Como sempre o Senhor inspira-se em
acontecimentos da vida quotidiana e hoje nos narra sobre um administrador que
está para ser despedido pela desonesta gestão dos negócios do seu patrão e,
para garantir o seu futuro, procura com astúcia pôr-se de acordo com os
devedores. É sem dúvida um desonesto, mas astuto: o Evangelho não nos apresenta
como modelo para seguir na sua desonestidade, mas como um exemplo a ser imitado
pela sua habilidade previdente.
Mas que nos quer dizer Jesus com esta parábola?
Com esta conclusão surpreendente? À parábola do administrador infiel, o
evangelista faz seguir uma breve série de afirmações e de advertências sobre a
relação que devemos ter com o dinheiro e com os bens desta terra. Na realidade,
a vida é sempre uma opção: entre honestidade e desonestidade, entre fidelidade
e infidelidade, entre egoísmo e altruísmo, entre bem e mal. É incisiva e
peremptória a conclusão do trecho evangélico: "Servo algum pode servir
a dois senhores; ou há de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se-á a um e
desprezará o outro". Com efeito, diz Jesus: É preciso decidir-se.
Não podeis servir a Deus e ao dinheiro: Mamon é uma
palavra de origem fenícia que evoca segurança econômica e sucesso nos negócios;
poderíamos dizer que na riqueza é indicado o ídolo ao qual se sacrifica tudo
para alcançar o próprio sucesso material e assim este sucesso econômico
torna-se o verdadeiro deus de uma pessoa. É necessária portanto uma decisão
fundamental entre Deus e mamon, é necessária a escolha entre lógica do lucro
como critério último no nosso agir e a lógica da partilha e da solidariedade.
A lógica do lucro, se é prevalecente,
incrementa a desproporção entre pobres e ricos, assim como uma exploração
destruidora do planeta. Quando, ao contrário, prevalece a lógica da partilha e
da solidariedade, é possível corrigir a rota e orientá-la para um
desenvolvimento equitativo, para o bem comum de todos. Na realidade, trata-se
da decisão entre o egoísmo e o amor, entre a justiça e a desonestidade, ou
seja, entre Deus e Satanás. Se amar Cristo e os irmãos não é considerado como
uma espécie de acessório e superficial, mas antes como a finalidade verdadeira
e última de toda a nossa existência, é preciso saber fazer opções básicas,
estar dispostos a renúncias radicais, e se necessário ao martírio. Hoje, como
ontem, a vida do cristão exige a coragem de ir contra a corrente, de amar como
Jesus, que chegou ao sacrifício de si na cruz.
Podemos então dizer, parafraseando uma
consideração de Santo Agostinho, que por meio das riquezas terrenas devemos
conquistar as verdadeiras e eternas: de fato, se há quem está pronto a qualquer
tipo de desonestidade para se garantir um bem-estar material sempre aleatório,
muito mais nós cristãos nos devemos preocupar por prover à nossa felicidade
eterna com os bens desta terra. Mas, a única maneira de fazer frutificar para a
eternidade os nossos talentos e capacidades pessoais assim como as riquezas que
possuímos é partilhá-las com os irmãos, mostrando-nos deste modo bons
administradores de quanto Deus nos confia. Diz Jesus: "Quem é fiel no
pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no
muito".
Papa Bento XVI – 23 de
setembro de 2007
Hoje celebramos:
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