Hoje meditamos
sobre o que aconteceu a Jesus, quando era hóspede de um fariseu chamado Simão.
Ele quis convidar Jesus à sua casa porque tinha ouvido falar bem dele, como de
um grande profeta. E enquanto se encontravam sentados para almoçar, entra uma
mulher conhecida por todos na cidade como uma pecadora. Sem proferir palavra,
ela lança-se aos pés de Jesus e começa a chorar; as suas lágrimas molham os pés
de Jesus e ela enxuga-os com os seus cabelos; depois, beija-os e unge-se com um
bálsamo perfumado que trouxera consigo.
Ressalta-se o
confronto entre as duas figuras: Simão, o zeloso servidor da lei, e a pecadora
anônima. Enquanto o primeiro julga os outros com base nas aparências, a
segunda, com os seus gestos, exprime com sinceridade o que tem no seu coração.
Não obstante tenha convidado Jesus, Simão, não quer comprometer-se nem empenhar
a sua vida com o Mestre; a mulher, pelo contrário, confia-se plenamente a Ele,
com amor e veneração.
O fariseu não
concebe que Jesus se deixe contaminar pelos pecadores. Ele pensa que se fosse
realmente um profeta deveria reconhecê-los e mantê-los à distância, para não
ser manchado por eles, como se fossem leprosos. Esta atitude é típica de um
certo modo de compreender a religião, e é motivada pela constatação de que Deus
e o pecado se opõem radicalmente um ao outro. Mas a Palavra de Deus ensina-nos
a distinguir entre o pecado e o pecador: não podemos ceder a compromissos com o
pecado, enquanto os pecadores — isto é, todos nós! — somos como doentes, que
devem ser curados, e para os curar é necessário que o médico se aproxime deles,
que os examine, que os toque. E naturalmente, para ser curado o enfermo deve
reconhecer que precisa do médico!
Entre o fariseu e a
pecadora, Jesus escolhe esta última. Livre de preconceitos que impedem a
misericórdia de se manifestar, Jesus deixa-a agir. Ele, o Santo de Deus,
deixa-se tocar por ela sem ter medo de ser contaminado. Jesus é livre, porque
está próximo de Deus, Pai misericordioso. É esta proximidade com Deus, Pai
misericordioso, que confere a liberdade a Jesus. Aliás, entrando em relação com
a pecadora, Jesus põe fim àquela condição de isolamento à qual o juízo
impiedoso do fariseu e dos seus concidadãos — que a exploravam — a condenava: Os
teus pecados são-te perdoados. Portanto, agora a mulher pode ir em paz. O
Senhor viu a sinceridade da sua fé e da sua conversão; por isso, diante de
todos Ele proclama: A tua fé te salvou. De um lado, a hipocrisia do doutor da
lei; do outro, a sinceridade, a humildade e a fé da mulher. Todos nós somos
pecadores, mas muitas vezes caímos na tentação da hipocrisia de nos considerarmos
melhores do que os outros, e dizemos: Olha para o teu pecado... Ao contrário,
todos nós devemos olhar para os nossos pecados, as nossas quedas, os nossos
erros, e olhar para o Senhor. Esta é a linha de salvação: a relação entre o eu
pecador e o Senhor. Se me sinto justo, esta relação de salvação não se
verifica.
Nesta altura, uma
surpresa ainda maior acomete todos os comensais: Quem é este homem que até
perdoa os pecados? Jesus não dá uma resposta explícita, mas a conversão da
pecadora salta aos olhos de todos, demonstrando que nele resplandece o poder da
misericórdia de Deus, capaz de transformar os corações.
A pecadora
ensina-nos o vínculo entre fé, amor e reconhecimento. Foram-lhe perdoados
numerosos pecados e por isso ela ama muito; mas a quem pouco se perdoa, pouco
ama. Até o próprio Simão deve admitir que ama mais quem mais foi perdoado. Deus
incluiu todos no mesmo mistério de misericórdia; e deste amor, que sempre nos
precede, todos nós aprendemos a amar.
Papa
Francisco – 20 de abril de 2016
Hoje celebramos:
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