Estêvão foi o primeiro mártir de Cristo e um dos sete que os apóstolos escolheram para o serviço à comunidade, porque era "homem cheio de fé e do Espírito Santo" (At 6,5). Nele realizou-se de modo exemplar a figura do mártir imitador de Cristo; ele contemplou a glória do Ressuscitado, proclamou a sua divindade, confiou-lhe o seu espírito, perdoou seus assassinos (At 7,55.59-60).
Saulo testemunha do apedrejamento (At 8,1), recolhe a sua herança espiritual, tornando-se apóstolo das nações.
Recordamos hoje, na liturgia, o testemunho do amor que perdoa, dado por Estêvão em seu martírio:
"Pai, dai-nos expressar com a vida o mistério que celebramos no dia natalício de Santo Estêvão, o primeiro mártir, e ensinai-nos a amar também os nossos inimigos, seguindo o exemplo dele que, morrendo, orou pelos seus perseguidores."
“Ontem,
celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje celebramos o
martírio triunfal do seu soldado.
Ontem
o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um
seio virginal, dignou-se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda
de seu corpo, parte vitorioso para o céu.
O
nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos
vazias. Trouxe para seus soldados um grande dom, que não apenas os enriqueceu
imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate: trouxe o dom da
caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao
repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre:
enriquecendo do modo admirável a pobreza dos seus fiéis, ele conservou a
plenitude dos seus tesouros inesgotáveis.
Assim,
a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estevão da terra ao
céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no soldado.
Estêvão,
para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e com
ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou perante a hostilidade dos
judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o apedrejavam. Por esta
caridade, repreendia os que estavam no erro para que se emendassem, por
caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.
Fortificado
pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter como companheiro
no céu aquele que tivera como perseguidor na terra. Sua santa e
incansável caridade queria conquistar pela oração, a quem não pudera converter
pelas admoestações.
E
agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com
Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro, martirizado
pelas pedras de Paulo, chegou depois Paulo, ajudado pelas orações de
Estevão.
É
esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha mais
da morte de Estêvão, mas Estevão se alegra pela companhia de Paulo, porque
em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a crueldade dos
perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em ambos, a caridade
mereceu a posse do reino dos céus.
A
caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o
caminho que conduz ao céu. Quem caminha na caridade não pode errar nem
temer. Ela dirige, protege, leva a bom termo.
Portanto,
meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo cristão
pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai-a uns
para com os outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no caminho da
perfeição.”
São Fulgêncio de Ruspe - Sec VI
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