"Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos" (Jo 13, 35). Aqui está a nova Beata Franciszka Siedliska,
Maria de Jesus, Bom Pastor, filha da terra de Mazovia (Polônia), fundadora da
Congregação das Irmãs da Sagrada Família de Nazaré. No meio de toda a oposição
do ambiente do seu tempo, marcada pela cruz de diferentes sofrimentos, ela
caminhou incansavelmente "para o
caminho da fé viva, que estimula a esperança e trabalha através do amor", com
a mesma caridade com que Deus amou o
mundo.
Ela cresceu em uma casa que ela mesma descreveu:
onde Deus não era o Senhor, mas desde a infância que ela tinha em seu coração
um profundo anseio de amor absoluto. Ela o encontrou na primeira Comunhão e,
desde então, permaneceu unida para sempre com Cristo pelo vínculo esponsal do
amor. "Ele é o único propósito, o
único objeto de todo o nosso amor" - escreveu em seu
"Diário".
Ao longo de sua vida, ela foi capaz de trazer
uma oração de forma madura com o apostolado ativo, a iniciativa criativa com a
obediência concreta à vontade de Deus na Igreja. Ela descobriu, em particular,
a necessidade de apoiar o espírito nacional e o renascimento moral da pátria em
uma era de grande depressão, durante a divisão da Polônia.
Fonte de inspiração e um ponto de referência
para ela e suas filhas espirituais foi o modelo da vida escondida da Sagrada
Família de Nazaré.
Nos "Artigos" a congregação do ano
de 1880, ela escreveu, entre outras coisas: "O modelo da nossa vida religiosa é a vida oculta do Senhor Jesus
em Nazaré com Maria e José, que tentamos imitar através da renúncia e da morte
total de nós mesmas e com a vida completamente escondida em Deus com Jesus
Cristo".
Tal foi o teor de vida da Madre Siedliska e o
programa que ela deixou como testamento para suas irmãs. A preocupação com o
homem pobre, doente, tentado pela vida, abandonado, deficientes. A preocupação
com a educação das crianças negligenciadas, sobretudo do ponto de vista
religioso, para a conservação da vida dos ainda não nascidos. Assim: a escola, o hospital, a estrada!
Pela mesma razão, a Bem-aventurada Maria de
Jesus, o Bom Pastor percebeu, a principal fonte de renascimento social na
família cristã saudável. Contemplando a maternidade divina de Maria, ela é
direcionada para a terra, para as tarefas que nela o homem tem de traduzir em
ação: para os deveres dos cônjuges e pais, à dignidade do sacramento do
matrimônio e à grandeza de pais católicos.
Eu gostaria de servir o amor humano, na vida
e no seu desenvolvimento, de modo que nesta vida, este homem que nasceu de pais
unidos a Deus, cresça e amadureça nesta união, para que a vida que vem de Deus seja
tratada no seu desenvolvimento para ele, para que nele encontrar-se
conscientemente o seu criador e Pai.
Essa foi a preocupação e o ideal de renovação
da vida de acordo com o programa de Irmã Siedliska, que ela deixou em seu
testamento, para sua família de Nazaré.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 23 de abril de 1989
Franciszka Anna Józef nasceu em 12 de
novembro de 1842, no castelo polonês de Roszkowa Wola. Sua família, os
Siedliska, tinha laços de parentesco com aristocratas poloneses da região de
domínio russo. Seu avô materno ocupava um cargo equivalente ao de um Ministro
da Fazenda. O ambiente que marcou sua infância, como no caso da maioria dos
seus contemporâneos, cedia às influências das ideologias políticas do momento,
respirando um certo liberalismo que relegava a fé a um papel muito secundário.
Ela cresceu com o
carinho de seus pais, mais preocupados com sua saúde e com sua formação
cultural, do que dar-lhe uma educação religiosa. Em um ambiente embebido de
indiferença religiosa, própria da filosofia daquele tempo, Francisca começou a
conhecer a Deus através de uma governanta muito boa e culta, que também a
ensinou a rezar, mas a morte repentina desta governanta privou-a de seu apoio
espiritual.
Com a sensibilidade espiritual já viva aos 9
anos de idade, e vendo a mãe, Cecília, ficar gravemente doente, Franciszka não
hesitou em solicitar insistentemente a graça da sua cura a Nossa Senhora de
Czestochowa.
Pouco depois, em 1854, ela conheceu o Padre
Leander Lendzian, capuchinho lituano que residia em Varsóvia quando Cecília se
mudou para aquela cidade a fim de prosseguir o tratamento, e entre Franciszka e ele se iniciou uma união espiritual que ela
considerou o "momento da minha conversão: eu fui conduzida ao padre como uma
pagã, vazia de Deus e do Seu amor, voltei iluminada no amor”.
Padre Leander preparou Franciszka para
receber os sacramentos da comunhão e da confirmação. Foi o momento em que ela
decidiu ser religiosa.
A notícia foi
impactante para a família Siedliska. Seus pais tinham planos diametralmente
opostos aos da filha. O pai não lhe dava alternativa além do matrimônio com um
homem de posição igual à sua. Aparentemente, Franciszka se dobrou à sua vontade
e os acompanhou em uma longa viagem pela Europa, durante a qual ficaram muito
claros os pontos de vista diferentes de um e da outra.
Adan, o pai, insistia na tese do vantajoso
casamento, e ela, que herdara seu forte temperamento, replicava mostrando a
férrea decisão de seguir a Cristo, a quem, em particular, já consagrara a sua
castidade. Tanta tensão emocional acabou abalando Cecília e Franciszka, que
temia ter contraído a tuberculose. Enquanto visitavam médicos na Suíça e na
França, uma insurreição obrigou seu pai a fugir da Polônia. Foi o momento da
conversão de Franciszka. Adan morreu em 1870, deixando o caminho livre para a
filha concretizar a sua consagração. Mas um novo obstáculo, a sua fraca saúde,
continuou a impedir aquele ato.
Em 1873, por sugestão do frade capuchinho,
que via com clareza a vontade de Deus para Franciszka, ela iniciou a fundação
da congregação das Irmãs da Sagrada Família de Nazaré.
A nova comunidade deveria ser dedicada à
adoração do Santíssimo Sacramento, à imitação da vida da Virgem Maria em
Nazaré, à educação catequética das crianças; por causa da oposição do Governo
russo, não se podia abrir na Polônia a Casa Mãe, então Francisca Siedliska
partiu para Roma para apresentar o programa da nova Congregação ao Papa Pio IX.
Em 1º de outubro de 1873, ela foi recebida
pelo Papa, que aprovou a ideia da fundação das "Irmãs da Sagrada Família de Nazaré"; de volta à Polônia,
procurou escolher um lugar onde se estabelecer: foi para a França, para
Lourdes, mas depois decidiu fundar sua Nazaré em Roma, e em 1874 para lá
voltou, e teve como assessor o Geral dos Ressurrecionistas, Padre Semenko.
O lema de Franciszka
era Seja feita a vossa vontade.
O ideal ascético da fundação amadureceu em
Loreto, em 1875, isto é, imitar a vida oculta e todas as virtudes da Sagrada
Família de Nazaré; o período 1873-1876 foi chamado de "a primavera da
Congregação", no primeiro domingo do Advento de 1875 teve lugar a fundação
do novo Instituto com as primeiras noviças chegadas da Polônia, as três irmãs
Wanda, Laura e Felicidade Lubowidzki.
Em 1881, ela fundou a ordem em Cracóvia e,
três anos mais tarde, professou os votos religiosos, assumindo o nome de Irmã Maria de Jesus, Bom Pastor.
Querendo alargar o âmbito da Congregação para
as famílias emigrantes poloneses nos Estados Unidos, em 1885, 1889 e 1896, foi
para lá, abrindo três casas em Chicago e espalhando as irmãs por toda parte; em
1892, ela estava em Paris, onde abriu uma casa; em 1895 fez o mesmo em Londres.
Quando morreu, em 21 de novembro de 1902, aos
60 anos, deixou abertas 28 casas em diversos países, entre eles os Estados
Unidos, a França e o Reino Unido.
Foi beatificada por João Paulo II em 23 de
abril de 1989.
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