Escolhido
por Jesus para dirigir Santa Margarida Maria Alacquoque na mais decisiva fase da vida
desta, São Cláudio deu o impulso inicial à devoção ao Sagrado Coração nos
tempos modernos. Qualificado pelo próprio
Cristo como servidor fiel e amigo perfeito, sem se importar com
as críticas e juízos desfavoráveis, logo viu a mão de Deus nas visões de Irmã
Margarida Maria e a tranquilizou e apoiou, recebendo, como recompensa, recados
e favores do Divino Mestre.
Um deles ocorreu, certa vez,
durante a Missa celebrada para a comunidade, quando a religiosa viu, na hora da
Comunhão, o Sagrado Coração de Jesus como uma fornalha ardente e dois outros
corações abismando-se n'Ele: o do padre de La Colombière e o seu próprio,
enquanto ouvia estas palavras: "É
assim que meu puro amor une esses três corações para sempre. Esta união
destina-se à glória de meu Sagrado Coração. Quero que descubras seus tesouros,
ele fará conhecer seu preço e utilidade. Para tanto, sejais como irmão e irmã,
partilhando igualmente os bens espirituais".
Natural
de Saint-Symphorien, perto de Lyon, Cláudio de la Colombière recebeu de sua
mãe, muito piedosa, a formação religiosa que despertaria nele a vocação.
O fato de ter sido aluno do
Colégio dos jesuítas de Lyon, marcou a fundo sua espiritualidade e futuro
apostolado, baseado na misericórdia e na confiança.
Noviço jesuíta, seus dotes
invulgares já aos 19 anos chamaram a atenção de seu mestre, o Pe. Jean Papon,
que assim o descreve ao Geral da Companhia, em relato de 1660: temperamento “suave” e aparência “delicada”, “grande
talento, rara capacidade de juízo, prudência consumada, muita experiência da
vida. Começou bem os estudos. Apto para qualquer coisa” .
O Pe. Nicolau La Pesse,
editor de seus “Sermões”, em Lyon, no ano de 1684 assim
o descreve:
“Espírito vivo, juízo seguro, fino e penetrante, alma
nobre, jeito e graça. Distinguia-se sobretudo por sua maneira de pensar e pela
elegância e precisão de expressão. Quando falava com as pessoas, sua distinção
e doçura conquistavam os espíritos e os corações. A união com Deus transparecia
no seu rosto e nas suas palavras. A oração era nele habitual. Como era reto e
esclarecido, considerava com extrema justiça qualquer assunto que tivesse de
tratar”.
Descendendo de família de
advogados, o jovem jesuíta “sentia muito
o valor dos compromissos jurídicos e especialmente dos votos feitos a Deus”. Não só
naquela Casa religiosa, mas ainda durante três a quatro anos, meditou de tal
modo sobre as Constituições e o espírito da Companhia de Jesus, que fez o voto
de “observar as
Constituições, as regras comuns, as regras da modéstia e as da vida Sacerdotal” o
mais perfeitamente possível.
Foi esse o meio que escolheu
para santificar-se. Nesse sentido, lê-se em uma das deliberações que tomou
durante a probatio:
“Não importa o preço: é preciso que Deus esteja contente.
É verdade que é preciso ser santo para fazer santos, e meus defeitos muito
consideráveis me fazem conhecer quanto estou distante da santidade; mas, meu
Deus, fazei-me santo, e não poupai nada para me fazer bom. Quero sê-lo, não
importa o que me custar”.
Com essas qualidades
espirituais e intelectuais, o Pe. Cláudio estava já preparado para a grande
missão de sua vida.
Tendo sido transferido o Pe.
Pierre Papon, superior dos jesuítas de Paray-le-Monial, o Pe. de la Colombière
foi designado para substituí-lo no cargo.
Havia no Convento das
Visitandinas daquela cidade uma jovem religiosa, simples, de pouca cultura, que
parecia estar sendo favorecida por graças extraordinárias e necessitava de uma
direção segura. Sua Superiora, Madre de Saumaise, apesar de reconhecida virtude
e discernimento, não se sentia segura para julgar questão tão delicada.
Recorrera, para isso, às notabilidades locais. Estas foram unânimes em julgar
que se tratava de ilusões...
A boa Madre, no entanto,
hesitava: a Irmã Margarida Maria (1647-1690) era sensata, humilde, obediente e
não parecia ter nada de visionária nem querer se valorizar por essas
experiências místicas. Portanto, era preciso que elas fossem julgadas por
alguém com santidade, vasta cultura e profundo saber teológico, e com renome de
grande prudência e juízo seguro. A quem recorrer?
Foi durante esse impasse que
o Pe. Cláudio chegou a Paray-le-Monial e conheceu a vidente.
Em sua primeira preleção às
monjas, o Pe. Cláudio notou uma que o ouvia mais atentamente. A superiora
informou-o que se tratava da Irmã Margarida Maria.
-
“É uma alma visitada pela graça”, comentou o jesuíta.
Ao mesmo tempo, uma voz
interior dizia à mencionada freira:
-
“Eis aquele que te envio”.
Como os santos geralmente
falam a mesma linguagem, o Pe. de la Colombière e a Irmã Margarida Maria logo
se entenderam. Ele interpretou a
experiência mística da religiosa e estimulou-a vivamente a seguir as
inspirações do Espírito que a dirigia.
São Cláudio de la Colombière
representou assim a caução humana das visões de Santa Margarida Maria.
Acontecesse o que fosse – e muita perseguição e incompreensão ainda teriam
lugar –, um fato irremissível estava posto: o jesuíta afamado por sua prudência
e segurança de juízo estava certo da autenticidade das visões da Irmã Margarida
Maria.
Nos 20 meses em que o Pe.
Cláudio foi Superior da residência jesuíta em Paray-le-Monial, fundou
associações de piedade, pregou missões e dirigiu numerosas almas.
Porém, a grande
importância de seu apostolado consistiu no apoio inestimável que prestou a
Santa Margarida Maria: uma nova luz – a devoção ao Sagrado Coração – iria
encher os espaços da Igreja sob o bafejo de Papas e Santos. Coube ao Pe. de la Colombière, naquele momento, a
missão de proteger o seu tímido bruxuleio inicial contra as várias tempestades.
E ele foi fiel ao encargo recebido.
Entrementes, outro campo
ainda maior de apostolado reclamava o zelo prudente do Padre de la Colombière:
a Inglaterra.
Na capital inglesa, não se
limitou a ser o pregador e diretor de consciência da Duquesa de York. Seus
densos e piedosos sermões na capela do palácio atraíam muita gente. Visitava
doentes e converteu muitas pessoas. Resgatou da apostasia dezenas de
Sacerdotes. Sempre que possível, inculcava a devoção ao Sagrado Coração, que
recebera de Santa Margarida Maria, e ao Escapulário.
O ódio anti-religioso contra
ele aumentou. Para destruir as perspectivas favoráveis que a Religião Católica
encontrava na Inglaterra neste final de século XVII, foi desencadeada uma das
mais terríveis campanhas de calúnias da História.
São Cláudio, acusado
injustamente de um suposto complô contra o Rei, foi lançado nos calabouços do King’s Bench, onde as péssimas condições agravaram sua
tuberculose incipiente. Em dezembro de 1678, banido da Inglaterra voltou para a
França.
O Padre de la Colombière
viveu ainda alguns meses, sempre muito doente. Foi-lhe dado um ofício pouco
cansativo – diretor espiritual dos seminaristas em Lyon –tendo durante essa
fase exercido benéfica influência sobre o futuro Pe. de Galliffet, o qual se
transformou num dos maiores apóstolos da devoção ao Sagrado Coração no século
XVIII.
São Cláudio faleceu em
Paray-le-Monial no dia 15 de fevereiro de 1681, celebrizando-se como o Santo da
confiança e o pregador da misericórdia do Sagrado Coração.
Beatificado por Pio
XI em 1929, foi canonizado por João Paulo II em 1992.
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