quarta-feira, 22 de maio de 2019

Christus vivit: Percursos de Juventude: O crescimento e o amadurecimento – nºs 158 a 162


Nºs 158 a 162

Muitos jovens vivem preocupados com o seu corpo, procurando desenvolver a força física ou melhorar o aspecto exterior. Outros preocupam-se por desenvolver as suas capacidades e conhecimentos, e assim sentem-se mais seguros. Alguns apostam mais alto, comprometendo-se mais e procurando progredir espiritualmente. Dizia São João: Eu vos escrevi, jovens, vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós (IJo 2, 14).
Buscar o Senhor, guardar a sua Palavra, procurar corresponder-lhe com a própria vida, crescer nas virtudes: isto torna fortes os corações dos jovens. Para isso, é preciso manter a união com Jesus, estar em sintonia com Ele, uma vez que não crescerás na felicidade e santidade só com as tuas forças e a tua mente. Assim como te preocupas por não perder a conexão com a internet, assegura-te de igual modo que esteja ativa a tua ligação com o Senhor, o que significa não interromper o diálogo, escutá-Lo, contar-Lhe as tuas coisas e, quando não souberes claramente o que deves fazer, pergunta-Lhe:
 Jesus, que farias Tu no meu lugar?

Espero que possas manter a autoestima e levar-te tão a sério que procures o teu crescimento espiritual. Além do entusiasmo próprio da juventude, há também o encanto de buscar a justiça, a fé, o amor e a paz. Isto não significa perder a espontaneidade, o frescor, o entusiasmo, a ternura. Com efeito, tornar-se adulto não significa abandonar os valores melhores desta fase da vida; caso contrário, o Senhor poderia um dia censurar-te: Recordo-Me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando Me seguias no deserto (Jr 2, 2).

Aliás o próprio adulto deve amadurecer, sem perder os valores da juventude. Na realidade, cada fase da vida é uma graça permanente, contém um valor que não deve passar. Uma juventude bem vivida permanece como experiência interior e, na vida adulta, é assimilada, aprofundada e continua a dar os seus frutos.
Se é próprio do jovem sentir-se atraído pelo infinito que se abre e começa, um risco da vida adulta – com as suas seguranças e comodidades – consiste em ir esquecendo progressivamente tal horizonte e perder aquele valor próprio dos anos da juventude; quando deveria suceder o contrário: amadurecer, crescer e organizar a própria vida sem perder aquela atração, aquela abertura ampla, aquele fascínio por uma realidade que cresce sem cessar.
Em cada momento da vida, podemos renovar e fazer crescer a nossa juventude. Quando comecei o meu ministério como Papa, o Senhor alargou os meus horizontes e deu-me uma renovada juventude. O mesmo pode acontecer com um casal já com muitos anos de matrimónio, ou com um monge no seu mosteiro. Há coisas que precisam dos anos para se consolidar, mas este amadurecimento pode coexistir com um fogo que se renova, com um coração sempre jovem.

Crescer quer dizer conservar e alimentar as coisas mais preciosas que te oferece a juventude, mas ao mesmo tempo significa estar disponível para purificar o que não é bom e receber novos dons de Deus, que te chama a desenvolver o que tem valor. Às vezes, os complexos de inferioridade podem levar-te a não quereres ver os teus defeitos e fragilidades, fechando-te assim ao crescimento e à maturação. É melhor deixares-te amar por Deus, que te ama como és, aprecia-te e respeita-te, não cessando, porém, de te cumular cada vez mais da sua amizade, fervor na oração, fome da sua Palavra, anseio de receber Cristo na Eucaristia, vontade de viver o seu Evangelho, força interior, paz e alegria espiritual.

Lembro-te, porém, que não serás santo nem te realizarás copiando os outros. Quando se fala em imitar os santos, não significa copiar o seu modo de ser e de viver a santidade: Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós.
Tens de descobrir quem és e desenvolver o teu modo pessoal de seres santo, independentemente daquilo que digam e pensem os outros. Fazeres-te santo é tornar-te mais plenamente tu próprio, aquele que Deus quis sonhar e criar, não uma fotocópia.
A tua vida deve ser um estímulo profético que sirva de inspiração para os outros, que deixe uma marca neste mundo, aquela marca única que só tu poderás deixar. Ao passo que, se copiares, privarás esta terra e também o Céu daquilo que mais ninguém poderá oferecer no teu lugar. Lembro-me que São João da Cruz deixou escrito, no seu Cântico Espiritual, que cada um devia servir-se dos seus conselhos espirituais, a seu modo, porque o próprio Deus quis manifestar a sua graça a uns duma maneira e a outros de outra.


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