Nºs 134 a 143
Como se vive a
juventude, quando nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do
Evangelho?
Trata-se duma
pergunta importante que devemos fazer, pois a juventude não é motivo de que
possamos nos vangloriar, mas um dom de Deus: ser jovem é uma graça, uma ventura.
No
tempo de Jesus, a saída da infância era uma passagem vital muito esperada, que
se festejava e vivia intensamente. Assim, quando Jesus devolveu a vida a uma menina,
fê-la avançar um passo, fê-la crescer e tornar-se moça. Ao mesmo tempo que lhe
dizia moça, levanta-te! (talitá kum), tornou-a mais responsável da sua
vida abrindo-lhe as portas da juventude.
Como
fase do desenvolvimento da personalidade, a juventude está marcada por sonhos
que se vão formando, relações que adquirem consistência sempre maior e
equilíbrio, tentativas e experiências, opções que constroem gradualmente um
projeto de vida. Nesta época da vida, os jovens são chamados a lançar-se para
diante, mas sem cortar com as raízes, a construir sua autonomia, mas não
sozinhos.
O
amor de Deus e a nossa relação com Cristo vivo não nos impedem de sonhar, não restringe
os nossos horizontes. Pelo contrário, esse amor instiga-nos, estimula-nos,
lança-nos para uma vida melhor e mais bela. A palavra inquietude resume muitas das aspirações do coração dos jovens. Como
dizia São Paulo VI, precisamente nas insatisfações
que vos atormentam (…) há um elemento de luz. A inquietude insatisfeita
juntamente com a admiração pelas novidades que assomam ao horizonte abrem
caminho à ousadia que os impele a tomar a sua vida nas próprias mãos e a
tornar-se responsáveis por uma missão. A verdadeira paz interior convive com
esta profunda insatisfação. Dizia Santo Agostinho: Senhor, criastes-nos para Vós e o nosso coração não descansa enquanto
não repousar em Vós.
Algum
tempo atrás, um amigo perguntou-me o que vejo quando penso num jovem. A minha
resposta foi que vejo um jovem ou uma
jovem à procura do seu próprio caminho, que quer voar com os pés, que assoma ao
mundo e fixa o horizonte com olhos cheios de esperança, cheios de futuro e
também de ilusões. O jovem caminha com dois pés como os adultos, mas, ao
contrário dos adultos que os mantêm paralelos, aquele coloca um atrás do outro,
pronto a arrancar, a partir. Sempre a olhar para diante. Falar de jovens significa
falar de promessas, significa falar de alegria. Os jovens têm tanta força, são
capazes de olhar com tanta esperança! Um jovem é uma promessa de vida, que traz
em si um certo grau de tenacidade; tem um grau suficiente de insensatez para
poder enganar-se a si mesmo e uma capacidade suficiente para curar a decepção
que daí pode derivar.
Alguns
jovens talvez rejeitem esta fase da vida, porque gostariam de continuar a ser
crianças, ou desejam um prolongamento indefinido da adolescência e o adiamento
das decisões; o medo do definitivo gera, assim, uma espécie de paralisia
decisória. Mas a juventude não pode permanecer um tempo suspenso: é a idade das opções, consistindo, nisto
mesmo, o seu encanto e a sua tarefa maior. Os jovens tomam decisões nas
áreas profissional, social e política, e outras ainda mais radicais que
determinarão a fisionomia da sua existência. E tomam decisões também a
propósito do amor, com a escolha do seu par e na opção de ter os primeiros
filhos.
Mas, contra os sonhos
que inspiram as decisões, há sempre a ameaça da lamentação, da resignação.
Estas deixemo-las aos que seguem a deusa lamentação! (...) é um engano: faz com
que te encaminhes pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e
estagnado, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais
não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido. O caminho é Jesus: façamo-Lo subir para o
nosso barco e façamo-nos ao largo com Ele. Ele é o Senhor! Ele muda a
perspectiva da vida. A fé em Jesus conduz-nos a uma esperança que vai mais
além, a uma certeza fundada não só nas nossas qualidades e habilidades, mas na
Palavra de Deus, no convite que vem d’Ele.
Devemos perseverar no
caminho dos sonhos. Para isso, é preciso ter cuidado com uma tentação que
muitas vezes nos engana: a ansiedade. Pode tornar-se uma grande inimiga, quando
leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se com
esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas. Ao mesmo
tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros; devemos, sim, ter
medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida, sujeitos que não
vivem porque não querem arriscar, não perseveram nos seus compromissos ou têm
medo de errar. Ainda que erres, poderás
sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te
roubar a esperança.
Jovens, não
renuncieis ao melhor da vossa juventude, não fiqueis a observar a vida da
sacada. Não confundais a felicidade com um sofá nem
passeis toda a vossa vida diante dum visor. Não sejais carros estacionados, mas
deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Ainda
que vos enganeis, arriscai. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos
paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri as portas da gaiola e saí a
voar! Por favor, não vos aposenteis antes do tempo.
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