sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Santa Adelaide

Nascida em 931, Adelaide era uma princesa, filha do rei da Borgonha, atual França, casado com uma princesa da Suécia. Ficou órfã de pai aos seis anos.
A Corte acertou seu matrimônio com o rei Lotário, da Itália, do qual enviuvou três anos depois. Ele morreu defendendo o trono, que acabou usurpado pelo inimigo vizinho, rei Berenjário.
Então, a rainha Adelaide foi mandada para a prisão, tendo se recusado a  contrair matrimônio  com o filho do  duque. Na prisão sofreu não só as maiores  e  mais duras privações, como também  os maus tratos  da  parte de  Wila, mulher de  Berenjário, criatura de  péssimos  sentimentos.  

Embora  Adelaide se sujeitasse   por  algum tempo  a condições  tão indignas, aproveitou a primeira  ocasião que lhe oferecia, devido  à valiosa  cooperação do  capelão  Martinho, para, em companhia da  fiel empregada,  fugir da prisão.  Um pescador  apiedou-se delas e  preparou-lhes uma refeição frugalíssima, mas  saborosa, pois tinham passado um dia  sem tomar alimento  de  espécie alguma.  Enquanto estavam tratando de  restaurar as forças, chegou o Margrave Apo com sua gente e, como Adelaide conhecesse a lealdade e os bons  sentimentos deste príncipe, aceitou-lhe a generosa proposta  e  foi com ele  ao castelo de Canossa. 
Era Oto imperador da  Alemanha.  Foi a ele  que Adelaide se  dirigiu,  implorando proteção contra o injusto e  incorreto procedimento de Berenjário, que se tinha apoderado de seus bens e  a  perseguira.

Como ao  mesmo tempo o Papa lhe dirigisse igual pedido, de pôr termo  à política nefasta de Berenjário, na Itália,  Oto resolveu transpor os Alpes, e à frente de um grande exército, atacar o criminoso usurpador. Berenjário fugiu. 
O imperador, servindo-se da fidelidade indubitável do Capelão Martinho, por intermédio do mesmo, ofereceu a Adelaide não só a liberdade, mas pediu-a em casamento.  Adelaide deu seu consentimento e  assim do abismo da miséria  foi, de um dia para o outro,  elevada às alturas  do poder e da grandeza. Ontem maltratada  nos subterrâneos de  uma prisão lúgubre, acossada como um animal de caça, foi inesperadamente colocada no trono, na qualidade de  esposa do príncipe mais glorioso e mais poderoso daquele  tempo.

Passaram-se anos  na mais perfeita felicidade e  de uma vida virtuosíssima, ao lado do esposo, quando este morreu.  Sucedeu-lhe o trono o filho Oto II. Enquanto este se deixava guiar pelos  sábios  conselhos da santa mãe, tudo ia bem, e o governo era  por Deus abençoado.   Isto, porém, mudou quando sua mulher Teofânia, princesa de origem grega, começou a exercer  grande influência sobre o coração do monarca.  Se bem que este a princípio  resistisse, pouco a pouco deu crédito às acusações maldosas e suspeitas indignas que Teofânia e respectivos partidários levantaram  contra a sua mãe, como se esta esbanjasse os bens  da coroa, em doações a  conventos pobres.
A campanha tornou-se  tão forte, a  atmosfera que se criou  em volta de Adelaide, veio a ser tão  pesada e ameaçadora, que Oto  se decidiu a exigir da mãe que se retirasse. Foi esta a  vitória  da  nora ambiciosa e  tirânica  sobre a sogra humilde e  caridosa.

Adelaide  procurou  primeiro um abrigo  na Itália, e depois na terra do irmão, na Borgonha. Se foram grandes os sofrimentos que lhe vieram na perseguição de  Berenjário e de  Wila, a ingratidão do filho mais profundamente lhe feriu o coração maternal.  

Com a  saída da mãe, a bênção do  céu parecia  ter se retirado da casa  e  do governo de Oto. Onde reinavam a paz e a felicidade, vieram  a  imperar a injustiça, a arbitrariedade, o luxo, a leviandade e  discórdia. 

Majolo, o santo abade  de  Cluny  estando a par dos acontecimentos, com franqueza apostólica abriu  ao imperador  os olhos sobre o procedimento incorreto  que tivera  para com a mãe. As suas palavras moveram Oto ao arrependimento.

Adelaide recebeu convite para  ir a Palávia, com o fim de encontrar-se com o filho imperador. Depois de uma separação de dois anos, mãe e filho se abraçaram com grande comoção. Estava  restabelecida a paz, e Oto nunca mais  se separou da santa mãe.   Poucos  anos viveu depois deste  fato.  Não tendo o filho  Oto III, a  idade  exigida  pela lei para assumir o governo, a mãe Teofânia assumiu a regência. 
Com a elevação de Teofânia  ao poder, recomeçou a  via sacra para Adelaide. Para mostrar  o desprezo, que tinha  à  sogra, Teofânia disse  uma  vez  aos  aduladores:  " Se  Deus me der mais um ano de vida, garanto-vos  que o poder de Adelaide  não será mais do que sobre um palmo de terra".  Não tinham  passado  quatro semanas e  Teofânia já não mais pertencia ao número dos vivos e  Adelaide sucedeu-lhe na regência.

Chegada ao poder,  Adelaide  nenhuma vingança  praticou contra os inimigos.   Que o coração da  santa imperatriz  estava longe de idéias vingativas,   prova  a  grande caridade  com que tratou  as filhas  de Wila, sua maior inimiga, as quais, tendo ficado órfãs de pai, foram por Adelaide convidadas  a  viverem em sua companhia e  tratadas  como filhas.  

Como regente, soube  Adelaide muito bem coordenar as  obrigações políticas e religiosas. Partindo do princípio:  que a felicidade e prosperidade de  uma nação dependem da bênção de Deus, procurou  implantar na  alma do povo o santo temor de Deus, fazendo empenho para que fossem  conservados fielmente os costumes e usos  da  vida cristã. 

Pressentindo a  aproximação da morte, Adelaide se retirou para o convento beneditino por ela fundada em Selz, na Alsácia; lá passou o  resto da vida no maior  recolhimento e lá, na idade de sessenta e  oito anos, entregou o espírito ao Criador. 


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