Mártir da Fé, Mãe da Boêmia, Santa Ludmila nos ensina a importância de
educar os filhos na fé e no seguimento de Jesus.
A região da Boêmia (República Checa) começou a ser evangelizada a partir
do século VII, mas somente com a organização de um Estado e com a ascensão ao
trono ducal de Borivar, o primeiro duque cristão da Boêmia, é que o Catolicismo
firmou-se e começou a alcançar progressos consideráveis. Em 873, o duque
Borivar casou-se com Ludmila, princesa piedosa, sagaz e ardente propulsora da
Fé católica, de quem teve três filhos e três filhas.
Ajudada pelo presbítero Paulo, capelão da corte, discípulo dos grandes
evangelizadores dos eslavos, depois do batismo do marido celebrado por São
Metódio, Ludmila também se converteu à fé cristã e recebeu os sacramentos das
mãos do mesmo Santo, cerca do ano 874. Borivar mandou construir o Castelo de
Praga, onde foi erigida a primeira igreja católica da Boêmia, dedicada a São
Clemente.
Após a morte de seu marido, ocorrida em 894, Ludmila distribuiu a maior
parte dos seus bens e passou a se dedicar a uma vida de intensa piedade.
Durante o governo de seu filho Spytihnev, teve enorme influência sobre o reino.
Depois da morte deste, subiu ao trono seu outro filho, Wratislau. Infelizmente
o pai não impedira Wratislau de contrair matrimônio com Draomira, princesa
pagã, de má índole e totalmente entregue ao culto dos ídolos.
Wratislau continuou o trabalho apostólico de Borivar com grande empenho.
Embora Draomira simulasse ter-se convertido, não escapava à sagacidade da
duquesa Ludmila a falsidade da nora. Por isto, ao nascer-lhe os filhos
Venceslau (907-935) e Boleslau, pediu a duquesa-mãe licença ao seu filho para
educar os dois netos. Draomira, contudo, consentiu na separação do primogênito,
conservando consigo Boleslau.
No palácio da avó, em Praga, Venceslau recebeu sólida formação religiosa
e cultural, bem como o aprendizado na carreira das armas, alcançando tal
progresso, seja na virtude, seja nas ciências, que chegou a ser reputado um dos
melhores príncipes de seu tempo.
Venceslau tinha apenas treze anos quando seu pai pereceu numa batalha
contra os húngaros. Embora o duque tivesse deixado a regência à sua mãe
Ludmila, a nora, auxiliada por sectários e à custa de subornos, tomou as rédeas
do governo. Draomira, mãe dos infantes, ficou regente e governadora do Estado,
enquanto o príncipe herdeiro não chegasse à maioridade.
Não tendo mais o marido para contê-la, Draomira deu livre curso a seu
ódio contra a Religião Católica, decretando o fechamento das igrejas, proibindo
o culto divino e a evangelização. Nas escolas houve proibição absoluta de se
falar de Deus. Os professores católicos foram substituídos pelos pagãos.
Sacerdotes e monges foram proscritos. Ao mesmo tempo, Draomira concedeu amplos
privilégios aos pagãos. A desolação e a impiedade reinavam na corte dessa nova
Jezabel.
Porém, Santa Ludmila vigiava. Com muita diplomacia foi preparando
terreno para que Venceslau fosse aclamado duque aos dezoito anos. Nessa
ocasião, então, a combativa princesa obteve de todas as regiões uma completa e
irrestrita adesão a Venceslau, cujos predicados constituíam a honra e o orgulho
da Boêmia.
Venceslau ascendeu ao poder, exilou sua mãe e irmão numa província
afastada e iniciou o trabalho de restabelecimento da ordem tumultuada pelos
cinco anos de despotismo da sanguinária Draomira. Alcançou tanto êxito nessa
tarefa, por sua sabedoria e prudência, que em pouco tempo transformou-se na
expressão mais pura da majestade real e cristã, que iria ter em São Luís, três
séculos mais tarde, um exemplo perfeito.
Este príncipe tornou-se o pai dos pobres, o protetor dos órfãos e o
guardião da justiça; mas, sobretudo, o paladino da Religião. Sua força e
virtude provinham do amor à Sagrada Eucaristia e à Virgem Maria, em cuja honra
fez voto de castidade perpétua.
Do seu exílio, Draomira tentava destruir a obra do filho. Convencida de
que sua sogra, Santa Ludmila, era a grande incentivadora do neto, mandou
assassiná-la, crime que seus sectários executaram estrangulando-a, enquanto
rezava em seu oratório, na noite de 15 de setembro de 920.
Colocado o túmulo da rainha mártir numa esplanada, próximo do seu
castelo em Tetín, não tardou que o culto a Ludmila logo se espalhasse; junto ao
seu túmulo muitos milagres ocorreram e um perfume se expandia pelo entorno, à
noite via-se sobre ele uma luz misteriosa.
Draomira furiosa, com tal manifestação divina, mandou edificar ali uma
capela em louvor de São Miguel, para atribuir ao Arcanjo tantos prodígios.
Venceslau fez transladar o corpo da avó da Tetín a Praga; no dia 10 de
outubro de 926 os despojos e receberam sepultura definitiva na Basílica de São
Jorge, na mesma cidade. Esta transferência não tinha caráter de culto oficial,
mas apenas atribuir à velha rainha digna sepultura numa igreja, como então se
usava.
Só em 1142, o clero de Praga tratou de obter o reconhecimento oficial do
culto, concedido pela Santa Sé um ano depois, uma vez efetuado o processo no
qual se examinaram as suas altas virtudes de abnegação e devotamento pelo bem
do seu povo até aceitar a morte antes que atraiçoar seus ideais. O reconhecimento
do culto foi dado em 1143-1144, durante a visita do Legado Pontifício, Guido di
Castello, a Praga.
Santa Ludmila é representada com os trajes ducais e sua festa é
celebrada no dia 16 de setembro. Há uma vasta literatura sobre a vida de Santa Ludmila,
dela somente ou combinada com a de seu neto São Venceslau.
Ela foi reconhecida como mártir da Fé; nos séculos seguintes foi
proclamada "mãe da Boêmia", desenvolvendo-se mais e mais a devoção,
ainda hoje muito florescente.
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