Santo
Antão teria nascido entre 250 e 260. Como lugar de origem, costuma-se dar a
aldeia de Coma (Kiman-elArus), no Egito.
Seus
pais eram camponeses abastados. Além de Antão, tinham uma filha. À morte dos
pais, o jovem, de uns 18 a 20 anos, vendeu a propriedade, por amor ao
Evangelho, distribuiu o dinheiro aos pobres, reservando apenas algo para sua
irmã, menor que ele.
Posteriormente
distribuiu também isso, consagrando sua irmã ao estado de virgem cristã.
Retirou-se ele à vida solitária, perto de sua aldeia natal, segundo o costume
da época.
É
a etapa de sua formação monástica, de sua apaixonada dedicação à Escritura e à
oração; é também o período de seus primeiros encontros com o demônio. Depois de
certo tempo, buscando uma confrontação mais direta com o demônio, vai viver num
cemitério abandonado, encerrando-se um mausoléu. Ali sofre ataques
violentíssimos dos demônios, mas sem se deixar amedrontar, persevera em seu
propósito.
Primeiros combates com os demônios
O
demônio, que odeia e inveja o bem, não podia ver tal resolução num jovem, e se
pôs a empregar suas velhas táticas também contra ele.
Primeiro
tratou de fazê-lo desertar da vida ascética recordando-lhe sua propriedade, o
cuidado de sua irmã, os apegos da parentela, o amor do dinheiro, o amor à
glória, os inumeráveis prazeres da mesa e todas as demais coisas agradáveis da
vida. Finalmente apresentou-lhe a austeridade e tudo o que se segue a essa
virtude, sugerindo-lhe que o corpo é fraco e o tempo é longo. Em resumo, despertou em sua mente toda uma
nuvem de argumentos, procurando fazê-lo abandonar seu firme propósito.
O
inimigo viu, no entanto, que era impotente em face da determinação de Antão, e
que antes era ele que estava sendo vencido pela firmeza do homem, derrotado por
sua sólida fé e sua constante oração. Pôs então toda a sua confiança nas armas
que estão "nos músculos de seu ventre" (Jo 40,16). Jactando-se delas,
pois são sua preferida artimanha contra os jovens, atacou o jovem molestando-o
de noite e instigando-o de dia, de tal modo que até os que viam Antão podiam
aperceber-se da luta que se travava entre os dois. O inimigo queria sugerir-lhe pensamentos baixos, mas ele os dissipava
com orações; procurava incitá-lo ao prazer, mas Antão, envergonhado, cingia seu
corpo com sua fé, orações e jejuns.
Atreveu-se
então o perverso demônio a disfarçar-se em mulher e fazer-se passar por ela em
todas as formas possíveis durante a noite, só para enganar a Antão. Mas ele
encheu seus pensamentos de Cristo, refletiu sobre a nobreza da alma criada por
Ele, e sua espiritualidade, e assim apagou o carvão ardente da tentação.
E
quando de novo o inimigo lhe sugeriu o encanto sedutor do prazer, Antão,
enfadado com razão, e entristecido, manteve seus propósitos com a ameaça do
fogo e dos vermes (cf Jd 16,21; Sir 7,19; Is 66,24; Mc 9,48) (20). Sustentando isto no alto, como escudo,
passou por tudo sem se dobrar. Toda essa experiência levou o inimigo a
envergonhar-se. Em verdade, ele, que pensara ser como Deus, fez-se louco ante a
resistência de um homem. Ele, que em sua presunção desdenhava carne e sangue,
foi agora derrotado por um homem de carne em sua carne. Verdadeiramente o
Senhor trabalhava com este homem, Ele que por nós tornou-se carne e deu a seu
corpo a vitória sobre o demônio. Assim, todos os que combatem seriamente podem
dizer: "Não eu, mas a graça de Deus
comigo" (1 Cor 15,10).
Assim
chega aos 35 anos. Empreende então a separação decisiva: vai para o deserto, algo
totalmente insólito nessa época. Santo Antão cruza o Nilo e se interna na
montanha, onde ocupa um fortim abandonado. Ali passou quase vinte anos, não se
deixando ver por ninguém, entregue absolutamente só à prática da vida ascética.
Pressionado
pelos que queriam imitar sua vida, Santo Antão abandona a solidão e se converte
em pai e mestre de monges. Conta cinquenta e cinco anos, e junto ao dom da
paternidade espiritual, Deus lhe concede diversos outros carismas. Em torno
dele forma-se uma pequena colônia de ascetas. Nesta etapa conta-se também a
descida de Santo Antão e de seus discípulos a Alexandria, por ocasião da perseguição
de Maximino Daia, para confortarem os mártires de Cristo ou ter a graça de
sofrerem eles próprios o martírio.
Voltando
à solidão, encontrou-a povoada demais para seus desejos. Fugindo então à
celebridade, Santo Antão chega ao que chama "Montanha interior" (a
"Montanha" exterior, ou Pispir havia sido até então sua residência, e
nela permanece a colônia de seus discípulos), o Monte Colzim, perto do Mar
Vermelho. Apesar de tudo, de vez em quando visita seus irmãos, e estes vão a
ele.
Neste
tempo acontece a maioria dos prodígios
que lhes são atribuídos. A pedido dos bispos e dos cristãos, empreende segunda
vez o caminho de Alexandria, para prestar seu apoio à verdadeira fé na luta
contra o arianismo.
Os
últimos anos de sua vida passou em companhia de dois discípulos. Vaticina sua
morte, faz legado de suas pobres roupas e roga a seus acompanhantes que não
revelem a ninguém o lugar de sua sepultura. Gratificado com uma última visão de
Deus e de seus santos, morreu em grande paz. Ainda que Santo Antão não tenha
sido o primeiro anacoreta, foi o primeiro a retirar-se ao deserto do Egito, e
ainda que, além disso, seja muito difícil assinalar origens e iniciadores
precisos num movimento humano tão complexo como o monástico, contudo, a figura
se sobressai em forma tão extraordinária, que com razão é ele considerado pai da vida monástica e, especialmente, como modelo
perfeito da vida solitária.
Milagres no deserto
Estes
eram os conselhos a seus visitantes. Com os que sofriam unia-se em simpatia e
oração, e amiúde e em muitos e variados casos, o Senhor ouviu sua oração.
Nunca, porém, se jactou quando atendido, nem se queixou não o sendo. Sempre deu
graças ao Senhor, e animava os que sofriam a ter paciência e a se aperceberem
de que a cura não era prerrogativa dele nem de ninguém, mas de Deus só, que a
opera quando quer e a favor de quem Ele quer. Os que sofriam ficavam
satisfeitos, recebendo as palavras do ancião como cura, pois aprendiam a ter
paciência e a suportar o sofrimento. E os que eram curados aprendiam a dar
graças, não a Antão, mas a Deus só.
Uma
menina de Busiris em Trípoli padecia de uma enfermidade terrível e repugnante:
uma supuração nos olhos, nariz e ouvidos transformava-se em vermes quando caía
no chão. Além disso tinha o corpo paralisado e seus olhos eram defeituosos.
Seus pais ouviram falar de Antão por alguns monges que iam vê-lo, e tendo fé no
Senhor que curou a hemorroísa (Mt 9,20), pediram-lhes licença para irem também
com sua filha, e eles consentiram. Os pais e a menina ficaram ao pé da montanha
com Pafnúcio, o confessor e monge. Os demais subiram, e quando se dispunham a
falar-lhe da menina, ele adiantou-se e lhes falou tudo sobre os sofrimentos
dela, e de como havia feito com eles a viagem. Então, quando lhe perguntaram se
essa gente podia subir, não lhes permitiu e disse: "Podem ir e, se não morreu, vão encontrá-la sã. Não é certamente nenhum
mérito meu que ela tenha querido vir a um infeliz como eu; não, em verdade, sua
cura é obra do Salvador que mostra sua misericórdia em todo lugar aos que o
invocam. Neste caso o Senhor ouviu
sua oração, e Seu amor pelos homens me revelou que curará a enfermidade da
menina onde ela está".
Em
todo caso o milagre se realizou: quando desceram, encontraram os pais felizes e
a menina em perfeita saúde.
Sucedeu
também que quando dois dos irmãos estavam em viagem para vê-lo, acabou-se-lhes
a água; um morreu e o outro estava a ponto de morrer. Já não tinha forças para
andar, mas jazia no chão esperando também a morte. Sentado na montanha, Antão
chamou dois monges que casualmente estavam ali e os compeliu a se apresarem: "Tomem um jarro d'água e corram
descendo pelo caminho do Egito; vinham dois, um acaba de morrer e o outro
também morrerá se vocês não se apressarem. Foi-me revelado isto agora na
oração". Foram-se os monges, acharam um morto e o enterraram. Ao outro
fizeram-no reviver com água e o levaram ao ancião. A distância era de um dia de
viagem. Agora, se alguém pergunta porque não falou antes de morrer o outro, sua
pergunta é injustificada. O decreto de morte não passou por Antão, mas por Deus
que a determinou para um, enquanto revelava a condição do outro. Quanto a
Antão, o admirável é que, enquanto estava na montanha com seu coração
tranquilo, mostrou-lhe o Senhor coisas distantes.
Noutra
ocasião em que estava sentado na montanha, olhando para cima viu no ar alguém
levado para o alto entre grande regozijo de outros que lhe saíam ao encontro.
Admirando-se de tão grande multidão e pensando quão felizes eram, orou para
saber quem podia ser este. De repente uma voz se dirigiu a ele dizendo-lhe que
era a alma do monge Amón de Nítria [56], que levou vida ascética até idade
avançada. Pois bem, a distância de Nítria à montanha onde Antão estava era de
treze dias de viagem. Os que estavam com Antão, vendo o ancião tão extasiado,
perguntaram-lhe o motivo e ele lhes contou que Amón acabava de morrer. Este era
bem conhecido pois vinha aí amiúde e muitos milagres foram operados por seu intermédio.
Noutra
ocasião, o conde Arquelá o encontrou na Montanha Exterior e pediu-lhe somente
que rezasse por Policrácia, a admirável virgem de Laodicéia, portadora de
Cristo. Sofria muito do estômago e das costas devido à sua excessiva
austeridade, o seu corpo estava reduzido a grande debilidade. Antão orou e o
conde anotou o dia dessa oração. Ao voltar a Laodicéia encontrou curada a
virgem. Perguntando quando se havia visto livre de sua debilidade, tirou o
papel onde anotara a hora da oração. Quando lhe responderam, imediatamente
mostrou a sua anotação no papel, e todos se maravilharam ao reconhecer que o
Senhor a havia curado de sua doença no próprio momento em que Antão estava
orando e invocando a bondade do Salvador em seu auxílio.
Quanto
a seus visitantes, predizia frequentemente sua vinda, dias e às vezes um mês
antes, indicando o motivo da visita. Alguns vinham só para vê-lo, outros devido
a enfermidades, e outros, atormentados pelos demônios. E ninguém considerava
viagem demasiado molesta ou que fosse tempo perdido; cada um voltava sentindo
que fora ajudado.
Ainda que Antão tivesse esses poderes de
palavra e visão, no entanto suplicava que ninguém o admirasse por essa razão,
mas admirasse antes ao Senhor porque Ele nos ouve a nós, que somos apenas homens,
a fim de que possamos conhecê-lo melhor.
Noutra
ocasião havia descido de novo para visitar as celas exteriores. Quando
convidado a subir a um barco e orar com os monges, só ele percebeu um mau
cheiro horrível e sumamente penetrante. A tripulação disse que havia a bordo
pescado e alimento salgado e que o cheiro vinha disso, mas ele insistiu que o
odor era diferente. Enquanto estava falando, um jovem que tinha um demônio e
subira a bordo pouco antes como clandestino, soltou de repente um guincho. Repreendido
em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, foi-se o demônio, e o homem voltou à
normalidade; todos então se aperceberam de que o mau cheiro vinha do demônio.
Outra
vez um homem de posição foi a ele, possuído por um demônio. Neste caso o
demônio era tão terrível que o possesso não estava consciente de que ia a
Antão. Chegava mesmo a devorar seus próprios excrementos. O homem que o levou a
Antão rogou-lhe que rezasse por ele. Compadecido pelo jovem, Antão orou e
passou com ele toda a noite. Ao amanhecer, o jovem lançou-se de repente sobre
Antão, empurrando-o. Seus companheiros indignaram-se diante disso, mas Antão
acalmou-os, dizendo: "Não se
aborreçam com o jovem, pois não é ele o responsável, e sim o demônio que nele
está. Ao ser engripado e mandado a lugares desertos (Lc 11,24), ficou furioso e
fez isto. Deem graças ao Senhor, pois o atacar-me deste modo é um sinal da
partida do demônio". E enquanto Antão dizia isto, o jovem voltou a seu
estado normal; deu-se conta de onde estava, abraçou o ancião e deu graças a
Deus.
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