André Bobola nasceu
no ano de 1592 na Polônia, de família ilustre e religiosa. Desde pequeno
notaram no menino os dons extraordinários com que Deus tinha cumulado sua alma.
Estudou no colégio jesuíta de sua cidade natal, onde já era apontado pelos
mestres como modelo para os outros estudantes.
Com a idade de 21
anos, entrou para a Companhia de Jesus em Wilna. Fez profissão religiosa, sendo
depois encarregado da educação da juventude em vários colégios jesuítas,
conquistando os alunos por sua amabilidade e bondade.
Era corpulento, mas
de baixa estatura. Seu ar nobre, afável e piedoso atraía as pessoas. Com longa
barba, excelente espírito, memória feliz e expressão acolhedora, ia direto aos
corações. Era, entretanto, sua profunda convicção e fé o que mais atraía.
No dia 2 de junho de
1630, fez sua profissão solene e tornou-se superior da residência dos jesuítas
em Bobruisk. Nesse tempo pôde revelar sua ardente caridade durante uma epidemia
que dizimou a Lituânia, cuidando dos enfermos, arriscando a própria vida.
Demitiu-se em 1636 do
cargo de superior, para dedicar-se exclusivamente às missões. Seu campo de ação
foi sobretudo o reino da Lituânia, que ele percorreu por inteiro em suas
caminhadas apostólicas.
Por esse tempo os
cossacos da Ucrânia, os russos e os tártaros devastavam a Polônia, e a fé
católica era objeto dos ataques simultâneos de protestantes e cismáticos. Os
jesuítas, em particular, eram os mais odiados. Muitos foram expulsos de suas
casas e levados em cativeiro. Era uma época muito difícil para o apostolado,
entretanto o Padre Bobola não se detinha diante dessas dificuldades. Ele podia
dizer como São Paulo: "Ai de mim se
não evangelizar".
Janow, uma das
cidades mais cultas da Lituânia, contava com apenas dois católicos quando ele
começou a evangelizá-la. Seu trabalho foi tão abençoado que, à sua morte, praticamente
toda a cidade tinha voltado à verdadeira fé. Mesmo os fiéis da Igreja Ortodoxa
russa, cismática, não podiam resistir à sua pregação, e se convertiam em grande
número à verdadeira Igreja.
Os sacerdotes cismáticos,
não podendo segurar esses fiéis em suas fileiras, voltavam contra o missionário
todo seu ódio. E davam dinheiro a desclassificados para atacarem-no com
injúrias e maus tratos. Como isso não adiantasse, idealizaram outro método
ainda mais grosseiro de prejudicar o Padre Bobola: arrebanharam meninos de rua
e os instruiram tão bem, que eles esperavam o missionário sair de sua
residência e o acompanhavam depois, atiravam-lhe os objetos mais vis, em meio a
tremenda algazarra. Se o santo ia visitar um enfermo, esperavam-no do lado de
fora, gritando contra ele os mais injuriosos palavrões. Faziam o mesmo quando
ele ia pregar. E assim procuravam tornar sua vida impossível.
Mas o Santo
permanecia impassível diante de tanta injúria, mostrando mesmo para com esses
moleques uma bondade, uma paz de coração, um desejo de fazer-lhes bem, que
teria convertido pedras em filhos de Abraão. Mas os sacerdotes cismáticos o
tinham previsto, e acautelavam os meninos contra esse "feitiço".
Assim, quando o sacerdote procurava dirigir-lhes a palavra, afastavam-se
gritando: "Cão jesuíta! Cão papista! Ladrão de almas! Feiticeiro!
Feiticeiro!".
Entretanto, vendo que
nada disso conseguia impedi-lo de continuar seu apostolado avassalador,
determinaram tirar-lhe a vida. Para isso chamaram em seu auxílio os cossacos,
que haviam invadido a Polônia.
Foi então que os
jesuítas, e entre eles o Padre Bobola, retiraram-se para Janow, onde poderiam
ser mais úteis aos católicos perseguidos. Mas não tardou a aparecer nessa
cidade um destacamento de cossacos, a quem os cismáticos tinham informado o
paradeiro do missionário.
No dia 16 de maio de
1657, Santo André Bobola estava na pequena cidade de Perezdyle, onde fora
pregar em preparação para a festa da Ascenção. À notícia da aproximação dos
cossacos, os fiéis pressionaram o santo para que fugisse. Dois dos cossacos
alcançaram-no, despiram-no, amarraram-no a uma árvore e o moeram de golpes. Era
o começo de uma série inaudita de tormentos, que só o ódio religioso pode
suscitar. Sobre esse tremendo martírio, a Sagrada Congregação dos Ritos afirmou
ser "talvez o martírio mais cruel que jamais se submeteu ao exame desta
Sagrada Congregação".
Levado para os
chefes, estes quiseram de todos os modos obter a apostasia do santo padre, e como
nada conseguissem, ataram-no a um poste e o flagelaram impiedosamente durante
largo tempo. Em seguida aplicaram-lhe em redor da cabeça dois galhos de um
arbusto e os apertaram por meio de torções e contorções, provocando-lhe dores
atrozes. Arrancaram-lhe então a pele das mãos, deixando-as em carne viva.
Mas não pararam aí.
Ligaram-no às selas de dois cavaleiros e o obrigaram a segui-los até Janow.
Como ele não andava com a velocidade desejada pelos cossacos, estes lhe deram
vários golpes, fazendo duas profundas feridas nos braços.
À entrada de Janow
havia uma pequena casa destinada ao matadouro público. Ali levaram o santo,
amarraram-no a um banco, e com tochas foram-lhe queimando a fogo lento os lados
e o peito. Lembrando-se de que a vítima era sacerdote católico, cortaram a pele
da sua cabeça no local da tonsura eclesiástica, deixando os ossos do crânio a
descoberto. As mãos que tinham recebido a unção sagrada, e às quais já haviam
arrancado a pele, foram ainda mais mutiladas. Cortaram as falanges de ambos os
polegares, que serviam para a Consagração, e o indicador da mão direita,
desligando os músculos da mão esquerda para arrancarem os dedos juntamente com
a pele. Virando-lhe o corpo, tiraram a pele das costas e de uma parte dos
braços e lançaram palha de cevada moída sobre a carne viva. Afiaram depois
estiletes de madeira e meteram-nos debaixo das unhas dos artelhos e dos dedos.
A exemplo de Nosso Senhor em sua Paixão, tudo isso era entremeado com pancadas
e bofetadas tão fortes, que fizeram saltar vários dentes, deixando enormemente inchada
a face.
Um requinte ainda era
necessário: a língua, que tanto pregara, necessitava ser arrancada. Por isso,
depois de lhe vazarem um olho, de cortaram seu nariz e de lhe rasgarem os
lábios, abriram a garganta e arrancaram-lhe toda a língua. Depois tomaram um
estilete e o espetaram no coração. Como o corpo martirizado ainda se contorcia,
diziam rindo: "Como dança esse polaco!". Finalmente deram-lhe dois
golpes de misericórdia.
Contam que nesse
momento uma luz sobrenatural apareceu sobre Janow, e os cossacos fugiram a toda
pressa. Os católicos o enterraram no colégio dos jesuítas de Pinsk.
Anos mais tarde os
cossacos da Ucrânia voltaram a invadir a Lituânia meridional. No colégio de
Pinsk, os jesuítas temeram por sua sorte. O superior se perguntava a qual santo
recorrer nessa emergência, e na noite de 19 de abril de 1702 apareceu-lhe um
religioso com o hábito jesuíta, que lhe disse: "Tendes necessidade de um protetor junto a Deus. Por que não vos
dirigis a mim? Sou André Bobola, morto em ódio à fé pelos cossacos. Procurai
meu corpo, eu serei o defensor do colégio".
Encontraram então o
túmulo do mártir num canto da igreja do colégio, onde permanecia no
esquecimento. Após 45 anos da morte, seu corpo estava incorrupto, coberto com
os mil ferimentos do martírio, nos quais se via ainda o sangue fresco. A carne
permanecia branda e flexível. Foi assim, por esse milagre estupendo, que a
Providência quis tornar conhecidos muitos dos detalhes do martírio desse grande
defensor da fé. Em seu processo de beatificação, é dito que foi ele mesmo o
verdadeiro postulador de sua causa.
Santo André Bobola
foi beatificado pelo Papa Pio IX. Mas seu "martírio" post-mortem não
cessara ainda. Quando os bolchevistas dominaram a Polônia, arrebataram
violentamente as suas relíquias e as levaram para Moscou. Foi só depois de
muitas e demoradas negociações que a Santa Sé as conseguiu de volta, em 2 de
novembro de 1923. Pio XI o canonizou solenemente em 1938, e mais tarde ele se
tornou protetor da Polônia.
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