São João Crisóstomo – que quer
dizer Boca de Ouro - nasceu na cidade
de Antioquia. Cresceu no meio da multidão sem deixar-se contaminar por ela.
Conheceu os pobres e desafortunados e soube amá-los como eram. Sua família era
culta e possuía muitos bens. O pai de João, oficial de alto nível, morreu muito
jovem.
Desde criança foi educado
pela mãe, mulher admirável que, aos vinte anos, sacrificou sua juventude,
renunciou a novas núpcias, para dedicar-se inteiramente a seu filho.
João recebeu o Batismo mais
ou menos aos dezoito anos de idade.
Concluídos seus estudos de
cultura geral, de retórica e de filosofia, de forma brilhante, renunciou a uma
carreira que se apresentava promissora, para receber as ordens menores.
Quis partir para o deserto,
mas sua mãe, que por ele sacrificara tudo, não lho permitiu. Fugiu, então, da
agitação de Antioquia e estabeleceu-se fora das portas da cidade, a fim de
encontrar a paz, consagrando-se à ascese e ao estudo bíblico.
Antioquia era um centro
teológico de grande reputação. João lá aprende de forma brilhante a exegese
bíblica. Depois passou a viver nas montanhas entre monges uma vida austera a
ponto de prejudicar sua saúde. Após algum tempo nas montanhas, achou-se
preparado para enfrentar a ação missionária. O amor aos outros, mais do que sua
saúde abalada, fê-lo voltar a Antioquia, onde o bispo Melécio o ordenou
diácono, em 381.
Escreveu aos 34 anos o
tratado sobre o Sacerdócio, que é conhecido e estudado até os nossos dias. Com
39 anos foi ordenado padre. Consagrou-se à pregação, substituindo o bispo, nas
homilias pois esse era pouco dotado para falar.
Durante doze anos, pregou ao
povo contra o paganismo e tinha esperança de transformá-lo em gente de fé
cristã. É dele a frase: "Basta um só homem, para reformar todo um
povo."
Sua tarefa era séria.
Precisava denunciar os abusos existentes no interior da Igreja e na sociedade;
defender os pobres, clamar contra as injustiças sociais. Manteve ainda uma
intensa atividade literária, respondendo a todos os que lhe pediam conselho.
A maioria de suas homilias
era comentários a respeito do Antigo e o Novo Testamento: explicou o Gênesis,
comentou Isaías e os Salmos. O que fazia com mais agrado era pregar sobre o
Evangelho. Comentou longamente o de Mateus e o de João.
São João Crisóstomo inspirado por São Paulo |
São Paulo era seu autor
preferido: sentia afinidade com o Apóstolo dos gentios. Cognominaram-no de o
"novo Paulo".
Resta-nos, de João
Crisóstomo, uma série de catequeses batismais, que preparavam os catecúmenos
para o batismo. As últimas foram reencontradas em 1955, no monte Atos.
João Crisóstomo era um
orador nato e igualmente um moralista que analisava os segredos do coração em
profundidade e com rara psicologia. O povo de Antioquia sabia que João só
repreendia para corrigir e para converter.
Inúmeras vezes João tomou a
defesa dos pobres e dos infelizes, dos que morriam de fome e sede. Com
veemência, João, Boca de Ouro ergueu sua voz contra os flagelos sociais, o luxo
e a cobiça. Lembrou a dignidade do homem, mesmo pobre, e os limites da
propriedade. Dizia: "Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das
prisões, da nudez."
A fama de João ultrapassava
as fronteiras de Antioquia e chegava à nova capital do império. Em 397, o bispo
da capital, Nectário, que sucedera a Gregório Nazianzeno, acabava de morrer.
Intimado a comparecer à Capital do Império, foi eleito o Bispo de
Constantinopla, a Sé do Oriente. João começou uma grande reforma,
desembaraçando a casa episcopal do luxo, fazia suas refeições sozinho e acabou
com as recepções suntuosas. Reformou as ordens de vida dos clérigos e dos
monges, organizou a Reforma Litúrgica com a preocupação de levar Deus aos
homens pela Divina Liturgia.
O texto da Divina Liturgia
(Santa Missa) que toda a Igreja Ortodoxa celebra em todo o mundo, é conhecida
como sendo de São João Crisóstomo.
Empreendeu a evangelização
das zonas agrícolas e esforçou-se para trazer à ortodoxia aos pagãos, que eram
numerosos na região. Combateu as seitas heréticas com intransigência e rudeza.
Em 402, São João Crisóstomo
foi deposto e exilado acusado de não coadunar os interesses da Igreja com as do
Império. O bispo foi detido em sua catedral, durante a celebração pascal.
Depois de uma palavra de despedida, João deixou a sua igreja que jamais haveria
de rever. O exílio foi penoso. João foi enviado para uma aldeia, Cucusa, na
fronteira com a Armênia.
A saúde do bispo achava-se
enfraquecida. O clima era duro e desfavorável para o seu estado. A maior parte
de suas cartas data dessa época. Este homem atingido em cheio pela provação
procurou mais consolar do que ser consolado.
No sofrimento, pensava nos
outros. Finalmente morreu, no dia 14 de setembro de 407, festa da Exaltação da
Santa Cruz. Suas últimas palavras foram: "Glória a Deus por tudo."
Os contemporâneos
descrevem-nos João Crisóstomo como um homem de estatura baixa, de rosto magro,
de testa enrugada, de cabeça calva. Tinha voz fraca. As austeridades
comprometeram definitivamente sua saúde. Não falava para ser escutado, falava
para instruir, exortar, reformar, preocupado com o combate aos costumes pagãos
e com a instauração da moral do Evangelho. Era um reformador, um missionário.
Se não era um teólogo original, era um pastor incomparável. Sua pregação
desempenhou na liturgia bizantina o mesmo papel que a de Agostinho no Ocidente.
Ele foi lido, copiado, traduzido, imitado. De todos os Padres da Igreja, São
João Crisóstomo é aquele cuja pregação menos envelheceu. Sua pregação moral e
social parece escrita hoje.
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