: "Este é o meu Filho dileto, escutai-O" (Lc 9, 35). Escutar Jesus é segui-Lo e imitá-Lo. A cruz ocupa um lugar muito especial neste caminho. Existe uma relação direta entre a cruz e a nossa transfiguração.
Fazermo-nos semelhantes a Cristo na morte é o caminho que conduz à ressurreição dos mortos, ou seja, a nossa transformação n'Ele (cf. Fl 3, 10-11). Agora, ao celebrar a Eucaristia, Jesus dá-nos o seu corpo e o seu sangue, para que de certa forma possamos saborear aqui na terra a situação final, quando os nossos corpos mortais forem transfigurados à imagem do corpo glorioso de Cristo.
Maria, Rainha dos mártires, nos ajude a escutar e a imitar o seu Filho. Pedimos-lhe, a ela que acompanhou o seu divino Filho durante a sua existência terrena e permaneceu fiel aos pés da Cruz, que nos ensine a ser fiéis a Cristo em todos os momentos, sem nos desencorajarmos perante as dificuldades; ela nos conceda a mesma força com que os mártires confessaram a sua fé. Ao invocá-la como Mãe, imploro sobre todos vós aqui presentes e sobre as vossas famílias, os dons da paz, da alegria e da firme esperança.”
Papa João Paulo II
Homilia de beatificação – 11 de março de 2001
 
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