terça-feira, 22 de novembro de 2016

São Pedro Esqueda Ramírez

Através da profunda união com Cristo, iniciada no batismo e alimentada pela oração, os sacramentos e a prática das virtudes evangélicas, homens e mulheres de todos os tempos, como filhos da Igreja, alcançaram a meta da santidade. São Santos porque colocaram Deus no centro da sua vida, fazendo da busca e difusão do seu Reino a razão da própria existência; são Santos porque as suas obras continuam a falar do seu amor total ao Senhor e aos irmãos, dando frutos copiosos graças à sua fé viva em Jesus Cristo e ao seu compromisso em amar, inclusivamente os inimigos, como Ele nos amou.
No contexto da peregrinação jubilar dos mexicanos, a Igreja alegra-se por proclamar Santos estes filhos do México: Cristóvão Magallanes e os seus 24 Companheiros mártires, sacerdotes e leigos.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 21 de maio de 2000

Na cidade de San Juan de los Lagos, estado de Jalisco - Mexico, no dia 29 de abril de 1887, nasceu Pedro Esqueda Ramírez, filho de Margarito Esqueda e Nicanora Ramírez. No mesmo dia de seu nascimento recebeu o batismo e em menos de três meses, a confirmação. Seus pais eram muito pobres, mas pro­fundamente cristãos, de maneira que o criaram no santo temor de Deus, o que fez com que toda sua vida fosse conservada na inocência e na simplicidade de costumes.
 
Aos quatro anos de idade iniciou seus estudos numa escola privada e nela aprendeu as primeiras letras, na cartilha, durante dois anos. Aos seis anos ingressou na chamada “Escola do Santuário”. Aí cursou os seis anos do ensino primário. Foi um aluno dedicado, apresentando boas notas e, às vezes, ganhando prêmios em algumas matérias. Era um menino comportado, pacífico; nunca foi visto brigando, nem incomodando ninguém.

Nos anos em que esteve na escola fez parte do grupo de acólitos e do coro da Basílica, sendo que numa semana servia ao altar e na outra fazia parte do coro. Era um menino piedoso, diariamente rezava dois rosários, um sozinho e outro com sua família, em casa. A brincadeira que mais gostava quando criança era levantar pequenos altares, com todo o necessário para o culto, e junto com um amigo chamado Mardonio, imitava a celebração da Santa Missa. Aos oito anos de idade, aproximou-se para receber pela primeira vez a Sagrada Comunhão, na festa do Sagrado Coração de 1895.

Ao terminar o primário não deu continuidade aos estudos, indo trabalhar numa sapataria, até que certo dia externou a seu pai o desejo que tinha de ingressar no seminário para se tornar sacerdote. Matriculou-se no Seminário Auxiliar que funcionava na. Ali frequentou os cursos de Humani­dades e dois de Filosofia.  Após seis anos no Seminário Auxiliar, por ordem de seus superiores, em 1908, passou a estudar no Seminário Diocesano de Guadalajara onde recebeu as ordens sagradas até o diaconato.

Em 1914, ao desencadear-se a perseguição aos cristãos, o Seminário foi fecha­do e o edifício confiscado. Os seminaristas tiveram que abandoná-lo. Pedro Esqueda teve que refugiar-se em San Juan de los Lagos. Ali prestou serviços ministeriais à paró­quia, colaborando com o pároco, até que certo dia o chamaram para Guadalajara. Nessa cidade, no oratório público do Hospital da Santíssima Trin­dade, recebeu a ordenação sacerdotal no dia 19 de novembro de 1916.

Seis dias depois, foi nomeado vigário cooperador da paróquia onde havia nascido, com a responsabilidade de que, se fosse necessário, ministrasse aulas no Seminário Auxiliar do lugar. Com grande gozo e alegria de todos os fiéis, celebrou sua Primeira Missa no Santuário de Nossa Senhora de San Juan de los Lagos, em primeiro de dezembro do mesmo ano.

Logo iniciou seu ministério sacerdotal, o qual exerceu por onze anos na mesma paróquia.  Os fiéis o recordam como um sacerdote exemplar, humilde e cheio de caridade, extremamente carinhoso e cuidadoso, especialmente com as crianças. Era muito caridoso para com os pobres: jamais foi visto contrariado ou de mal humor. Era muito devoto da Santíssima Eucaristia, seu pároco recorda: “o via fazendo devotamente orações diante do Santíssimo Sacramento”.

Organizou uma associação chamada “Cruzada Eucarística”, para impulsionar as crianças ao amor e devoção a Jesus Sacramentado. Empenhava-se principalmente em preparar as crianças para a primeira comunhão. Amava profundamente a Santíssima Virgem Maria e incentivava especialmente as crianças para que também a amassem.

Em 1926 intensificou-se no México a perseguição contra a Igreja. O Presidente da República, em sua maneira de proceder, manifestava uma apaixonada decisão de acabar com a Igreja. Os Bispos mexicanos, como última forma de protesto e defesa, decidiram fechar os templos e suspender o culto público. A administração dos sacramentos e o ministério sacerdotal eram realizados às escondidas, nos lares. Então as forças do Governo empreenderam uma terrível perseguição contra os sacerdotes de todo o país. O Arcebispo de Guadalajara aprovou aos sacerdotes que precisassem, que se escondessem, mesmo que abandonando seus postos. Na cidade de San Juan de los Lagos, o pároco e os sacerdotes se esconderam em diversos lugares.

O padre Esqueda, também se escondendo, ficou à frente da paróquia por encargo do senhor Cura. Em diversas casas, e algumas vezes fora da cidade, escondia-se e aí exercia seu ministério sacerdotal.

Nos primeiros dias de novembro de 1927, se refugiou em Jalostotitlán - Jalsico. Decidiu retornar à cidade de San Juan de los Lagos para cumprir seus deveres ministeriais. Hospedou-se no Hospital do Sagrado Coração. Por vezes pediu asilo nessa ou naquela casa, o que muitas vezes lhe foi negado por medo das repressões do Governo; fazendo-o voltar para a casa da família Macías, onde havia ficado por algum tempo. As duas irmãs do sacerdote, Valeria e María del Refugio, lhe advertiram quanto ao perigo de voltar a uma casa onde já havia estado antes; que ali o buscariam novamente, suplicando-lhe que saísse da cidade, ao que respondeu:

 “Deus me trouxe, em Deus confio”.

E ali ficou. Chegou a planejar sair de San Juan no dia 18 de novembro, justamente o dia em que o prenderam.
Tinham aberto no chão, no lugar onde se encontrava sua cama, um buraco. Era um pequeno esconderijo. Aí ocultaram os paramentos e todo o que necessário para a celebração da Santa Missa, como também algo do arquivo paroquial além de deixar um pequeno espaço para que o padre pudesse se esconder. 
No dia 17 de novembro, um sobrinho de Padre Pedro e outras duas pessoas vieram, já ao anoitecer, comunicar-lhe o perigo em que se encontrava por estar na casa onde habitava; que deveria sair da cidade. Ele respondeu: 

“Em Deus confio”. 

Ao cair da noite, dirigiu-se ao quarto que servia de oratório e onde se guardava o Santíssimo Sacramento, convidou toda a família a participar e dirigiu uma meditação. Foi uma reflexão de preparação para a morte. Notava-se, disse uma das pessoas presentes, "que estava disposto a morrer”.

Ao terminar agradeceu, de maneira muito atenta e sincera, a hospitalidade que lhe haviam prestado.
No dia seguinte, 18 de novembro, celebrou a Santa Missa com extremo fervor. Depois das últimas orações, tomou um crucifixo e o beijou com extrema devoção, e depois do café da manhã, entoou  cânticos a meia voz, ao Sagrado Coração de Jesus, com um semblante sereno e alegre.

A manhã avançava quando se ouviram fortes golpes na porta de entrada da casa. A senhorita Maria del Refugio, da família onde se hospedava o padre, foi a ver quem era. Era a irmã do padre Pedro, que desesperada avisava sobre a chegada dos soldados. Já era tarde. Haviam rodeado o quarteirão e outros já haviam subido sobre as lajes vizinhas. O padre Pedro apenas teve tempo de entrar no pequeno esconderijo, tapá-lo com algumas taboas e colocar em cima um tapete.

Em seguida ouviram outros fortes golpes na porta. Era o tenente Santoyo acompanhado de quatro soldados. Sem dizer nada, entraram violentamente na casa. Começaram a revisá-la e chegaram ao local da escavação. O tenente ordenou aos soldados que removessem o tapete e as taboas. Encontrando o padre, lhe ordenaram que saísse. “O retiraram debaixo de golpes e ofensas”, ameaçando-o fuzilá-lo por ser sacerdote.

Chegou então o coronel González Romero com outro bom número de soldados. Fez algumas perguntas ao Padre Esqueda e, com grande fúria, o golpeou na face, de tal sorte que lhe abriu uma ferida que minava sangue. Deu-lhe vários golpes com um chicote, ferindo-lhe também a cabeça. Aos empurrões lhe ordenou que andasse. Foi tão forte um dos empurrões, que o fez cair no chão, no pequeno quintal da casa.

 O levaram à Abadia, que o exército havia transformado em quartel. Ali encarceraram o Padre Esqueda em um quarto escuro, mantendo-o incomunicável. Durante sua prisão… o açoitavam diariamente.  Gertrudis del Espírito Santo, que corajosamente lhe foi levar alguns alimentos, afirma que “ouviu os golpes  com o qual lhe castigavam e as chicotadas. Mesmo que não o tivessem matado já estava em vias de perder sua vida com tanto que o martirizavam”.
Ali o mantiveram prisioneiro até o dia 22 de novembro de 1927. Neste dia toda a tropa se deslocava ao povoado de São Miguel el Alto. Levaram ao Padre Esqueda com eles. O retiraram da casa-prisão aos empurrões e pontapés. Um dos empurrões, ao descerem as escadas da Abadia, foi tão forte que o atirou ao chão, quebrando-lhe o braço direito. São Pedro Esqueda suportava tudo calado

 O levaram a pé até a saída de São Juan de los Lagos. Algumas crianças o acompanharam, e uma delas enviou um recado a suas irmãs. O montaram num cavalo, amarrando-lhe os braços com uma corda. O Padre Esqueda, a cavalo, vigiado pelos soldados, caminhou até chegar ao povoado de Teocaltitán, próximo a São Miguel el Alto. O desceram do cavalo e a pé cruzou o povoado até as margens dele. Já no campo, chegaram a um lugar onde estava um mezquite (árvore típica mexicana). O Coronel Santoyo ordenou ao prisioneiro que subisse no mezquite até certa altura. O Padre Esqueda, com profunda humildade, sem dizer uma palavra, tentou cumprir a ordem recebida. No entanto, não conseguiu cumpri-la pois seu braço direito quebrado o impedia de fazer grande esforço. Fez várias tentativas de subir na árvore, porém não conseguiu. 

O Coronel, irritado pelo fato do sacerdote não ter conseguido subir na árvore, sacou sua arma, disparando três tiros no padre Esqueda. Um dos tiros atingiu sua mandíbula, atravessando seu crânio e dois outros tiros o acertaram do lado esquerdo. Caiu morto com “o braço direito entendido para  cima e o esquerdo no peito”.
Eram entre uma e duas da tarde, do dia 22 de novembro de 1927.

Foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 21 de maio de 2000.


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