Convertei-vos a mim de todo o coração com jejuns ...
Convertei-vos ao Senhor nosso Deus (Jo. 2, 12.13).
Anunciamos hoje a
Quaresma com as palavras do Profeta Joel, e principiamo-la com toda a Igreja.
Anunciamos a Quaresma do ano do Senhor com um rito que é ainda mais quente que
as palavras do Profeta. A Igreja benze hoje as cinzas, tiradas dos ramos
benzidos no domingo de Ramos do ano passado, para as impor a cada um de nós.
Inclinemos portanto as nossas cabeças, e no sinal das cinzas reconheçamos toda
a verdade das palavras dirigidas por Deus ao primeiro homem: Recorda-te
que és pó e em pó te hás de tornar (Gn. 3, 19).
Sim, recordemos esta
realidade sobretudo durante o tempo da Quaresma, no qual a liturgia da Igreja
hoje nos introduz É “tempo forte”. Neste período as verdades divinas devem falar
aos nossos corações com força especialíssima. Devem encontrar-se com a nossa
experiência humana, com a nossa consciência. A primeira verdade, hoje
proclamada, recorda ao homem a sua caducidade, recorda a morte que é para cada
um de nós o fim da vida terrena. A Igreja insiste hoje muito nesta verdade,
comprovada pela história de cada homem: Recordai-vos que “voltareis ao pó”.
Recordai-vos que a vida na terra tem limite.
Porém a mensagem de
quarta-feira de cinzas não se fica só nisto. Toda a liturgia de hoje faz notar:
Recorda-te daquele limite; e ao mesmo tempo: Não te detenhas naquele limite. A
morte é mistério. Pois bem: entremos no tempo especial em que toda a Igreja,
mais que nunca, quer meditar sobre a morte como mistério do homem em Cristo.
Cristo-Filho de Deus aceitou a morte como necessidade da natureza, como parte
inevitável da sorte do homem na terra. Jesus Cristo aceitou a morte como
consequência do pecado. Desde o princípio, se juntou a morte ao pecado: a morte
do espírito humano por causa da desobediência a Deus, ao Espírito Santo. Jesus
Cristo aceitou a morte em sinal de obediência a Deus, para restituir ao
espírito humano o dom pleno do Espírito Santo. Jesus Cristo aceitou a morte
para vencer o pecado. Jesus Cristo aceitou a morte para vencer a morte na
essência mesma do seu perene mistério.
Por isso, a mensagem
de quarta-feira de cinzas exprime-se com as palavras de São Paulo: Somos
embaixadores de Cristo, e é Deus que vos exorta por nosso intermédio.
Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo; Reconciliai-vos com Deus. Aquele que
não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós, para que nos tornássemos
n'Ele justiça de Deus (2 Cor. 5, 20-21). Colaboremos com Ele.
O significado de
quarta-feira de cinzas não se limita a recordar-nos a morte e o pecado; é
também enérgica chamada a vencermos o pecado, a convertermo-nos. Um e outro
exprimem a colaboração com Cristo. Durante a Quaresma temos diante dos olhos
toda a divina «economia» da graça e da salvação. Neste tempo da Quaresma
pensemos em não receber em vão a graça de Deus (2 Cor. 6, 1).
O próprio Jesus
Cristo é a mais sublime graça da Quaresma. É Ele mesmo que se apresenta diante
de nós na admirável simplicidade do Evangelho: da sua palavra e das suas obras.
Fala-nos com a força do seu Getsemani, do julgamento diante de Pilatos, da
flagelação, da coroação de espinhos, do caminho do Calvário, da sua crucifixão,
com tudo o que pode abalar o coração do homem.
A Igreja inteira
deseja neste período quaresmal estar especialmente unida a Cristo, para que a
sua pregação e o seu serviço sejam ainda mais fecundos. É este o tempo
favorável, este é o dia da salvação (2 Cor. 6, 2).
Compenetrado da
profundidade da liturgia de hoje, digo portanto a Vós, Cristo, eu, João Paulo
II, Bispo de Roma, com. todos os meus Irmãos e Irmãs na única fé da Tua Igreja,
com todos os Irmãos e Irmãs da imensa família humana: Compadecei-vos de
mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia apagai os meus
pecados ... Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o
vosso espírito de santidade ... Criai em mim, ó Deus, um coração ,puro e fazei
nascer dentro de mim um espírito firme ... Dai-me de novo a alegria da vossa
salvação e sustentai-me com espírito generoso (Sl. 50, 1.13.12.14).
Mostre-se o Senhor
tomado de zelo pela sua terra e tenha compaixão do seu povo (Cfr. Jl.
2, 18).
Amem.
Homilia do Papa João Paulo II – Quarta-feira de Cinzas –
28 de fevereiro de 1979
Nenhum comentário:
Postar um comentário