"Por que está Jesus Cristo na Eucaristia?
Tal pergunta, se pode ter muitas respostas, tem no entanto uma que a todas resume:
Jesus Cristo está na Eucaristia por que nos ama e quer que nós o amemos. O Amor, eis a razão de ser da instituição da Eucaristia.
Sem
ela, o Amor de Jesus Cristo seria apenas um Amor de Morte, passado,
esquecido dentro em breve - e isso sem culpa de nossa parte. Só a
Eucaristia satisfaz plenamente as leis e exigências do amor. Jesus
Cristo, dando-nos nela provas de Amor infinito, tem direito de nela ser
amado.
Ah!
Não nos tivesse Nosso Senhor deixado outro legado de seu Amor senão
Belém e o Calvário e quão depressa o teríamos esquecido! Que
indiferença! O amor quer ver, ouvir, conversar, apalpar.
Nada
substitui o ente querido, nem lembrança, nem dons, nem retratos; nada
disso tem vida. E quão bem sabia Nosso Senhor que nada poderia tomar seu
lugar, pois carecemos dele mesmo.
Não nos basta então sua palavra? Não, já não vibra, já não ouvimos as tocantes expressões dos lábios do Salvador.
E seu Evangelho? É um testamento.
E os Sacramentos, não dão eles Vida? Só o autor da Vida poderia entretê-la em nós.
E a Cruz? Ah! Sem Jesus quão triste é!
E a esperança? Sem Jesus é uma agonia
Ah! Sem Jesus, presente entre nós, seríamos por demais desgraçados.
Mas
com a Eucaristia! Com Jesus em nosso meio, quantas vezes sob o mesmo
teto, dia e noite, a todos acessível, a todos esperando na sua morada
sempre aberta; admitindo as crianças, chamando-as com acentuada
predileção, a vida torna-se menos amarga. É o pai amoroso, rodeado dos
filhos. É a vida de sociedade com Jesus.
Convivência suave, simples, familiar e íntima, assim Ele quis."
São Pedro Julião Eymard - A Eucaristia, necessidade do nosso coração
Filho de Julião Eymard e Maria Madalena Pelorse, Pedro veio ao mundo em 1811. Sua família estava reduzida aos pais e a uma meia-irmã, Mariana - filha do primeiro casamento de seu pai -, doze anos mais velha; os outros filhos do casal haviam falecido muito pequenos e um morreu nos exércitos de Napoleão.
Na igreja paroquial da cidade havia o piedoso costume da bênção com o Santíssimo Sacramento, depois da Missa diária. Sua mãe não faltava a esta um dia sequer e oferecia o filho a Jesus nessa hora. Assim, a presença de Cristo no ostensório e no sacrário lhe foi familiar desde muito cedo.
Seu pai tinha uma pequena indústria de azeite de nozes. O jovem Pedro o ajudava, entregando aos clientes o produto. Mas sentia-se tão atraído por Jesus no tabernáculo que, passando pela igreja, sempre ia fazer-Lhe uma visita. E quando a irmã voltava da Missa, procurava ficar bem junto dela, para sentir a presença eucarística em sua alma.
Aos doze anos de idade, finalmente deu-se o momento tão esperado de sua Primeira Comunhão. Quantas graças recebeu naquele dia! Uma delas foi a de sentir na alma o chamado ao sacerdócio. Mas quando falou ao pai do seu firme desejo de seguir essa vocação, recebeu como resposta uma categórica negativa. A mãe, do seu lado, calava e rezava, sem perder as esperanças de ver o filho junto ao altar.
Inteligente e de caráter resoluto, o jovem Pedro continuou a ajudar o pai, mas pôs-se a estudar latim, às escondidas. Aos dezesseis anos, obteve dele licença para prosseguir esses estudos, primeiramente em La Mure e depois em Grenoble. Foi nessa cidade que recebeu a notícia do repentino falecimento da mãe. Entre lágrimas, pôs-se aos pés de uma imagem de Nossa Senhora, rogando-Lhe: "Por favor, a partir de agora sede minha única Mãe! Mas antes de tudo, peço-Vos a graça de chegar um dia a ser sacerdote". Esse amor à Santíssima Virgem não fez senão aumentar até o fim de sua vida.
Foi apenas depois de completar dezoito anos, não sem muitas dificuldades, mesmo contando com ajuda do padre José Guibert, que conseguiu convencer o pai de permitir seu ingresso no noviciado em Marselha. Pela primeira vez, dava passos firmes rumo ao cumprimento de sua vocação.
Pároco e religioso
Entretanto, quando tudo parecia conduzi-lo à realização da grande aspiração de sua vida, uma grave enfermidade o obrigou a voltar para casa, deixando-o à beira da morte. Ao ser-lhe levado o Viático, pediu a Jesus Sacramentado que lhe concedesse a graça de recuperar a saúde para poder ser sacerdote e celebrar pelo menos uma Missa.
Sua prece foi atendida. Curou-se e ingressou no Seminário Maior de Grenoble e em 20 de julho de 1834, festa de Santo Elias, recebia a ordenação sacerdotal, aos 23 anos de idade.
Como autêntico pastor, tinha por meta santificar-se e santificar "suas ovelhas", seguindo os métodos de outro santo pároco, o Cura d'Ars, do qual era grande amigo: diariamente rezava o Ofício Divino na igreja e depois saía para o átrio a fim de conversar com os fiéis. Dotado de um forte carisma para atrair, instruía e animava a todos, obtendo notáveis conversões.
Contudo, a vida de pároco não o satisfazia inteiramente: desejava ser religioso. Apesar dos protestos de seu rebanho e das lágrimas de sua irmã Mariana, obteve autorização do ordinário para deixar o cargo e entrou em 1839 no noviciado dos Padres Maristas, em Lyon.
Os membros desse Instituto, fundado três anos antes pelo padre Jean Claude Colin, receberam por missão evangelizar os povos do Pacífico e, em consequência, padre Pedro Julião preparava-se para ser enviado como apóstolo à longínqua Oceania. Outros, porém, eram os desígnios para ele reservados: foi nomeado diretor espiritual do Colégio Marista de Belley, superior provincial, visitador apostólico e, mais tarde, diretor da Ordem Terceira de Maria, em Lyon.
Aquele jovem sacerdote cheio de zelo pela causa de Deus notava o quanto a sociedade de sua época se afastava de Cristo e de Sua Igreja, e ardia em desejo de fazer algo para reverter essa situação.
A grande missão de sua vida
Com tudo isso, a Providência ia aos poucos preparando-o para a realização da grande missão de sua vida. Duas graças o levaram definitivamente a entregar-se a ela.
Portando a custódia com o Santíssimo Sacramento durante uma procissão em 1845, sentiu-se invadido por uma grande força e pediu a Deus que lhe desse o zelo apostólico de São Paulo, para difundir como ele o nome de Jesus Cristo.
"Nós não pregamos senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo Sacramentado", dizia ele, parafraseando a célebre afirmação de São Paulo (cf. I Cor 1, 23).
Nasce a Congregação dos Sacramentinos
Disposto a "pôr-se imediatamente à obra", expôs ao Superior Geral dos Padres Maristas seu desejo de fundar uma nova congregação. Este examinou com vagar o projeto e o dispensou dos seus votos de religioso, dando-lhe assim plena liberdade para agir. Logo depois, porém, julgou melhor submeter o caso ao Arcebispo de Paris, Dom Marie-Dominique-Auguste Sibour.
Apresentou-se, pois, no Palácio Arquiepiscopal o padre Pedro Julião, acompanhado de seu primeiro discípulo, o Conde Raimundo de Cuers, excapitão de fragata, que receberia mais tarde a ordenação sacerdotal na nova Congregação. Explicou a Dom Sibour seu plano de fundar uma instituição religiosa contemplativa de adoradores do Santíssimo Sacramento e ao mesmo tempo de vida ativa, com uma frente de apostolado voltada, sobretudo, para a classe operária, ocupando-se em incrementar a devoção à Sagrada Eucaristia, preparar adultos para a Primeira Comunhão e outras atividades correlatas. O Arcebispo se entusiasmou com a ideia, declarando ser essa a obra que faltava na Arquidiocese de Paris. Nasceu assim a Congregação do Santíssimo Sacramento, em 13 de maio de 1856.
Em seu primeiro encontro com o Beato Pio IX, em 1858, este foi ainda mais caloroso e categórico que o Arcebispo de Paris: "Estou convencido de que sua obra vem de Deus e a Igreja dela necessita" - afirmou. Cinco anos mais tarde, em 1863, o mesmo Pontífice enviou-lhe um Breve Laudatório, aprovando oficialmente o novo Instituto.
Os sofrimentos consolidam a obra
A comunidade inicial - formada por apenas três membros: padre Pedro Julião, padre Cuers e padre Champion - instalou-se numa casa posta à sua disposição pelo próprio Dom Sibour. Na festa dos Reis Magos de 1857, expôs-se pela primeira vez o Santíssimo Sacramento na Capela. Um ano depois, foi conseguida a segunda casa no subúrbio de Saint-Jacques, a qual ficou conhecida pelo nome de Capela dos Milagres, por causa de todas as graças ali derramadas ao longo de nove anos.
A obra desenvolvia-se com lentidão,enfrentando dificuldades de toda ordem. O Santíssimo Sacramento devia permanecer exposto perpetuamente, mas os adoradores inscritos logo davam sinais de cansaço, sobretudo diante da dificuldade da vigília noturna, e houve algumas deserções. O próprio padre Cuers pediu a Roma a supressão dos votos para fundar outro instituto. Também não lhe faltaram as provações decorrentes das calúnias e incompreensões.
Diante de tudo isso, dizia ele com grande espírito sobrenatural: "Tenho medo de que cessem as provações".
Assim, não foi apenas a dor física - das penitências voluntárias e das enfermidades - que purificou sua alma e a sua fundação, mas também o sofrimento moral.
Fecundidade da Adoração
Apesar disso, as vocações continuavam chegando, graças, sobretudo, aos sermões cheios de entusiasmo eucarístico do fundador, que os preparava diante do tabernáculo. Não em vão, afirmava o padre Eymard, uma hora aos pés de Jesus Sacramentado vale mais do que uma manhã inteira de estudos em livros.
Como São Paulo, era o amor de Cristo que o impelia a pregar. Ardia em seu coração o enorme desejo de incendiar o mundo com o fogo d'Aquele que está presente em cada sacrário. Era preciso tirá-Lo dali, expô-Lo, prestar-Lhe adoração, reconhecendo ser Ele o único capaz de sanar todos os problemas, tanto dos indivíduos quanto da sociedade.
Em seu desejo de levar as almas à Sagrada Eucaristia, fundou também a Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, contemplativas dedicadas à Adoração Perpétua, e uma espécie de Ordem Terceira, à qual deu o nome de Agregação do Santíssimo Sacramento.
Inspirador dos Congressos Eucarísticos
"É preciso fazer Jesus Eucarístico sair de seu retiro para pôr-Se de novo à testa da sociedade cristã que há de dirigir e salvar. É preciso construir- Lhe um palácio, um trono, rodeá-Lo de uma corte de fiéis servidores, de uma família de amigos, de um povo de adoradores".8 Eis a grande missão de São Pedro Julião.
Os Congressos Eucarísticos surgiram como fruto deste poderoso anelo. Foram eles uma iniciativa pioneira da Srta. Emilia Tamisier, uma jovem que ingressara na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento e lá permanecera quatro anos, sob o nome de Irmã Emiliana. Depois, com a bênção do santo fundador, saiu do convento para ser no mundo uma missionária itinerante da Eucaristia.
Assim, em 1881, inspirada por seu mestre e vencendo numerosos obstáculos, organizava ela o primeiro Congresso Eucarístico da História, que se realizou em Lille, sob o tema A Eucaristia salva o mundo e contou com especial bênção do Papa Leão XIII. Para sua efetivação, recebeu ajuda dos Padres Sacramentinos, de diversos Bispos e numerosas personalidades leigas. A partir daí, multiplicaram-se congressos semelhantes, não só regionais, mas também nacionais e internacionais. Uma instituição que tomou vulto e perdura até nossos dias.
Ocaso de uma vida santa
Extenuado por suas intensas atividades, emagrecido e com dificuldades de se alimentar, o padre Eymard recebeu estritas ordens médicas de repouso. Na segunda quinzena de julho de 1868, dirigiu-se a La Mure, onde podia contar com os cuidados da irmã. Em caminho, celebrou sua última Missa em Grenoble, na capela consagrada à Adoração Perpétua.
Poucos dias depois, os médicos diagnosticaram uma hemorragia cerebral. Sua última confissão foi feita por sinais, pois já não conseguia falar. Morreu no dia 01 de agosto de 1868.
- Morreu um santo! - exclamavam os habitantes da pequena cidade.
Antes de completar-se um ano de seu falecimento, beneficiou com vários milagres os fiéis que rezavam ante sua sepultura.
Quase cem anos depois, no dia seguinte do término da primeira sessão do Concílio Vaticano II, 9 de dezembro de 1962, João XXIII o elevou à honra dos altares em presença de 1.500 padres conciliares. Passados mais trinta e três anos, era inscrito no Calendário Romano e apresentado à Igreja Universal com o título de "Apóstolo da Eucaristia".
Por que falar dos santos? São amigos a quem recorro quando necessito, irmãos mais velhos a quem peço conselhos. Converso com eles como pessoas a quem tenho afeição e que conheço pessoalmente. Na vida dos santos eu reconheço a mim e a minha história.Eles passaram pelas mesmas dificuldades humanas. Assim, eu posso rezar, pedindo sua intercessão diante de minhas dificuldades particulares. Conhecer um santo é conhecer um amigo. Você ouve falar sobre ele e pensa: gostaria de conhecer esta pessoa
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