No terceiro
Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus afirma,
essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa
caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna,
de realização plena, de felicidade perfeita.
A primeira
leitura mostra como Deus acompanhou a caminhada dos hebreus pelo
deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do
seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a
lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.
A segunda
leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu
Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em
oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.
O Evangelho
garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a
felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom
de Deus e aceita Jesus como «o salvador do mundo» torna-se um Homem Novo, que
vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.
Lendo a
passagem da samaritana a partir de um sentido místico, é possível ler Jesus que
pede “Dá-me de beber” como um Esposo
que sente sede das almas que desposa. Logo depois, porém, Ele revela que é Ele
mesmo quem nos quer dar de beber: “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que
te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água
viva”. A samaritana, não compreendendo o significado profundo das palavras de
Jesus, dá-lhe ocasião de explicar que o poço de água viva de que fala não é o
poço de Jacó, mas Ele mesmo: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de
novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a
água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida
eterna”. Essa “fonte de água” na alma dos que creem no Cristo é, como explica
Jesus mais adiante, o dom do Espírito Santo.
Neste Evangelho, existe também um
paralelo muito próximo com o que acontece na Cruz. Assim como Jesus se senta
próximo ao poço, pedindo de beber, pendurado no madeiro da cruz, Ele diz: “Tenho sede”. E assim como, depois, Ele
revela ser a fonte de que brota água viva, na Cruz, de seu lado aberto, jorram
sangue e água. Nessas passagens, Jesus mostra ser a rocha da verdadeira água; a
de Meriba, lembrada na primeira leitura de hoje, era apenas uma prefiguração.
Mostra também ser a fonte maravilhosa que jorra do templo, profetizada por
Ezequiel.
Aplicando tudo isso à nossa vida, somos
chamados a amar a Deus. Ele tem sede do nosso amor: seja à beira do poço, onde
acontece o matrimônio místico entre Cristo e a alma esposa, seja no madeiro da
Cruz, onde Ele manifesta seu amor infinito por nós e nos pede que O amemos de
volta. Deus tem sede de nós, rebaixa-se de modo a necessitar-Se do nosso amor.
Fá-lo porque, em Seu amor, é Ele mesmo quem quer Se dar a nós: “Se tu
conhecesses o dom de Deus (...), tu mesma lhe pedirias (...) e ele te daria
água viva”.
Mas, como corresponder a esse grande
amor divino? Precisamos entender que só Deus pode dar-nos a virtude de amá-Lo
com verdadeira caridade. Por isso, é importante que Lhe peçamos essa graça,
assim como o fez a samaritana: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha
mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la”.
Do mesmo modo que atendeu ao pedido
daquela mulher – tanto que, de seu primeiro amor interesseiro, ela passa a
reconhecer Jesus como o próprio Messias, abandonando o seu cântaro à beira do
poço para anunciá-Lo –, Ele atenderá o nosso pedido, fazendo-nos evoluir do
amor dos principiantes – que começa com a luta sincera contra o pecado mortal –
passar pelo amor dos mais adiantados – no combate ao pecado venial e às doenças
espirituais, na busca de estar mais a sós com Deus e no amor ao próximo – até
chegar, finalmente, ao amor dos perfeitos – no qual, como canta São João da
Cruz, “Só o amor é o meu exercício”.
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