No início
da nossa caminhada quaresmal, a Palavra de Deus convida-nos à “conversão” –
isto é, a recolocar Deus no centro da nossa existência, a aceitar a comunhão
com Ele, a escutar as suas propostas, a concretizar no mundo – com fidelidade –
os seus projetos.
A primeira
leitura afirma que Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena.
Quando escutamos as propostas de Deus, conhecemos a vida e a felicidade; mas,
sempre que prescindimos de Deus e nos fechamos em nós próprios, inventamos
esquemas de egoísmo, de orgulho e de prepotência e construímos caminhos de
sofrimento e de morte.
A segunda
leitura propõe-nos dois exemplos: Adão e Jesus. Adão representa o homem que
escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhos da
salvação e da vida plena; Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às
propostas de Deus e que vive na obediência aos projetos do Pai. O esquema de
Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; o esquema de Jesus gera vida plena e
definitiva.
O Evangelho apresenta, de forma mais clara, o exemplo de Jesus. Ele recusou – de forma absoluta – uma vida vivida à margem de Deus e dos seus projetos. A Palavra de Deus garante que, na perspectiva cristã, uma vida que ignora os projetos do Pai e aposta em esquemas de realização pessoal é uma vida perdida e sem sentido; e que toda a tentação de ignorar Deus e as suas propostas é uma tentação diabólica e que o cristão deve, firmemente, rejeitar.
A cena
coloca-nos no deserto. Mateus diz explicitamente que “Jesus foi conduzido pelo
Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo demônio”. Os quarenta dias e
quarenta noites que, de acordo com o relato, Jesus aí passou, resumem os
quarenta anos que Israel passou em caminhada pelo deserto. O deserto é, no
imaginário judaico, o lugar da “prova”, onde os israelitas experimentaram, por
diversas vezes, a tentação do abandono de Deus e do seu projeto de libertação
(embora seja, também, o lugar do encontro com Deus, o lugar da descoberta do
rosto de Deus, o lugar onde o Povo fez a experiência da sua fragilidade e
pequenez e aprendeu a confiar na bondade e no amor de Deus).
A questão
essencial que a Palavra de Deus hoje nos propõe é, portanto, esta: Jesus
recusou, de forma absoluta, conduzir a sua vida à margem de Deus e das suas
propostas. Para Ele, só uma coisa é verdadeiramente decisiva e fundamental: a
comunhão com o Pai e o cumprimento obediente do seu projeto…
E nós, seguidores de Jesus? É essa também a
nossa perspectiva? O que é que é decisivo na minha vida: as propostas de Deus,
ou os meus projetos pessoais?
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