“A bela figura de papai tinha expressão celeste, sentia que a paz inundava seu coração. Sem dizer uma única palavra, fui sentar-me a seu lado, já com os olhos lacrimejantes, ele olhou-me com ternura e, pegando minha cabeça, encostou-a no seu peito dizendo:
"Que tens, minha rainhazinha?... me conte..."
Levantando-se, como para dissimular sua própria emoção, andou lentamente, segurando sempre minha cabeça no seu peito. Em meio às minhas lágrimas, confidenciei meu desejo de ingressar no Carmelo. Então, as lágrimas dele vieram misturar-se às minhas, mas não disse uma palavra para desviar-me da minha vocação, contentando-se apenas em observar que eu era ainda muito nova para tomar uma decisão tão séria.
Defendi tão bem minha causa que, com sua natureza simples e reta, convenceu-se de que meu desejo era o de Deus e, na sua fé profunda, exclamou que Deus lhe fazia uma grande honra pedindo-lhe assim suas filhas.
Continuamos por longo tempo o nosso passeio. Aliviado pela bondade com a qual meu incomparável pai tinha acolhido as confidências, meu coração expandia-se no dele. Papai parecia gozar dessa alegria tranqüila nascida do sacrifício aceito. Falou-me como um santo e gostaria de lembrar-me das palavras dele a fim de escrevê-las aqui, mas conservei-as tão sublimadas que se tornaram intraduzíveis.
O que recordo perfeitamente é da ação simbólica que meu rei querido cumpriu sem o perceber. Aproximando-se de um muro baixo, mostrou-me florzinhas brancas semelhantes a lírios em miniatura e, colhendo uma dessas flores, entregou-a a mim, explicando o cuidado com que Deus a fizera e a conservara até aquele momento; ouvindo-o falar, pensava ouvir a minha história, tal era a semelhança entre o que Jesus fizera a sua florzinha e a Teresinha... Recebi essa florzinha como uma relíquia e vi que, ao colhê-la, papai arrancara as raízes todas sem quebrar uma. Parecia destinada a viver ainda, numa outra terra, mais fértil que o tenro limo onde vivera suas primeiras manhãs... Era essa mesma ação que papai acabava de fazer para mim alguns instantes antes, permitindo-me subir a montanha do Carmelo e deixar o manso vale testemunho dos meus primeiros passos na vida.”
História de um alma
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