Em contraponto ao
terceiro e mais duro anúncio da Paixão, o Evangelista não teme desvendar alguns
segredos do coração dos discípulos: busca dos primeiros lugares, ciúmes, invejas,
intrigas, ajustes e acordos; esta lógica não só desgasta e corrói a partir de
dentro as relações entre eles, mas ainda os fecha e envolve em discussões
inúteis e de pouca importância.
Entretanto Jesus
não Se detém nisso, mas continua para diante, precede-os e diz-lhes
vigorosamente: Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós,
faça-se vosso servo. Com este comportamento, o Senhor procura centrar de novo o
olhar e o coração dos seus discípulos, não permitindo que discussões estéreis e
auto referenciais tenham espaço na comunidade. Que adianta ganhar o mundo
inteiro, se se fica corroído por dentro? Que adianta ganhar o mundo inteiro, se
todos vivem prisioneiros de asfixiantes intrigas que secam e tornam estéril o
coração e a missão?
Não deve ser assim
entre vós: é a resposta do Senhor, que constitui primariamente um convite e uma
aposta para recuperar o que há de melhor nos discípulos e, assim, não se
deixarem arruinar e prender por lógicas mundanas que afastam o olhar daquilo
que é importante. Não deve ser assim entre vós: é a voz do Senhor que salva a
comunidade de se fixar demasiado em si mesma, em vez de dirigir o olhar, os
recursos, as expectativas e o coração para o que conta, a missão.
Deste modo, Jesus
ensina-nos que a conversão, a transformação do coração e a reforma da Igreja
são feitas, e sempre o devem ser, em chave missionária, pois pressupõem que se
deixe de olhar e cuidar dos interesses próprios para olhar e cuidar dos
interesses do Pai. Quando nos esquecemos da missão, quando perdemos de vista o
rosto concreto dos irmãos, a nossa vida fecha-se na busca dos próprios
interesses e seguranças. E, assim, começam a crescer o ressentimento, a
tristeza e a aversão. Pouco a pouco diminui o espaço para os outros, para a
comunidade eclesial, para os pobres, para escutar a voz do Senhor. Deste modo
perde-se a alegria, e o coração acaba na aridez.
Não deve ser assim
entre vós – diz o Senhor, e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o
servo de todos. É a bem-aventurança e o magnificat que somos chamados
a entoar todos os dias. É lembrar que estamos aqui porque fomos enviados para anunciar
a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a
recuperação da vista; para mandar em liberdade os oprimidos, para proclamar um
ano favorável da parte do Senhor.
Papa
Francisco – 28 de junho de 2018
Hoje celebramos:
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