sexta-feira, 17 de maio de 2019

Christus vivit: Percursos de Juventude: Tempo de sonhos e opções – nºs 134 a 143


Nºs 134 a 143

Como se vive a juventude, quando nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do Evangelho?
Trata-se duma pergunta importante que devemos fazer, pois a juventude não é motivo de que possamos nos vangloriar, mas um dom de Deus: ser jovem é uma graça, uma ventura.

No tempo de Jesus, a saída da infância era uma passagem vital muito esperada, que se festejava e vivia intensamente. Assim, quando Jesus devolveu a vida a uma menina, fê-la avançar um passo, fê-la crescer e tornar-se moça. Ao mesmo tempo que lhe dizia moça, levanta-te! (talitá kum), tornou-a mais responsável da sua vida abrindo-lhe as portas da juventude.

Como fase do desenvolvimento da personalidade, a juventude está marcada por sonhos que se vão formando, relações que adquirem consistência sempre maior e equilíbrio, tentativas e experiências, opções que constroem gradualmente um projeto de vida. Nesta época da vida, os jovens são chamados a lançar-se para diante, mas sem cortar com as raízes, a construir sua autonomia, mas não sozinhos.

O amor de Deus e a nossa relação com Cristo vivo não nos impedem de sonhar, não restringe os nossos horizontes. Pelo contrário, esse amor instiga-nos, estimula-nos, lança-nos para uma vida melhor e mais bela. A palavra inquietude resume muitas das aspirações do coração dos jovens. Como dizia São Paulo VI, precisamente nas insatisfações que vos atormentam (…) há um elemento de luz. A inquietude insatisfeita juntamente com a admiração pelas novidades que assomam ao horizonte abrem caminho à ousadia que os impele a tomar a sua vida nas próprias mãos e a tornar-se responsáveis por uma missão. A verdadeira paz interior convive com esta profunda insatisfação. Dizia Santo Agostinho: Senhor, criastes-nos para Vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em Vós.

Algum tempo atrás, um amigo perguntou-me o que vejo quando penso num jovem. A minha resposta foi que vejo um jovem ou uma jovem à procura do seu próprio caminho, que quer voar com os pés, que assoma ao mundo e fixa o horizonte com olhos cheios de esperança, cheios de futuro e também de ilusões. O jovem caminha com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, aquele coloca um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Sempre a olhar para diante. Falar de jovens significa falar de promessas, significa falar de alegria. Os jovens têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! Um jovem é uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade; tem um grau suficiente de insensatez para poder enganar-se a si mesmo e uma capacidade suficiente para curar a decepção que daí pode derivar.

Alguns jovens talvez rejeitem esta fase da vida, porque gostariam de continuar a ser crianças, ou desejam um prolongamento indefinido da adolescência e o adiamento das decisões; o medo do definitivo gera, assim, uma espécie de paralisia decisória. Mas a juventude não pode permanecer um tempo suspenso: é a idade das opções, consistindo, nisto mesmo, o seu encanto e a sua tarefa maior. Os jovens tomam decisões nas áreas profissional, social e política, e outras ainda mais radicais que determinarão a fisionomia da sua existência. E tomam decisões também a propósito do amor, com a escolha do seu par e na opção de ter os primeiros filhos.

Mas, contra os sonhos que inspiram as decisões, há sempre a ameaça da lamentação, da resignação. Estas deixemo-las aos que seguem a deusa lamentação! (...) é um engano: faz com que te encaminhes pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnado, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido. O caminho é Jesus: façamo-Lo subir para o nosso barco e façamo-nos ao largo com Ele. Ele é o Senhor! Ele muda a perspectiva da vida. A fé em Jesus conduz-nos a uma esperança que vai mais além, a uma certeza fundada não só nas nossas qualidades e habilidades, mas na Palavra de Deus, no convite que vem d’Ele.

Devemos perseverar no caminho dos sonhos. Para isso, é preciso ter cuidado com uma tentação que muitas vezes nos engana: a ansiedade. Pode tornar-se uma grande inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros; devemos, sim, ter medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida, sujeitos que não vivem porque não querem arriscar, não perseveram nos seus compromissos ou têm medo de errar. Ainda que erres, poderás sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a esperança.

Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não fiqueis a observar a vida da sacada. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante dum visor. Não sejais carros estacionados, mas deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Ainda que vos enganeis, arriscai. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri as portas da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes do tempo.


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