quarta-feira, 9 de agosto de 2017

09 de agosto - Santa Teresa Benedita da Cruz – Edith Stein


12 de outubro de 1891, havia festa na família Stein. Às seis crianças do casal Stein se acrescentava uma menina, que se chamaria Edith. Desde seus primeiros passos, a pequena Edith estava enquadrada em um clima na vida judaica. Tudo lhe falava do Povo de Deus, as preces tradicionais recitadas em hebreu, os ritos do Talmude fielmente observados e, sobretudo o admirável exemplo de uma mãe profundamente religiosa, mulher forte da Escritura Sagrada, cuja extraordinária energia e zelo infatigável vão se desenvolver sem descanso, a partir da morte de seu esposo.

Edith Stein tinha três anos quando seu pai morreu subitamente, em uma viagem de negócios. Sem hesitação, a mãe chamou tudo a si: o importante comércio de madeiras e a educação das sete crianças. Ela fez prosperar a ambos.

Zelosa antes de tudo da educação de seus filhos, ela jamais deixou de conduzi-los à sinagoga, nos dias de sabat. Ela conservou sempre aos olhos de seus filhos a autoridade indiscutível, diante da qual se inclinavam com amor e respeito. Edith Stein escreverá dela mais tarde:

"Ainda crianças, podíamos ler, no exemplo de nossa mãe, a verdadeira maneira de nos comportar. Quando ela dizia: Isto é um pecado, nós sabíamos que ela se referia a algo de odioso e indigno."

Edith era-lhe particularmente cara. Freqüentemente a mãe sonhava com um grande futuro para sua filha predileta. Seu desejo deveria se realizar, mas de que maneira tão diferente!

De um espírito muito receptivo, de inteligência viva e precoce, foi para ela uma alegria entrar na escola primária, no outono de 1897. Assim começava uma vida de estudos que ela não abandonaria mais até sua morte.

Escola primária, ginásio, universidade: Edith Stein seguia o curso normal dos estudos, na sua cidade natal de Breslau. Bem cedo revelou talento excepcional. 
O interesse vivo que Edith mostrava por seus estudos não deixou de inquietar uma mãe vigilante como a sua. Inquietação bem fundada, aliás. Os estudos de filosofia prejudicavam a piedade da moça. Sempre acompanhando sua mãe à sinagoga, seu espírito se abria a outros horizontes. Pouco a pouco, ela se desligava de toda crença profunda em um Deus pessoal.

Ela disse um dia que permaneceu atéia até vinte e um anos. Como se ela não tivesse também escrito: A sede da verdade era a minha única prece.

Deixando Breslau, ela irá seguir em Gottingen os notáveis ensinamentos do grande pensador Edmundo Husserl. Em Gottingen deu livre curso a sua paixão dos estudos e se mostrou de imediato como uma das adeptas mais brilhantes da fenomenologia husserliana. Esta nova escola filosófica, com a sua volta à objetividade, sua lógica precisa, sua aspiração à pureza integral das coisas, respondia bem ao temperamento da jovem judia.

Cedo ela se tornou uma das figuras de primeiro plano de um pequeno grupo de discípulos de Husserl. O professor Adolphe Reinach, israelita como Husserl e vários de seus alunos, reunia-os na sua casa. Os debates, por vezes apaixonados, prolongavam-se até altas horas da noite. Nesta época, passa por Gottingen o professor Max Scheler. Uma série de conferências religiosas que proferiu tiverem profunda repercussão. Todo um movimento de conversões se delineou. Dietrich von Hildebrand entrou na Ordem Terceira de S. Francisco. Koyré e sua mulher se aproximaram fortemente da Igreja católica. Adolphe Reinach abraçou o cristianismo durante a guerra de 1914-1918. Só Edith Stein permanecia inabalável. No seu quarto de estudante, os livros se empilhavam. Mais inflexível que nunca, ela se encarniçava na procura de seu único ideal: a verdade na ciência. Mas, sempre aberta à vida, dos outros, ela permanecia a companheira encantadora e devotada a quem todos podiam recorrer.

Agosto de 1914. A guerra. Nem por um instante, Edith Stein hesitou para interromper seus caros estudos e engajar-se na Cruz Vermelha. Durante dois anos devotou-se ao serviço dos feridos, no hospital militar de Mahrisch-Wisskirchen. Nesse meio tempo, em 1916, o professor Husserl acabava de ser nomeado para a Universidade de Fribourg-en-Brisgau. Considerando Edith Stein como sua discípula predileta, convidou-a para assistente particular. Encarregada de classificar e organizar os manuscritos do mestre, ela adquiriu desta maneira um conhecimento muito profundo de sua doutrina. Em 1917, doutorou-se com a maior distinção, defendendo um tese sobre o problema da imanência.

Seu desejo de encontrar a Deus era cada vez mais forte. 

No outono de 1921, Edith Stein passou alguns dias de férias na casa de seus amigos íntimos, os Conrad Martins. Ela relata:



"Um dia escolhi ao acaso uma obra bastante imponente. Intitulava-se: Vida de Santa Teresa, escrita por Santa Teresa. Eu comecei a ler. Repentinamente senti-me tão cativada, que não interrompi mais a leitura até o fim. Quando fechei o livro, pensei comigo mesma: esta é a verdade!"

Fora, a aurora começava a surgir. Edith Stein tinha. passado a noite inteira lendo. Bruscamente, irrompia a luz de Deus na sua alma.

A sua primeira providência, nesta manhã, foi ir à cidade comprar um catecismo católico e um livro de missa. Começou imediatamente a estudá-los com todo o cuidado, e rapidamente assimilou-os. Em seguida resolve assistir à missa paroquial em Bergzabern.

Pela primeira vez penetrava em uma igreja católica. Vejamos suas impressões: 

"Nada me pareceu estranho: graças ao estudo que havia feito, podia compreender as cerimônias até aos detalhes. Um padre venerável subindo ao altar celebrou o Santo Sacrifício com profundo fervor. Terminada a missa, esperei que o celebrante terminasse a sua ação de graças." 

"Seguindo-o ao presbitério pedi-lhe o batismo. Atônito, respondeu-me que a recepção na Igreja Católica exigia uma preparação. Ele desejava saber durante quanto tempo eu tinha recebido instrução e quem ma havia dado. Como resposta eu lhe disse: por favor, padre, interrogue-me!"

O padre começou então o seu exame. As respostas foram perfeitas. Toda a doutrina católica foi passada em revista. Cheio de admiração, o cura não pode mais recusar o batismo.

A 1 de janeiro de 1922, Edith Stein foi batizada, escolhendo o prenome de Teresa. Comungando neste mesmo dia, permaneceu dai em diante fiel à prática da comunhão quotidiana.

A 2 de fevereiro seguinte, recebe das mãos do bispo de Spire, Monsenhor Sebastião, o sacramento da confirmação.

Sobre a luz radiosa destes dias de graça, pairava uma sombra: sua mãe.

Desde a primeira infância, Edith Stein tinha se unido a esta mãe admirável, cujos sentimentos mais íntimos ela partilhava. O trabalho mais urgente não interrompia a sua correspondência semanal. Qual seria a reação desta mãe crente, israelita exemplar, ao saber da decisão de sua filha? Poderia ver na conversão de Edith ao catolicismo outra coisa além de uma suprema infidelidade? Não expulsaria a filha de casa?

Edith desejava dar-lhe, ela mesma, a noticia. Partiu para Breslau. Encontro emocionante da mãe e da neófita! Caindo de joelhos diante dela Edith confessou:

"Mamãe, eu sou católica!"

Não houve nada. Mas pela primeira vez em sua vida, Edith Stein viu sua mãe chorar. A uma notícia tal, a velha forte sentiu que as forças a abandonavam. E não obstante, apesar da profunda vala que as separaria daí em diante, a mãe e a filha sentiram que os seus corações permaneciam profundamente unidos.

A pedido de sua velha mãe, Edith Stein permaneceu seis meses com a família. Por piedade filial, continuava a acompanhá-la à sinagoga. Longe de renegar o Antigo Testamento, considerava-o agora como o lento caminho para o Evangelho, que ele representava no plano de Deus. Seu recolhimento profundo arrancou de sua mãe a reflexão: Eu nunca vi ninguém rezar como Edith.

A conversão tinha operado em Edith Stein uma evolução profunda. Ela agora procurava o seu lugar no campo do Senhor. Renunciando às suas funções na Universidade de Friburgo, foi para Spiro, onde se colocou sob a direção do cônego Schwind. A graça trabalhava em sua alma. Pouco a pouco, uma atração profunda a conduziu ao sacrifício total. O claustro a solicitava. Entretanto, seus dirigentes dissuadiam-na vivamente, considerando que seus dons excepcionais indicavam-na para a vida ativa no mundo.

Assim, ela viu seu desejo realizar-se pela metade, quando se lhe permitiu o retiro à calma de um liceu de religiosas dominicanas, para ensinar a moças. Ao mesmo tempo, obteve a permissão de partilhar completamente da vida da comunidade de religiosas. 

Eis o testemunho que nos dão dela:

Durante longas horas rezava. Quando as Irmãs chegavam à capela, as quatro ou cinco horas da manhã, a doutora, já estava ajoelhada no seu lugar. Nunca ela procurava sobressair; pelo contrário, apagava-se em tudo. E apesar disso, desde o primeiro contato todos se sentiam subjugados pela grande santidade que irradiava suavemente de sua pessoa.

Suas funções de professora a encantavam. Ela encontrava nelas a possibilidade de abrir os jovens espíritos às riquezas de seu próprio mundo interior, de fortificar a sua fé e de os encaminhar a uma vida verdadeiramente cristã.

Levada por um desejo de um conhecimento mais profundo de sua fé, Edith Stein tinha retomado seu trabalho filosófico durante suas horas vagas. Pela primeira vez abordava a obra de S. Tomás de Aquino.

Aliás, o mundo católico tinha a sua atenção voltada para ela, apesar de sua semi-reclusão. De quando em quando, era solicitada para conferências filosóficas, pedagógicas e religiosas. Ela as pronunciava em cidades próximas

Sua própria celebridade poderia constituir um perigo para ela. Mas Deus a conduzia. Depois de cada conferência, tinha pressa de voltar a sua amada solidão de Spire e mergulhar nas obras de S. Tomás.

Sua reputação já a tinha precedido em Breslau. Cedo ela se tornou o centro de atração de um numeroso grupo de jovens intelectuais, judeus em sua maioria, interessados na fé católica. Muitos se converteram, e Edith Stein foi a madrinha. Na sua família, ela teve a felicidade de ver sua irmã Rosa reunir-se a ela no catolicismo. Mas sua velha mãe, octogenária, permanecia inabalavelmente refratária ao catolicismo.

Vários estabelecimentos de ensino superior tendo feito apelos à eminente filósofa, ela aceitou enfim uma cadeira de pedagogia na universidade de Munster, na Westphalia. De imediato, conquistou a estima de todos. Uma brilhante carreira universitária parecia se abrir novamente diante dela.

Mas, Deus tem seus caminhos, que não são os nossos. Ele tinha escolhido, no seio de seu povo, esta alma privilegiada, Ele a queria totalmente para Si.

O ano de 1933 se iniciava sob inquietantes presságios: a chegada brutal do nacional socialismo fazia prever perseguições próximas contra os judeus.

Uma tarde, durante a quaresma, Edith Stein teve pela primeira vez uma noticia destas ameaças. Desde esta hora, a dolorosa apreensão de tantos sofrimentos reservados a sua raça não deveria deixá-la mais. No começo de abril, de passagem em Colônia, ela assistiu a uma Hora Santa na capela do Carmelo Lindenthal.

“Eu me dirigia ao Senhor, nos diz ela, e Lhe dizia que sabia bem que sua Cruz pesaria daí por diante sobre o povo de Israel. Estava pronta a percorrer este caminho. Que o Senhor me indicasse apenas o que devia fazer. Quando terminou o ofício, eu tinha a certeza interior de ter sido atendida. Mas não sabia ainda qual seria a minha Cruz.”

Ela o saberia bem cedo. De retorno a Munster, a 9 de abril seguinte, recebeu o aviso de que todo ensino e toda publicação estavam interditos aos não arianos. Ela compreendeu que sua carreira universitária estava terminada. Vários convites lhe foram feitos do estrangeiro, especialmente da América do Sul. Mas sua decisão era irrevogável. Há doze anos aspirava com toda a sua alma a vida contemplativa. Não tinha soado a hora de realizar enfim o seu desejo íntimo? Não se lhe poderia mais objetar com a necessidade de sua ação no mundo, uma vez que toda atividade pública lhe era interdita.

O abade de Beuron aquiesceu finalmente ao seu pedido. Imediatamente, Edith Stein deu os passos necessários para sua admissão no Carmelo de Colônia. Ela deixou Munster, em julho de 1937, e passou um mês em Colônia. Enfim, partiu para Breslau, para se despedir definitivamente dos seus.

Lá, tudo se ignorava de sua decisão. Sua irmã Rosa, a quem ela se confiou em primeiro lugar, ficou surpreendida, mas compreendeu e calou. Pouco a pouco ela se abriu com seus irmãos e irmãs, pedindo-lhes que nada revelassem a sua mãe. Como outrora, passava seus dias de espera na intimidade desta mãe venerada. Idosa, com 84 anos, sentava-se a sua mesa de trabalho e lhe confiava tudo que tinha no coração. Jamais inquiriu dos projetos futuros de sua filha. Por sua vez, Edith não desejava apressar a hora da dura revelação.

O momento, porém, devia chegar. Devemos consignar aqui a emocionante descrição que Edith nos deixou:

“No primeiro domingo de setembro, eu estava só em casa com mamãe. Ela estava sentada, tricotando perto da janela. Eu estava ao pé dela. De repente, ela me fez a pergunta tanto tempo esperada:

- O que vais fazer em Colônia, com as religiosas?

- Viver com elas! - respondi

“Mamãe não parou de tricotar. Seu novelo de lã se desenrolou. Com as mãos trêmulas, procurou ajeitá-lo. Eu ajudei, enquanto a nossa conversa continuava. Desde este momento a paz tinha terminado. Sobre a casa, pairava uma pesada pressão. De tempos em tempos mamãe me fazia uma pergunta ou outra. Seguia-se um silêncio. Meus irmãos pensavam como minha mãe, mas não desejavam aumentar seu sofrimento. Um de seus genros, contudo, mostrou-lhe que a minha decisão consumaria a minha ruptura com o povo judeu justamente quando se aproximavam terríveis provações. Como esta alusão a minha infidelidade deve ter feito sofrer minha mãe!”

“Ela que aceitava com o coração tão leve a Cruz que se abatia sobre sua raça, e que desejava carregar diante de Deus! A separação me foi tão cruel, que ninguém poderia me dizer com certeza, se tal ou qual maneira de agir teria sido a melhor. Eu tinha que dar este passo nos mistérios da fé. Muitas vezes, durante estes dias, pensei: Qual de nós duas, mamãe ou eu, não saberá mais resistir?

“Mas nós ambas agüentamos até o último dia.”

A 12 de outubro, aniversário de Edith e, ao mesmo tempo, festa judia dos Tabernáculos a jovem acompanhou, uma vez mais, sua mãe à sinagoga. Durante o longo trajeto de volta que sua velha mãe queria fazer a pé, a fim de abrir o coração com a filha, ela lhe perguntou:

- O sermão não foi belo?

- Certamente mamãe!

- Então também se pode ser piedosa entre os judeus?

- Por certo, se não se aprendeu a conhecer outra coisa.” Ela teve então esta dolorosa reflexão:

- Porque então aprendeste a conhecer outra coisa? Eu não quero reprovar nada a Jesus. Ele pode ter sido uma criatura muito bondosa. Mas por que ele quis se fazer Deus?

“Neste dia havia muita gente em nossa casa. Um após outro nossos hóspedes se despediram. Por fim eu fiquei só, com mamãe. Com as mãos no rosto, ela começou a chorar. Eu me coloquei atrás de sua cadeira e abracei docemente esta venerável cabeça branca. Assim ficamos longo tempo, até que ela quis se deitar. Nesta noite, não fechamos os olhos nem por um momento.”

No dia seguinte pela manhã Edith Stein partiu para Colônia, e, dois dias depois encontrava-se diante desta clausura que há tanto tempo desejava transpor.

A 15 de outubro de 1933, com 42 anos de idade, Edith Stein terminava o estranho itinerário que a conduzira de Husserl ao Carmelo. Daí em diante, começava uma nova estrada. A estrada da irmã Teresa-Benedita da Cruz. Este foi o nome religioso que tornou, a 15 de abril de 1934, ao receber o hábito. No dia seguinte a esta cerimônia, o provincial dos Carmelitas pediu-lhe que retomasse daí por diante, em seu tempo livre, seu trabalho científico de filosofia.

Apesar do isolamento do claustro, ela continuava em comunicação com a sua família. Cada semana, por uma permissão especial, enviava uma carta a sua mãe. Por muito tempo suas cartas não tiveram resposta. Afinal, recebeu uma carta, testemunha do amor materno enfim vencedor. A partir deste momento, as cartas de sua irmã Rosa traziam-lhe de cada vez algumas palavras de sua mãe. Durante o verão de 1936, mulher admirável, com 87 anos de idade, caiu doente e seu estado piorou rapidamente. A 14 de setembro, na festa de Exaltação da Santa Cruz, fazia-se no Carmelo a cerimônia de renovação dos votos. Quando chegou a vez da irmã Tereza da Cruz, ela teve de súbito a clara intuição: “Minha mãe está ao meu lado”. No mesmo dia, um telegrama trouxe a noticia do falecimento. Sua mãe tinha expirado na hora da renovação de seus votos.

Durante o Advento de 1936, Edith Stein teve a alegria de acolher sua irmã Rosa que recebeu afinal o batismo, tanto tempo retardado para não ferir ainda mais a velha mãe.

O céu cobria de nuvens cada vez mais sombrias. A perseguição nazista, longe de diminuir, redobrava de violência. Era uma pérfida campanha contra a religião de um modo geral, e contra as ordens religiosas em particular. A irmã Teresa temia que a sua presença expusesse o Carmelo de Colônia a represálias. Assim, a sua partida para a Holanda foi decidida.

Durante a noite de S. Silvestre, em 1938, ela passou clandestinamente a fronteira e dirigiu-se ao Carmelo de Echt, no Limburgo Holandês. Rapidamente adaptou-se. Às seis línguas que já dominava, acrescentou o flamengo. Prosseguindo seus trabalhos intelectuais, acabou seu estudo sobre S. João da Cruz: A Ciência da Cruz.

Santa Teresa Benedita da Cruz e sua irmã Rosa

Nesta época, sua irmã Rosa veio encontrá-la no Carmelo de Echt, como carmelita de terceiro grau.

O HOLOCAUSTO

10 de maio de 1940. Em meio ao fragor das explosões e ao rugir dos motores, a possante máquina de guerra nazista se põe em marcha. A Holanda é rapidamente ocupada. As perseguições anti-semitas desenvolvem-se com violência.

Um perigo imediato pesa, de novo, sobre a irmã Teresa da Cruz. Por isto, é decidida uma nova evasão para a Suíça, para o Carmelo Le Pâquier, perto de Friburgo.

Era o começo de 1942. As formalidades burocráticas se alongavam. Uma convocação da Gestapo já chamara a religiosa a Maestricht e depois a Amsterdam. A sua presença não tinha escapado à sinistra polícia. As ameaças se faziam cada vez mais temíveis. Felizmente, tudo estava pronto para a partida... Mas não eram estes os desígnios de Deus.

A 2 de agosto de 1942, a comunidade de Echt tinha se dirigido ao coro, como de costume, para a oração matinal. Bateram na porta do convento. Dois oficiais apareceram e solicitaram a presença das irmãs Stein. Estas, supondo que lhes traziam o passaporte para a Suíça, deixaram a capela.

Ao entrar no parlatório, empalideceram. Os SS as esperavam. Tiveram ordem de se aprontar para deixar o Carmelo em dez minutos.

Edith Stein voltou ao coro, ajoelhou-se uma última vez diante do Santíssimo Sacramento e deixou a comunidade, com estas palavras:


“Por favor, irmãs, rezem por nós.”

Os enérgicos protestos da Madre Superiora não tiveram nenhum efeito. Rapidamente as duas religiosas reuniram o que lhes permitiram levar: uma coberta, uma caneca, uma colher e algumas provisões.

Na rua, onde uma multidão se tinha reunido para protestar, estava um grupo dos SS. Fizeram entrar as duas irmãs em uma viatura que partiu para um destino desconhecido.

Em Echt, onde a angústia reinava, recebeu-se um telegrama do campo de concentração de Amersfort. Edith Stein pedia algumas vestes quentes e seu breviário.

As irmãs enviaram rapidamente a sua encomenda, por intermédio de jovens holandeses que puderam entrar em comunicação com as duas religiosas. Eles as encontraram muito calmas, sem a menor queixa, mas na incerteza total de seu futuro. Uma carta recebida pouco depois, anunciava a sua partida iminente para leste. Veio ainda uma palavra, última confidência que brilhou como uma última chama na noite: A ciência da Cruz não se pode adquirir sem que ela nos pese realmente sobre os ombros. Desde o primeiro instante eu estava convencida, e a mim mesma me dizia: Ave crux, spes unica...

O silêncio total se seguiu. Soube-se que a 6 de agosto, primeira quinta-feira do mês, um

comboio de judeus, quase todos convertidos, tinha partido em direção da Polônia.

O último traço conhecido desta eminente religiosa é um pequeno bilhete a lápis remetido por mão desconhecida a uma irmã de Friburgo: A caminho da Polônia. 

Lembranças da Irmã Teresa Benedita da Cruz.

E, após, a noite. Ignoramos onde terminou o seu calvário. Não se sabe em que lugar este olhar profundo que tinha perscrutado sempre os enigmas do homem e do universo, encontrou afinal a luz sem sombras.

Alguns disseram, com certo fundamento ao que parece, que foi nas câmaras de gás do sinistro campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Mas nada foi confirmado oficialmente. Por que então perseguir questões sem utilidade?

“Nós não a procuramos mais na terra, escreviam as Carmelitas de Colônia, mas perto de Deus que aceitou seu sacrifício e dará a recompensa ao povo pelo qual ela sofreu e morreu.”

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