"A manifestação do Espírito é dada a cada um para
proveito comum" (ICor 12, 7). Assim aconteceu na
vida de Santo Afonso de Orozco, da Ordem de Santo Agostinho. Tendo
nascido na vila de Oropesa, em Toledo, a obediência religiosa levou-o a
percorrer muitos lugares da geografia espanhola, terminando os seus dias em
Madrid. A sua dedicação pastoral ao serviço dos mais pobres nos hospitais e
cárceres faz dele um modelo para todos os que, estimulados pelo Espírito,
fundamentam toda a sua existência no amor a Deus e ao próximo, de acordo com o
supremo mandamento de Jesus.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 19 de maio de 2002
Nasceu em Ortopesa,
Toledo (Espanha) no ano de 1500 e seus pais, católicos fervorosos, deram-lhe o
nome de Afonso ou Alonso em honra de Santo Ildefonso, que tinha sido defensor
da virgindade de Maria. Estudou em Talavera de la Reina e serviu como menino de
coro na Catedral de Toledo. Teve a música como grande paixão ao longo da sua
vida. Enviado a Salamanca para continuar os seus estudos, sentiu-se atraído
pelo ambiente de santidade do convento dos Agostinianos, tendo entrado na
Ordem, onde fez os primeiros votos em 1523, sendo prior do convento São Tomás
de Vilanova.
Depois de ordenado
sacerdote, foi nomeado pregador da Ordem, ocupando ainda vários cargos como os
de prior e definidor da Província de Castela, a que pertencia. Era duro consigo
mesmo, mas cheio de compreensão para com os outros. Pretendia ser missionário
no México, mas o seu estado de saúde não lhe permitiu, apesar de ter começado a
viagem em 1547.
Quando era superior
do convento de Valladolid, foi nomeado pregador real do imperador Carlos V,
depois também de Filipe II, tendo, por esse motivo, transferido a sua
residência de Valladolid para Madrid, pois a sede da corte também fora
transferida para esta Cidade. Estava-se em 1560. Passou a viver no convento
agostiniano, conhecido com o nome de São Filipe, o Real.
Dotado de uma
extraordinária popularidade mesmo nos ambientes mais diversos, conseguia
aproximar-se de todos, sem distinção. Mereceu a estima do Rei, dos nobres e de
grandes personagens da época. A Infanta Isabel Clara Eugénia deixou o seu
testemunho favorável no processo de canonização; os escritores Francisco de
Quevedo e Lope de Vega fizeram o mesmo.
O conjunto das
cartas que escreveu e recebeu mostra a amplitude das suas relações sociais; mas
também o povo simples e humilde o estimava e admirava o seu estilo de vida; ele
a todos ajudava nas suas dificuldades materiais e morais; gostava ainda de
visitar os doentes nos hospitais, bem como os encarcerados.
Apesar de ter fama
de uma vida de santidade, pelo que o chamavam "o santo de São
Filipe", ele não se sentia confirmado na graça, nem experimentou a vida
como um mar de rosas. Com o Espírito atormentado pelos escrúpulos, sentiu
fortemente a tentação de abandonar a vida religiosa no período da sua formação;
sentiu os atrativos do amor natural, da liberdade, a dificuldade da solidão e o
temor das asperezas da vida religiosa.
Escreveu várias
obras em língua latina e na castelhana, destacamos: Vergel de
oración e monte de contemplación, (1544), Desposorio espiritual (1551), Las
siete palabras de la Virgen (1556), Bonum certamen (1562), Arte
de amar a Dios e al próximo (1568), La corona de Nuestra Señora (1588).
Os seus escritos de caráter ascético-místico ressentem-se da sensibilidade da
contra-reforma, própria da época, e neles são abundantes as expressões afetivas.
Grande devoto de Maria, sentia-se impelido por Ela a escrever.
Dedicou-se, de modo
particular, a espalhar o seu amor pela Ordem em que professara, interessou-se
pela sua história e espiritualidade, compondo várias obras sobre esses
temas: "Instruções para os religiosos", um "Comentário à
Regra" e a "Crônica do Glorioso padre e doutor Santo Agostinho, dos
santos e beatos e dos doutores da Ordem" são exemplos disso. Renunciou a
todos os privilégios que podia auferir da sua posição de pregador régio, participando
assiduamente nos atos da comunidade e tendo o comportamento de um simples
frade. Fundou ainda dois conventos de agostinianos e três de monjas
agostinianas de clausura, transmitindo a todos um testemunho de amor pela vida
contemplativa.
Morreu em Madrid a
19 de Setembro de 1591, no Colégio de D. Maria de Aragão, que ele próprio
fundara. Foi beatificado por Leão XIII em 1882. Os seus restos mortais
conservam-se no Mosteiro das Agostinianas em Madrid, chamado do Beato Afonso de
Orozco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário