Nºs 86 a 90
O ambiente digital
caracteriza o mundo atual. Grande parte da humanidade vive mergulhada nele de
maneira ordinária e contínua. Já não se
trata apenas de “usar” instrumentos de comunicação, mas de viver numa cultura
amplamente digitalizada que tem impactos muito profundos na noção de tempo e
espaço, na percepção de si mesmo, dos outros e do mundo, na maneira de
comunicar, aprender, obter informações, entrar em relação com os outros.
Uma abordagem da realidade, que tende a privilegiar a imagem relativamente à
escuta e à leitura, influencia o modo de aprender e o desenvolvimento do
sentido crítico.
A internet e as redes
sociais geraram uma nova maneira de comunicar e criar vínculos, sendo uma
“praça” onde os jovens passam muito tempo e se encontram facilmente, embora nem
todos tenham acesso igual, particularmente nalgumas regiões do mundo. Em todo o caso, constituem uma oportunidade
extraordinária de diálogo, encontro e intercâmbio entre as pessoas, bem como de
acesso à informação e ao saber. Além disso, o mundo digital é um contexto
de participação sociopolítica e de cidadania ativa, podendo facilitar a
circulação duma informação independente capaz de tutelar eficazmente as pessoas
mais vulneráveis, revelando as violações dos seus direitos. Em muitos países, a web e
as redes sociais já constituem um lugar indispensável para se alcançar e
envolver os jovens nas próprias iniciativas e atividades pastorais.
Mas, para entender
este fenômeno na sua totalidade, é preciso reconhecer que possui – como toda a
realidade humana – limites e deficiências. Não
é salutar confundir a comunicação com o simples contato virtual. De facto, o
ambiente digital é também um território de solidão, manipulação, exploração e
violência, até ao caso extremo da dark web.
Os meios de
comunicação digitais podem expor ao risco de dependência, isolamento e perda
progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento
de relações interpessoais autênticas. Difundem-se novas formas de violência
através das redes sociais, como o cyberbullying; a web é também
um canal de difusão da pornografia e de exploração de pessoas para fins sexuais
ou através do jogo de azar
Não se deve esquecer
que há interesses econômicos gigantescos que operam no mundo digital, capazes
de realizar formas de controle que são tão sutis quanto invasivas, criando
mecanismos de manipulação das consciências e do processo democrático. O funcionamento
de muitas plataformas acaba frequentemente por favorecer o encontro entre
pessoas com as mesmas ideias, dificultando o confronto entre as diferenças.
Estes circuitos fechados facilitam a divulgação de informações e notícias
falsas, fomentando preconceitos e ódio.
Os próprios jovens
reconhecem: as relações on-line podem tornar-se desumanas. Os espaços
digitais não nos deixam ver a vulnerabilidade do outro e dificultam a reflexão
pessoal. Problemas como a pornografia distorcem a percepção que o jovem tem da
sexualidade humana. A tecnologia usada desta maneira cria uma realidade
paralela ilusória que ignora a dignidade humana.
A imersão no mundo
virtual favoreceu um distanciamento da família, dos valores culturais e
religiosos, que leva muitas pessoas para um mundo de solidão e auto invenção
chegando ao ponto de sentir a falta de raízes, embora fisicamente permaneçam no
mesmo lugar.
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