Hoje, a Igreja não celebra
a santidade de um cristão que se encontra no Céu, mas sim, de todos. Isto, para
mostrar concretamente, a vocação universal de todos para a felicidade eterna.
“Todos os fiéis cristãos,
de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à
perfeição da caridade. Todos são chamados à santidade: ‘Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito’ “(Mt
5,48) (CIC 2013).
A Igreja
tem consciência de que o número de santos no céu é muito maior do que aqueles
que foram canonizados e que estão nos altares das Igrejas. A grande maioria é
desconhecida, mas são santos e estão no céu. Por isso, nada mais justo do que
uma festa para celebrá-lo.
Sendo assim, nós passamos
a compreender o sermão do Abade São Bernardo:
Para
que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade?
Que lhes importam as honras terrenas? A eles que, segundo a promessa do Filho,
o Pai celeste glorifica? Os santos não precisam de nossas homenagens. Não há
dúvida alguma, se veneramos os santos, o interesse é nosso, não deles.
Eu por mim, confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se um desejo
veemente.
Em
primeiro lugar, o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o de
gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e
comensais dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos patriarcas,
às fileiras dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao numeroso exército dos
mártires, ao grêmio dos confessores, aos coros das virgens, de associar-nos,
enfim, à comunhão de todos os santos e com todos nos alegrarmos. A assembleia
dos primogênitos aguarda-nos e nós parecemos indiferentes! Os santos
desejam-nos e não fazemos caso; os justos esperam-nos e esquivamo-nos.
Animemo-nos,
enfim, irmãos. Ressuscitemos com Cristo. Busquemos as realidades celestes.
Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos aqueles que nos desejam.
Apressemo-nos ao encontro dos que nos aguardam. Antecipemo-nos pelos votos do
coração aos que nos esperam. Seja-nos um incentivo não só a companhia dos
santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso empenho também a
glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição nem de nenhum
modo é perigosa a paixão pela glória deles.
O
segundo desejo que brota em nós pela comemoração dos santos consiste em que
Cristo, nossa vida, tal como a eles, também apareça a nós e nós juntamente com ele
apareçamos na glória. Enquanto isto não sucede, nossa Cabeça não como é, mas
como se fez por nós, se nos apresenta. Isto é, não coroada de glória, mas com
os espinhos de nossos pecados. É uma vergonha fazer-se de membro regalado, sob
uma cabeça coroada de espinhos. Por enquanto a púrpura não lhe é sinal de
honra, mas de zombaria. Será sinal de honra quando Cristo vier e não mais se
proclamará sua morte, e saberemos que nós estamos mortos com ele, e com ele
escondida nossa vida. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela refulgirão os
membros glorificados, quando transformar nosso corpo humilhado, configurando-o
à glória da Cabeça, que é ele mesmo.
Com
inteira e segura ambição cobicemos esta glória. Contudo para que nos seja
lícito esperá-la e aspirar a tão grande felicidade, cumpre-nos desejar com
muito empenho a intercessão dos santos. Assim, aquilo que não podemos obter por
nós mesmos, seja-nos dado por sua intercessão.
Documentos
históricos atestam que já final do Século II os cristãos celebravam e rezavam
por todos os santos e santas falecidos. Eles rezavam também por todos os
mártires que testemunharam o nome de Jesus e morreram por causa de sua
fé. Por
isto hoje vivemos esta Tradição, na qual nossa Mãe Igreja convida-nos a
contemplarmos os nossos “heróis” da fé, esperança e caridade. Na verdade é um
convite a olharmos para o Alto, pois neste mundo escurecido pelo pecado,
brilham no Céu com a luz do triunfo e esperança daqueles que viveram e morreram
em Cristo, por Cristo e com Cristo, formando uma “constelação”, já que São João
viu: “Era uma imensa
multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas” (Ap 7,9).
A festa
de Todos os Santos começou a ser celebrada oficialmente no ano de 610. E
aconteceu numa data muito especial: foi quando o Papa Bonifácio VI fez a dedicação do panteão, que era templo pagão
romano, a Nossa Senhora e a todos os Santos e Santas da Igreja. Na época, a
festa começou a ser celebrada no dia 13 de maio.
Mais
tarde, o Papa Gregório III (731-741) mudou o dia da celebração para 1º de
novembro, véspera do Dia de todos os fiéis falecidos, celebrado no dia 2 de
novembro. Na ocasião, o Papa Gregório III consagrou uma igreja em Roma. Esta
passou a ser a igreja de todos os Santos.
Finalmente
em 831 o Papa
Gregório IV declarou-a uma festa universal.
Todos estes combatentes de
Deus, merecem nossa imitação, pois foram adolescentes, jovens, homens casados,
mães de família, operários, empregados, patrões, sacerdotes, pobres mendigos,
profissionais, militares ou religiosos que se tornaram um sinal do que o
Espírito Santo pode fazer num ser humano que se decide a viver o Evangelho que
atua na Igreja e na sociedade.
Portanto, a vida destes
acabaram virando proposta para nós, uma vez que passaram fome, apelos carnais,
perseguições, alegrias, situações de pecado, profundos arrependimentos, sede,
doenças, sofrimentos por calúnia, ódio, falta de amor e injustiças; tudo isto,
e mais o que constituem o cotidiano dos seguidores de Cristo que enfrentam os
embates da vida sem perderem o entusiasmo pela Pátria definitiva, pois “não sois mais estrangeiros, nem migrantes; sois concidadãos dos
santos, sois da Família de Deus” (Ef 2,19).
Neste dia a Mãe Igreja faz
este apelo a todos nós, seus filhos: “O apelo à plenitude da vida cristã e à
perfeição da caridade se dirige a todos os fiéis cristãos”.“A perfeição cristã
só tem um limite: ser ilimitada” (CIC 2028).
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