São Francisco Xavier, o grande Apóstolo das índias, nasceu aos 07
de Abril de 1506, no castelo de Javier (Xavier), no reino de Navarra. Seu pai
era nobre do Reino de Navarra e sua família mantinha junto à população uma
excelente reputação. Francisco cresceu assim, junto aos Pirineus, num ambiente
de riqueza e de tradição. Desde cedo mostrou uma aguçada inteligência e uma
crescente paixão pelo estudo. Na idade de dezoito anos foi levado pelo pai a
Paris, onde se matriculou na Universidade daquela cidade.
No tempo que Francisco Xavier esteve em Paris, conviveu com Inácio
de Loyola. Inácio já havia percebido grandes qualidades em Francisco, e
procurou exercer alguma influência sobre ele para convencê-lo a atuar na obra
de evangelização que estava fundando. Por mais de dois anos seus esforços não
obtiveram qualquer resultado. Não era fácil conseguir este propósito, já que
Francisco era vaidoso e tinha ambições bem diferentes. Inácio, porém,
esclarecido por uma luz divina, não desanimou. Enfim Francisco entregou-se
inteiramente ao meditar nas palavras de Cristo: “Que aproveita ao homem
ganhar o mundo inteiro, se vem a perder a alma”.
Em 24 de Junho de 1536, Francisco Xavier é ordenado sacerdote. Em
Portugal, D. João III pediu ao Papa que mandasse sacerdotes da Companhia de
Jesus para as possessões que a coroa portuguesa tinha adquirido nas índias.
Entre outros foi designado Francisco Xavier que, com imensa
satisfação recebeu este destino, e pôs-se a caminho, em 1542, não levando senão
o crucifixo, o breviário e um bastão.
Em sua companhia viajaram mais dois sacerdotes, que tinham sido
admitidos na Companhia de Jesus. Duas mil léguas de viagem os esperavam. Três
oceanos e um ano de viagem, durante a qual todos o tinham já por santo. O navio
levava 900 passageiros, dos quais grande número adoeceu. Francisco fez-se
enfermeiro deles, e com os modos caridosos conseguiu levá-los todos à prática
de uma vida cristã. Francisco era um homem capaz de todas as temeridades para
salvar um cristão, mas quando se tratava de um empedernido infiel, parecia
outro.
O descanso noturno que Francisco se permitia, não excedia de três
horas, e servia-lhe de leito o assoalho, de travesseiro as amarras do navio. Já
tinha passado treze meses da partida de Lisboa, quando afinal aportaram em Goa,
capital das índias. Foi em Goa que Francisco começou os trabalhos apostólicos.
Desde então, Francisco Xavier realizou uma das missões mais árduas da Igreja
Católica. Deslocava-se de aldeia em aldeia, evangelizava os nativos, batizava
as crianças e os adultos. Reunia as aldeias em grupos, e deixava outro
sacerdote dando seguimento à obra, enquanto investia em novas frentes apostólicas
noutra região. Os dias eram-lhe pequenos para vencer o trabalho que fazia, de
pregar, confessar e batizar. As noites eram em grande parte passadas em oração
e penitência.
Francisco empreendeu grandes viagens, no intuito de propagar o
reino de Deus na terra. De uma ilha dirigiu-se a outra, de um reino passou a
outro, empregando todas as energias na causa da salvação das almas. Os
trabalhos, fadigas e sofrimentos não conhecia medida. Sem ter aprendido o
idioma hindu, com os seus múltiplos dialetos, pregava a doutrina cristã e todos
o compreendiam perfeitamente. Por causa dos numerosos e estupendos milagres que
realizava quase diariamente milhares vinham para conhecer o homem extraordinário,
e ouvir-lhe a doutrina.
Viajou até mesmo àquelas ilhas habitadas por antropófagos. O amor
de Jesus Cristo não o fazia medir perigos, e pronto estava para derramar o seu
sangue, sempre que Deus o quisesse. Quando, numa viagem por mar, fortíssima
tempestade pôs em perigo a embarcação, Francisco entrou em oração e as ondas
acalmaram.
Em 1547, depois de receber pela primeira vez notícias concretas do
Japão partiu para lá. Nos ventos gelados daquele país Francisco e seus
companheiros viajavam a pé e se vestiam tão miseravelmente que as crianças
japonesas os acolhiam a pedradas e os ridicularizavam. Ao descrever suas peregrinações
apostólicas no coração do inverno, Xavier fala da dor que sentia pelo inchaço
dos pés. Pensando que uma visita ao senhor de algumas províncias lhe valeria a
permissão de pregar em público, pediu que lhe concedessem essa audiência, mas a
entrada no palácio lhe foi negada porque não tinha presentes adequados para
oferecer. Ele compreendeu que as autoridades japonesas só davam valor a quem se
apresentasse vestido elegantemente.
Nunca se mostrou mais heroico do que nas peregrinações efetuadas
de vila em vila na Indonésia. No verão, era como caminhar sobre brasas, e na época
das chuvas, no meio da lama; quando o vento do Índico soprava, enchia tudo de
areia e pó; respirava-se pó, comia-se pó; o pó invadia tudo. Apesar de ser
conhecida a quantidade de insetos que infestavam a Indonésia, não aparece em
nenhuma carta sua o zumbido deles! Seu travesseiro era uma pedra, e só em Deus
esperava.
Francisco Xavier era um homem que não conhecia o medo. Ele
caminhava dezenas de milhas para um lado, centenas para outro, no meio de
animais e homens selvagens, bem como de enfermidades. Único homem branco
naquele mar de areia e sol, ele era incansável em sua faina apostólica. Muitas
vezes, quase não podia mover o braço, devido ao grande número de batismos que
conferia, e faltava-lhe a voz de tanto repetir o Credo e os Mandamentos. Em
um mês batizou mais de 10.000 pessoas.
Já estava decidido a entrar clandestinamente na China, mas numa
ilha deserta, vivendo em situação de miséria extrema, mal alimentado e sem
agasalho, Francisco contraiu uma forte pneumonia. Sua vida começou a se apagar.
O desejo de Francisco de levar o evangelho de Cristo à China não pôde ser
satisfeito. Francisco foi acometido de um forte acesso de febre. Uma sangria
aumentou ainda os sofrimentos do doente. Enrijecido pela febre não desanimava,
sempre esperava melhorar para realizar seu intento. Contudo, só permaneceu uma
noite no navio, não suportou o balanço da embarcação pelas ondas do mar. Assim
que amanheceu, voltou a terra trazendo um agasalho e algumas amêndoas.
Seu corpo parecia uma brasa acesa por causa da febre e assim,
semelhante ao divino Mestre durante sua vida, Francisco quis ser-lhe igual na
morte. Paupérrimo, desprovido de todo conforto, longe dos seus, privado da
assistência dos Irmãos, morreu Francisco Xavier, na doce paz do Senhor. Os
olhos do moribundo ou procuravam o céu ou o crucifixo; os lábios murmuravam-lhe
incessantemente jaculatórias como: “Jesus! Maria! Filho de Davi, tende
compaixão de mim! Maria, mostrai que sois minha mãe!”
As últimas Palavras que disse, foram: “Em vós pus minha esperança,
Senhor, não serei confundido”.
São Francisco apesar de ter trabalhado só dez anos como missionário
nas índias e no Japão, levou milhares de almas ao céu. Uma paz celestial
envolveu o seu rosto. Naquele momento, Cristo levava para o Céu a alma de seu
Santo Apóstolo das Índias e do Japão. O amor que resplandecia em seus olhos
negros, cheios de fogo, e queimava seus lábios, o levou deste mundo com apenas
46 anos. Foi uma morte pobre e humilde, como correspondia a um homem que
imaginava que ninguém ia se lembrar dele. Doloroso paradoxo: graças a ele
milhares de pessoas receberam, em sua última hora, os consolos da Igreja, o que
não aconteceu com ele. Era 03 de dezembro de 1552.
O corpo do Santo foi revestido de vestes sacerdotais, depositado
num caixão e coberto de cal virgem, para assim acelerar a decomposição e
possibilitar o mais breve possível a trasladação dos ossos para a Índia. Dois
meses tinham já passado e nenhum sinal de decomposição se anunciava; o corpo do
Santo exalava um doce perfume. A trasladação para a índia foi feita com grande
solenidade.
A chegada do corpo em Goa, um ano mais tarde, foi sob o toque
festivo de todos os sinos, como se fazia com um grande príncipe ou
conquistador. Durante quatro dias a multidão enchia a igreja para beijar seus pés
imóveis, que tanto haviam ali caminhado. Seus olhos negros se mantinham como se
estivessem vivos, com um olhar penetrante. Era uma tão grande maravilha, que o
comissário da Companhia holandesa se converteu instantaneamente.
Viajou o equivalente a quatro voltas na terra:
Mais de cem mil
milhas percorreu, para semear a palavra divina; em mais de cem ilhas e reinos
pregou o Evangelho; a mais de duzentas mil pessoas administrou o sacramento do
batismo e sem número é a multidão daqueles que por sua palavra foram levados à
penitência e ao conhecimento do Deus de Jesus Cristo.
É admirável observar como uma pessoa, em tão curto tempo, pôde
levar a efeito uma obra tão imponente, como fez São Francisco Xavier. Quando
pregava o Evangelho, mais que os seus argumentos, convencia por sua santidade,
pelo seu exemplo de homem e por um caráter firme, fiel e uma poderosa força de
intercessão junto ao criador.
Através de Xavier, Deus realizou impressionantes milagres para
provar que ele era um Apóstolo do Senhor.
Os biógrafos enumeram, entre os dons sobrenaturais que Deus concedeu
a Francisco, os seguintes: o dom das línguas; o dom de conhecer as coisas
futuras; o dom de ser orientado sobre coisas e acontecimentos, no mesmo momento
em que se deu em lugares bem distantes; o dom de fazer milagres, entre os quais
se relatam vinte e cinco ressurreições de mortos.
Dificilmente será encontrado um Santo dos últimos séculos, a quem
Deus tivesse concedido tantos privilégios e por um prazo de muitos anos.
Francisco Xavier foi canonizado por Gregório XV, no ano de 1621.
Bento XIV apresentou-o aos países da índia oriental, como padroeiro, e hoje a
Igreja o considera o maior de todos os missionários, sendo chamado “O Gigante
da História das Missões”.
Consagrado como o “Apóstolo do Oriente”, proclamado “Padroeiro
das Missões” (Pio X, em 1904), São Francisco Xavier foi reconhecido por João
Paulo II como “o apóstolo mundial dos tempos modernos”, e apontado como
exemplo para todos os missionários católicos. Enfim, assim como São Paulo, Francisco
pode dizer: “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me
tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto
por causa do evangelho, para ser também participante dele”.
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