Todas as Igrejas do Oriente e do Ocidente sempre tiveram prazer em honrar a santíssima Mãe de Deus, a Theotókos. Nas primeiras festas marianas, que a tradição litúrgica lembra, fixadas em torno do Natal ou no dia 15 de Agosto, a Igreja celebrou especialmente a maternidade divina de Maria.
A partir do Concílio de Éfeso (431), o culto prestado pelo povo de Deus a Maria cresceu admiravelmente em amor, em oração e imitação; todos a veneram como a Mãe de Deus. A maternidade divina, de fato, está na origem de todo privilégio de Maria.
Essa dignidade é única: a Virgem concebeu e deu à luz o Verbo de Deus segundo a carne e, por isso, pode ser chamada verdadeiramente de Mãe de Deus. Ela não é apenas mãe do corpo do seu Filho, mas é, a pleno título, a Mãe do seu Filho: Mãe desse Filho que é Deus. O essencial dessa maternidade é a relação pessoal com Deus, relação que encontramos em Maria num nível único de profundidade. Certamente não é a relação divina encontrada entre as pessoas da Santíssima Trindade, todavia, permanece sendo a relação mais alta que se possa pensar entre uma criatura e o seu Criador.
Por isso, Nossa Senhora está acima de qualquer criatura e a Igreja a venera e a ama, atuando as palavras proféticas:
"Doravante todas as gerações me felicitarão, porque o Todo-Poderoso realizou grandes obras em meu favor" (Lc 1,48-49)
O Verbo assumiu nossa natureza no seio de Maria
“O Verbo de Deus veio em auxílio da descendência de Abraão, como diz o
Apóstolo. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos (Hb 2,16-17) e
assumir um corpo semelhante ao nosso. Eis por que Maria está verdadeiramente
presente neste mistério; foi dela que o Verbo assumiu, como próprio, aquele
corpo que havia de oferecer por nós. A Sagrada Escritura, recordando este
nascimento, diz: Envolveu-o em panos (Lc 2,7); proclama
felizes os seios que o amamentaram e fala também do sacrifício oferecido pelo
nascimento deste Primogênito. O anjo Gabriel, com prudência e sabedoria, já o
anunciaram a Maria; não lhe disse simplesmente: aquele que nascer em ti, para
não se julgar que se tratava de um corpo extrínseco nela introduzido; mas: de
ti (Lc 1, 35), para se acreditar que o fruto desta concepção
procedia realmente de Maria.
Assim foi que o Verbo, recebendo nossa natureza humana e oferecendo-a em
sacrifício, assumiu-a em sua totalidade, para nos revestir depois de sua
natureza divina, segundo as palavras do Apóstolo: É preciso que este
ser corruptível se vista de incorruptibilidade; é preciso que este ser mortal
se vista de imortalidade (1Cor 15,53).
Estas coisas não se realizaram de maneira fictícia, como julgam alguns,
o que é inadmissível! Nosso Salvador fez-se verdadeiro homem, alcançando assim
a salvação do homem na sua totalidade. Nossa salvação não é absolutamente algo
de fictício, nem limitado só ao corpo; mas realmente a salvação do homem todo,
corpo e alma, foi realizada pelo Verbo de Deus.
A natureza que ele recebeu de Maria era uma natureza humana, segundo as
divinas Escrituras, e o corpo do Senhor era um corpo verdadeiro. Digo
verdadeiro, porque era um corpo idêntico ao nosso. Maria é portanto nossa irmã,
pois todos somos descendentes de Adão.
As palavras de João: O Verbo se fez carne (Jo 1,14) têm
o mesmo sentido que se pode atribuir a uma expressão semelhante de Paulo: O
Cristo fez-se maldição por nós (Gal 3,13). Pois da intima e
estreita união com o Verbo, resultou para o corpo humano em engrandecimento sem
par: de mortal tornou-se imortal; sendo animal, tornou-se espiritual; terreno,
transpôs as portas do céu.
Contudo, mesmo tendo o Verbo tomado um corpo no seio da Maria, a
Trindade continua sendo a mesma Trindade, sem aumento nem diminuição. É sempre
perfeita, e na Trindade reconhecemos uma só Divindade; assim, a Igreja proclama
um único Deus no Pai e no Verbo.”
Santo Atanásio – Séc IV
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