Uma grande testemunha do
Evangelho encarnado nas vicissitudes sociais e econômicas da Itália do século
passado é, certamente, o Beato José Tovini. Ele brilha pela sua forte
personalidade, pela sua profunda espiritualidade familiar e laical e pelo
empenho com que se prodigou para melhorar a sociedade. Entre Tovini e João Batista
Montini (Papa Paulo VI) existe –
considerando bem – um íntimo e profundo vínculo espiritual e ideal.
Com efeito, de Tovini o próprio Pontífice escreveu: «A memória por ele deixada entre todos os que
conheci e estimei em primeiro lugar era tão viva e presente que, com muita
frequência, escutei comentários e elogios da sua singular pessoa e da sua
multiforme atividade; aturdido, ouvi admiráveis expressões da sua virtude e
entristecidos lamentos pelo seu precoce falecimento».
Ardente, leal, ativo na vida social e política, José Tovini
proclamou com a sua vida a mensagem cristã, sempre fiel às indicações do
Magistério da Igreja. A sua preocupação constante foi a defesa da fé, convicto
de que – como afirmou num congresso – «os nossos filhos sem a fé jamais serão
ricos, com a fé nunca serão pobres». Viveu num momento delicado da
história italiana e da própria Igreja e compreendeu claramente que não era
possível responder de modo total ao chamamento de Deus, sem uma dedicação
generosa e desinteressada às problemáticas sociais.
Teve um olhar profético, respondendo com audácia apostólica às
exigências dos tempos que, à luz das novas formas de discriminação, exigiam dos
crentes uma mais incisiva obra de animação das realidades temporais.
Facilitado pela competência jurídica e pelo rigor profissional que
o caracterizaram, promoveu e guiou múltiplos organismos sociais, assumindo também
cargos políticos em Cividate Camuno e em Bréscia, no desejo de tornar presentes
no meio do povo a doutrina e a moral cristã. Ele considerou prioritário o
empenho pela educação e, entre as suas inúmeras iniciativas, distinguiu-se a
defesa da escola e da liberdade do ensino.
Com meios humildes e grande coragem prodigalizou-se
incansavelmente para salvar o que a sociedade de Bréscia e da Itália tem de
mais característico, isto é, o patrimônio religioso e moral.
A honestidade e coerência de Tovini encontravam raízes na profunda
e vital relação com Deus, que alimentava constantemente com a Eucaristia, a
meditação e a devoção à Virgem. Da escuta de Deus na oração diuturna, hauria a
luz e o vigor para as grandes batalhas sociais e políticas, que teve de sustentar
a fim de tutelar os valores cristãos. Da sua piedade é testemunha a igreja de
São Lucas, com a bonita efígie da imaculada, onde se encontram agora os seus
restos mortais.
Agora na vigília do Terceiro Milénio, José Tovini, que hoje
contemplamos na glória do Paraíso, serve-nos de estímulo. Do Céu, ele vos
proteja e com a sua intercessão vos ampare.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 20 de setembro de 1998
José
Tovini nasceu em 14 de março de 1841, em Civitate Camuno, província de Bréscia.
Recebeu uma educação especialmente austera. Seus estudos estiveram ao ponto de
interromper-se, porém a intervenção do Padre João Batista Malaguzzi, tio
materno, conseguiu para o mesmo uma vaga gratuita no colégio para jovens
pobres, fundado em Verona, pelo Padre Nicolau Mazza.
Passou
também pelo seminário diocesano, onde foi muito apreciado pelos companheiros e
professores. A morte de seu pai, em 1859, e a difícil situação econômica da
família – era o mais velho de seis irmãos – o fez abandonar a ideia de fazer-se
missionário, em meio a grandes lutas interiores. Em 1860, inscreveu-se na
Faculdade de Jurisprudência de Pádua: trabalhava para sustentar-se fazendo
práticas no despacho de um escritório de advocacia e dando aulas particulares.
Nas vésperas de doutorar-se brilhantemente na Universidade de Pavia, morreu sua
mãe. Ao terminar seus estudos, trabalhou assessorando um advogado e prestando
consultoria um notário de Lovere. Ao mesmo tempo, exerceu o cargo de
vice-reitor e professor de um colégio municipal, tarefa que desempenhou durante
dois anos: era o único que rezava ao começar e ao terminar suas aulas e
comungava cada domingo.
Em
1867, transferiu-se para Bréscia. Ali foi declarado idôneo para o exercício da
advocacia e trabalhou desde 1968 com o advogado Corbolani, com cuja filha
Emília se casou sete anos mais tarde, em 06 de janeiro de 1875, decidindo
definitivamente sua vocação. Tiveram dez filhos, dos quais um foi jesuíta e
duas religiosas. Foi pai solícito e afável, educador atento, que inculcou em
seus filhos os princípios da moral católica.
Em
1977 ingressou no movimento católico bresciano e participou na fundação do
diário “O Cittadino di Brescia”, de cuja direção administrativa e organizativa
se ocupou. Nesse mesmo ano participou na formação do comitê diocesano da Obra
dos Congressos, do qual foi nomeado presidente; logo, foi sucessivamente:
presidente do comitê regional lombardo, membro do conselho diretivo, presidente
da terceira seção de educação e instrução, membro do conselho superior e
vice-presidente da Obra.
Ingressou
na Terceira Ordem Franciscana em 1881. Progrediu no exercício das virtudes
cristãs, em particular nas características da espiritualidade franciscana: a
ascese, a simplicidade, a pobreza, a oração e o diálogo respeitoso.
Empenhou-se
muito na política: foi eleito repetidamente conselheiro municipal em Bréscia.
Favoreceu iniciativas e instituições inspiradas, organizadas, fundadas e
orientadas por ele, através de programas apresentados em congressos católicos italianos
em Bréscia, na Lombardia, assim como em âmbito nacional. Susteve e apoiou
outras muitas iniciativas de caráter social, como as Casas de Desenvolvimento
Municipal. Propôs a fundação da União Diocesana das sociedades agrícolas e das
Casas Municipais. Fundou em Bréscia o Banco de São Paulo e, em Milão, o Banco
Ambrosiano.
Porém,
onde multiplicou seus esforços foi no setor educativo e escolar. Defendeu com
afinco o ensino religioso nas escolas para tutelar a fé e a moral dos jovens, e
a liberdade de educação. Defendeu a escola livre como instrumento eficaz para
formar a juventude nas tarefas de responsabilidade civil e social. Promoveu a
ereção de círculos universitários católicos e colaborou na fundação da “União
Leão XIII” de estudantes de Bréscia, da qual nasceu a FUCI (Federação de
Estudantes Católicos Italianos). Fundou a revista pedagógica e didática “Escola
Italiana Moderna”, de difusão nacional; o semanário “A Voz do Povo”; o “Boletim
dos Terciários Franciscanos”, etc. Propôs arrecadar fundos para uma
universidade católica.
Tratou
sempre de que a Igreja tenha uma presença cada vez mais decisiva no mundo do
trabalho, o que o levou a fazer uma propaganda intensa e constante para a
fundação das Associações de Trabalhadores Católicos. Em sua última fala
pública, falou do Apostolado da Oração, dirigindo um apaixonado convite à
comunhão Eucarística. É admirável sua grande obra, apesar de sua pouca saúde.
Faleceu em 16 de janeiro de 1897 prestes a completar 56 anos.
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