Johannes Prassek |
São eles: Johannes Prassek, Eduard Müller e Hermann Lange, sacerdotes
católicos executados pela sua oposição ao nazismo, junto ao pastor protestante
Karl Friedrich Stellbrink, em Lübeck (Alemanha).
O sofrimento compartilhado pelos três
sacerdotes católicos e pelo pastor protestante Stellbrink na prisão, até sua
execução, supõe um grande testemunho ecumênico de humanidade e esperança.
Especialmente, recordamos uma citação de um
deles, Johannes Prassek, escrita em sua cela: “Deus é tão bom que me tirou todo
medo e me deu a alegria e o anseio”. É incrível, como, da sua cela, ele
mostra o céu; e nos convida a deixar-nos contagiar por esta alegria.
A cerimônia de beatificação foi presidida
pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, e
cuja homilia foi pronunciada pelo cardeal Walter Kasper.
Eduard Muller |
Com palavras comoventes, o cardeal Kasper
quis mostrar os últimos momentos daqueles quatro homens, especialmente suas
frases antes de morrer, entre elas a do luterano Stellbrink à sua esposa:
“Verdadeiramente, não é difícil morrer quando nos confiamos às mãos de Deus”.
Estes quatro homens nos dizem o que significa
ser um cristão: estar onde Jesus está,
viver e morrer com Ele.
Os mártires de Lübeck, nos demonstram que
nesse momento do regime nazista, não
existiam somente os que estavam cegados ou os que participavam porque eram
malvados; havia também outra Alemanha; havia cristãos valentes que não
inclinaram a cabeça e que não se deixaram submeter.
Os três foram julgados pelo
“Tribunal do Povo” (Volksgerichtshof) e condenados à morte em 10 de novembro de
1943, na guilhotina.
Johannes Prassek: prisioneiro por dizer a verdade
No dia em que foi ordenado sacerdote, ele se
definiu como “a pessoa mais feliz”. O Padre Prassek nasceu em Hamburgo. Estudou
na universidade dos jesuítas, e em 1935, entrou no seminário maior de Osnabrück
onde dois anos mais tarde recebeu o sacramento da Ordem.
Sua primeira missão foi a de vigário de
Wittenburg, em Mecklenburg, e, em 1939, passou a ser vigário da comunidade de
Herz-Jesu, em Lübeck; depois foi nomeado capelão.
Rapidamente ganhou o carinho dos seus fiéis: Prassek
atraía as pessoas difíceis e estranhas, desfavorecidas e oprimidas.
Sua pastoral o comprometia até o limite da sua
capacidade física e psíquica.
Em pouco tempo, foi reconhecido por sua fama como
pregador: Suas impressionantes homilias dominicais não só atraíam numerosos
fiéis, mas também os espiões da Gestapo.
Alguns amigos lhe falavam sobre as críticas que
ele fazia, advertiam-no de que talvez poderiam ser imprudentes demais contra a
ideologia nacional-socialista, mas Prassek não se deixou influenciar e
considerava que deveria dizer a verdade.
O Padre Prassek, além de suas críticas, dedicou-se
a estudar polonês para ajudar os que eram obrigados a ir a Lübeck.
Em 1941, conheceu um jovem pastor protestante, com
quem teve grande afinidade e que lhe mostrou seu desejo de conhecer a fé
católica. No entanto, esse homem na verdade era um espião da Gestapo e a
informação que conseguiu foi decisiva para que o Padre Johhanes fosse detido em
18 de maio de 1942.
Assim, foi levado ao edifício de, onde esperou
mais de um ano para ser julgado, em condições desumanas de fome e frio, que o
afetaram gravemente, pois tinha uma doença estomacal. Durante esse tempo,
escreveu numerosas cartas.
Apesar do duro período de prisão e da perspectiva
da própria execução, Prassek não perdeu a consciência da sua fé nem sua
cordialidade para consolar os companheiros de prisão.
No dia da sua execução, permitiram-lhe escrever
uma carta de despedida aos seus familiares, a qual foi destruída depois, pelas
duras palavras contra o regime nacional-socialista.
Hermann Lange, grande intelectual e mártir
Nasceu em 1912, na Frísia oriental. Fez parte de
uma associação católica estudantil denominada Nova Alemanha. Era um fiel
seguidor do escritor Romano Guardini, cuja obra o influenciou notavelmente.
Estudou, em 1931, na faculdade de teologia da
universidade de Münster. Depois entrou no seminário maior de Osnabrück. Foi
ordenado sacerdote em 1938. Em junho de 1939, começou seu trabalho pastoral na
paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Lübeck.
Suas homilias eram preparadas de maneira
absolutamente precisas e além disso, era um sacerdote decidido, gentil e de
sentimentos nobres, do ponto de vista humano. Era perfeitamente íntegro.
Sobressaía-se por sua grande sensibilidade,
humanidade e preparação teológica. Era um grande opositor ao
nacional-socialismo. Nesse tempo teve um diálogo com um jovem soldado que
servia esse regime. Lange lhe disse claramente que um cristão não podia estar
com os alemães em guerra.
Ele difundia sem medo seus escritos contra o
regime até que, em 1942, Lübeck sofreu os primeiros bombardeios e ele, sem
importar o risco que sua vida corria, preocupou-se pelo bem dos seus
paroquianos.
Foi detido em 16 de junho de 1942, pela Gestapo. “O segundo senado do tribunal popular o
condenou à morte, junto a outros sacerdotes, por desagregação do potencial
militar, por apoio ao inimigo com traição à pátria e por delitos radiofônicos”,
pois ele difundia ideias contra o regime em um programa de rádio.
Na prisão Padre Lange teve uma conduta admirável,
dividiu a cela com o pastor protestante Schwentner, a quem, segundo várias
testemunhas, tratou como um irmão.
Suas cartas testemunham uma admirável submissão ao
que Deus permitisse e uma grande profundidade religiosa: “Quando vocês receberem esta
carta, eu já não estarei no mundo dos vivos”, escreveu aos seus pais no
dia da sua condenação.
“Hoje será o grande retorno ao Reino do Pai, e
depois verei todos aqueles que estiveram perto de mim na terra”, expressou.
Sobre esta carta, o escritor alemão Thomas Mann
(1875-1955), prêmio Nobel de literatura em 1929, disse que se trata do “testemunho mais belo pelo dom da fé
cristã, católica”.
Eduard Müller e a santidade nas coisas simples
Do grupo dos mártires, este foi quem teve uma
juventude mais difícil. Nasceu em agosto de 1911, no seio de uma família
humilde. Estudou na escola católica de Neumünster. Era o menor de 7 filhos e
seu pai abandonou a família. Foi coroinha e depois carpinteiro. Desde pequeno,
mostrou seu desejo de ser sacerdote.
Graças ao apoio de alguns benfeitores da paróquia,
pôde concluir seus estudos e depois estudou teologia católica em Münster.
Em 1940, foi ordenado sacerdote em Osnabrück.
Trabalhou na paróquia do Sagrado Coração, de Lübeck. Sua forma de ser, calma, gentil e não
autoritária, foi muito estimada pelas testemunhas daquela época.
Particularmente célebre se tornou por sua
capacidade de identificação com a vida dos trabalhadores, artesãos; de fato,
não era difícil para ele identificar-se, porque provinha desse ambiente, ao
qual esteve sempre unido.
Dos mártires de Lübeck, era o menos político.
Ainda assim, foi detido em julho de 1942.
Depois de ser condenado à morte, escreveu: “Tenho
a esperança de que não serei jamais defraudado; pelo contrário: com toda
franqueza, como sempre, também agora Cristo será glorificado com o meu amor,
tanto na vida como na morte”.
Estes três mártires foram assassinados com um
intervalo de apenas 3 minutos. Souberam derramar seu sangue dando suas vidas
como sacrifício supremo do amor de Cristo.
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