Nascida em Denia, na província de Alicante,
em 24 de janeiro de 1888 no seio de uma família rica onde teve grande educação,
recebendo os primeiros ensinamentos na escola das Irmãs Carmelitas. Desde jovem
era piedosa, militou com muito zelo nas
Filhas de Maria na Ação Católica na Sociedade São Vicente de Paulo.
Era muito dedicada à Eucaristia e devota da
Virgem Maria participando da missa e comungando diariamente.
Anna Maria nunca tinha machucado alguém ou
tinha dado motivo para que alguém a odiasse. Foi apenas a sua fé em Jesus
Cristo e sua defensa dos direitos da Igreja que levou à sua prisão em uma penitenciária
feminina em Valência quando a revolução veio 1936.
Ela tudo suportou com grande paciência e
humildade e dedicou-se à oração e ao consolo de suas companheiras de prisão, diariamente
rezavam o rosário.
Seu martírio aconteceu nos estábulos de
Paterna, onde foi baleada no dia14 de outubro de 1936.
Juntamente com outros 232 companheiros foi
beatificada em 11 de março de 2001 por João Paulo II:
"O Senhor
Jesus Cristo... transformará o nosso corpo miserável, tornando-o conforme ao
Seu corpo glorioso" (Fl 3, 21). Estas palavras de São Paulo, recordam-nos que a nossa pátria
verdadeira está no céu e que Jesus transfigurará o nosso corpo mortal num corpo
glorioso como o Seu.
O Apóstolo comenta
assim o mistério da Transfiguração do Senhor que a Igreja proclama no segundo
domingo de Quaresma. De fato, Jesus quis dar um sinal e uma profecia da sua
Ressurreição gloriosa, da qual também nós somos chamados a participar. O que se
realizou em Jesus, nossa Cabeça, também se deve completar em nós, que somos o
seu Corpo.
Este é um grande
mistério para a vida da Igreja, pois não se deve pensar que a transfiguração se
realizará só no além, depois da morte. A
vida dos santos e o testemunho dos mártires ensinam-nos que, se a
transfiguração do corpo se realizará no final dos tempos com a ressurreição da
carne, a do coração verifica-se agora nesta terra, com a ajuda da graça.
Podemos
perguntar-nos:
Como são transfigurados os homens e as mulheres?
A resposta é
sublime: são os que seguem Cristo na sua
vida e na sua morte, que se inspiram n'Ele e se deixam inundar pela graça
que Ele nos dá; são aqueles, cujo alimento é cumprir a vontade do Pai; os que
se deixam guiar pelo Espírito; os que nada antepõem ao Reino de Cristo; os que
amam o próximo até derramar por ele o seu sangue; os que estão dispostos a
oferecer tudo sem nada exigir em troca; os que em poucas palavras vivem amando
e morrem perdoando.
Assim viveram e
morreram José Aparício Sanz e os seus duzentos e trinta e dois companheiros,
assassinados durante a terrível perseguição religiosa que atormentou a Espanha
nos anos trinta do século passado. Eram
homens e mulheres de todas as idades e condições: sacerdotes diocesanos,
religiosos, religiosas, pais e mães de família, e jovens leigos. Foram
assassinados porque eram cristãos, devido à sua fé em Cristo, por serem membros
ativos da Igreja. Todos eles, segundo o que consta dos processos canônicos
para a sua declaração como mártires, antes de morrer perdoaram sinceramente os
seus algozes.
A lista dos que
hoje sobem à glória dos altares por terem confessado a sua fé e dado a sua vida
por ela é numerosa. São trinta e oito sacerdotes da Arquidiocese de Valença,
juntamente com um numeroso grupo de homens e mulheres da Ação Católica também
de Valença: dezoito dominicanos e dois sacerdotes da Arquidiocese de Saragoça;
quatro Frades Menores Franciscanos e seis Frades Menores Franciscanos
Conventuais; treze Frades Menores Capuchinhos, com quatro Religiosas
Capuchinhas e uma Agostinha Descalça, onze Jesuítas com um jovem leigo; trinta
e dois Salesianos e duas Filhas de Maria Auxiliadora; dezenove Terciários
Capuchinhos da Virgem das Dores com uma cooperadora leiga; um sacerdote
Deoniano; o Capelão do Colégio de La Salle da Boaventura, de Barcelona, com
cinco Irmãos das Escolas Cristãs; vinte e quatro Carmelitas da Caridade; uma
Religiosa Servita; seis Religiosas Escolápias com duas cooperadoras
provenientes do Uruguai as primeiras Beatas desse País latino-americano; duas
Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados; três Terciárias Capuchinhas da Sagrada
Família; uma Missionária Claretiana; e, enfim, o jovem Francisco Castellói
Aleu, da Ação Católica de Lérida.
Os testemunhos que chegaram até nós falam de
pessoas honestas e exemplares, cujo martírio selou uma vida repleta de
trabalho, oração e compromisso religioso nas suas famílias, paróquias e
congregações religiosas. Muitos deles gozavam já em vida de fama de
santidade entre os seus coetâneos. Pode dizer-se que os seus comportamentos
exemplares foram como que uma preparação para essa confissão suprema da fé que
é o martírio.
Como não nos
comovermos profundamente ao escutar os relatos do seu martírio? Maria Teresa
Ferragud foi presa com oitenta e três anos de idade, juntamente com as suas
quatro filhas religiosas contemplativas. A 25 de Outubro de 1936, festa de
Cristo Rei, pediu para acompanhar as suas filhas ao martírio e para ser
executada em última lugar para assim poder encorajá-las a morrer pela fé. A sua
morte impressionou de tal forma os seus verdugos que exclamaram: "Esta é
uma verdadeira santa". Não menos edificante foi o testemunho dos demais
mártires, como o jovem Francisco Castellói Aleu, de vinte e dois anos, químico
de profissão e membro da Ação Católica que, consciente da gravidade do momento
não se escondeu, mas ofereceu a sua juventude em sacrifício de amor a Deus e
aos irmãos, deixando-nos três cartas, exemplo de fortaleza, generosidade,
serenidade e alegria, escritas poucos momentos antes de morrer, às suas irmãs,
ao seu diretor espiritual e àquela que fora sua noiva. Ou também o
neo-sacerdote Germán Gozalbo, de vinte e três anos, que foi fuzilado logo dois
meses depois de ter celebrado a sua Primeira Missa, após ter padecido
humilhações e maus tratos sem conta.
Quantos exemplos
de serenidade e esperança cristã! Todos estes novos Beatos e muitos outros
mártires anônimos pagaram com o seu sangue o ódio à fé e à Igreja, desencadeado
com a perseguição religiosa e o rebentar da guerra civil, essa grande tragédia
vivida na Espanha durante o século XX. Ao longo daqueles terríveis anos muitos
sacerdotes, religiosos e leigos foram assassinados simplesmente por serem
membros ativos da Igreja. Os novos
beatos que hoje sobem aos altares não estiveram implicados em lutas políticas
ou ideológicas, nem quiseram entrar nelas. Sabei-lo bem muitos de vós, que
sois familiares seus e hoje participais com grande alegria nesta beatificação. Eles morreram unicamente por motivos
religiosos. Agora, com esta solene proclamação de martírio, a Igreja deseja
reconhecer naqueles homens e mulheres um exemplo de valentia e constância na
fé, auxiliados pela graça de Deus. Eles
são para nós, ao mesmo tempo, modelo de coerência com a verdade professada e
honram o nobre povo espanhol e a Igreja.
A sua recordação
afaste para sempre do solo espanhol qualquer forma de violência, ódio e
ressentimento! Que todos, e especialmente os jovens, possam conhecer a bênção
da paz em liberdade: paz sempre, paz com e para todos!
Queridos irmãos,
recordei em diversas ocasiões a necessidade de conservar a memória dos
mártires. O testemunho deles não deve
ser esquecido. Eles são a prova mais eloquente da verdade da fé, que sabe
dar um aspecto humano até à morte mais violenta e manifesta a sua beleza mesmo
no meio de atrozes padecimentos. É preciso que as Igrejas particulares façam
tudo o que é possível para não perder a recordação daqueles que sofreram o
martírio.
No início do terceiro
milênio, a Igreja que caminha na Espanha está chamada a viver uma nova
primavera de cristianismo, pois foi banhada e fecundada com o sangue de tantos
mártires. Sanguis martyrum, semen christianorum! O sangue dos mártires é semente de novos cristãos! (Tertuliano, Apol.,
50, 13: CCL 1, 171). Esta expressão, aparecida durante as perseguições dos
primeiros séculos, deve hoje encher de esperança as vossas iniciativas
apostólicas e os vossos esforços pastorais na tarefa, nem sempre fácil, da nova
evangelização. Para isto, contais com a ajuda inigualável dos vossos mártires.
Recordando o seu valor, "considerai o êxito da seu procedimento e imitai a
sua fé. Jesus Cristo é sempre o mesmo ontem e hoje e por toda a
eternidade" (Hb 13, 7-8).
Desejo confiar à
intercessão dos novos beatos uma intenção que tendes profundamente arraigada
nos vossos corações: o fim do terrorismo na Espanha. Há várias décadas que sois
provados por uma série horrenda de violências e assassínios que causaram
numerosas vítimas e grandes sofrimentos. Na base destes acontecimentos tão
lamentáveis está uma lógica pervertida que é preciso denunciar. O terrorismo
nasce do ódio e, por sua vez, alimenta-o, é radicalmente injusto e aumenta as
situações de injustiça, pois ofende gravemente a Deus, a dignidade e os
direitos das pessoas. Com o terror, o homem perde sempre! Nenhum motivo,
nenhuma causa ou ideologia o podem justificar. Só a paz edifica os povos. O
terror é inimigo da humanidade.
Amados no Senhor,
a voz do Pai também nos diz no Evangelho: "Este
é o meu Filho dileto, escutai-O" (Lc 9, 35). Escutar Jesus
é segui-Lo e imitá-Lo. A cruz ocupa um lugar muito especial neste caminho.
Existe uma relação direta entre a cruz e a nossa transfiguração.
Fazermo-nos semelhantes a Cristo na morte é o
caminho que conduz à ressurreição dos mortos, ou seja, a nossa transformação
n'Ele (cf. Fl 3,
10-11). Agora, ao celebrar a Eucaristia, Jesus dá-nos o seu corpo e o seu
sangue, para que de certa forma possamos saborear aqui na terra a situação
final, quando os nossos corpos mortais forem transfigurados à imagem do corpo
glorioso de Cristo.
Maria, Rainha dos
mártires, nos ajude a escutar e a imitar o seu Filho. Pedimos-lhe, a ela que
acompanhou o seu divino Filho durante a sua existência terrena e permaneceu
fiel aos pés da Cruz, que nos ensine a ser fiéis a Cristo em todos os momentos,
sem nos desencorajarmos perante as dificuldades; ela nos conceda a mesma força
com que os mártires confessaram a sua fé. Ao invocá-la como Mãe, imploro sobre
todos vós aqui presentes e sobre as vossas famílias, os dons da paz, da alegria
e da firme esperança.”
Papa João Paulo II
Homilia de beatificação – 11 de março de 2001
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