Santo Agostinho nas suas Confissões, nos relata como sua mãe Mônica nunca interrompeu as orações por sua conversão e santificação. mais importante do que os bens terrenos ela suplicava pela salvação de sua alma:
"Como
ela pedisse que se dignasse falar comigo, para refutar meus erros e
desenganar-me de minhas más doutrinas e ensinar-me as boas – pois assim fazia
com quantos julgava idôneos – ele negou-se com muita prudência, como pude
verificar depois; respondeu-lhe que eu estava incapacitado para receber
qualquer ensinamento, por estar enfatuado com a novidade da heresia
maniqueísta, e por haver criado embaraço a muitos ignorantes com algumas
questões fáceis, como ela mesma lhe relatara.
“Deixe-o
– disse – e unicamente ore por ele ao Senhor! Ele mesmo, lendo os livros dos
hereges, descobrirá o erro e reconhecerá sua grande impiedade”. – Ao mesmo
tempo contou-lhe que, quando criança, sua mãe, seduzida pelo erro, entregara-o
aos maniqueus, chegando não só a ler, mas a copiar quase todas as suas obras; e
que ele mesmo, sem necessidade de que ninguém o contestasse ou convencesse,
chegara a perceber a falácia daquela doutrina, abandonando-a enfim. Depois de
assim falar, minha mãe não se aquietava, instando com maiores rogos e mais
copiosas lágrimas a que me visitasse, para discutir comigo sobre o tal assunto.
O bispo, já com certo enfado de sua insistência, lhe disse: “Vai-te em paz,
mulher, e continua a viver assim, que não é possível que pereça o filho de
tantas lágrimas” – palavras que ela recebeu como vindas do céu, segundo me
recordava muitas vezes em seus colóquios comigo.” Livro III, 21
“Minha
mãe tudo ignorava, mas, ausente, orava por mim, e tu, presente em todas as
partes onde ela estava, lhe dava ouvidos; exercias tua misericórdia para comigo
onde eu estava, restituindo-me a saúde do corpo, ainda que meu coração
sacrílego continuasse doente. Nem mesmo estando em tão grande perigo desejei
teu batismo. Quando menino eu era melhor, porque então o solicitei à piedade de
minha mãe, como já recordei e confessei. Mas, para minha vergonha, eu havia
crescido e, em minha loucura, zombava dos remédios de tua medicina, que não me
deixou morrer duplamente em tal estado.
Se
o coração de minha mãe fosse transpassado por essa ferida, nunca haveria de
sarar. Minha eloquência não é suficiente para descrever o grande amor que me
dedicava, e a que ponto seus cuidados para me gerar em espírito eram piores que
os que suportava quando me concebeu pela carne. Por isso, não vejo como poderia
sarar se minha morte em tal estado tivesse ferido as entranhas de seu amor. E
onde estariam tantas orações, continuamente repetidas? Estariam em ti,
somente em ti. Seria possível que tu, Deus de misericórdia, desprezasses o
coração contrito e humilhado de uma viúva casta e sóbria, que frequentemente
dava esmolas e servia obsequiosa a teus santos? Que em nenhum dia deixava de
levar sua oferenda a teu altar? Que ia duas vezes por dia – de manhã e à tarde
– à tua igreja, sem faltar jamais, e não para entreter-se em vãs conversas e
cochichos de velhas, mas para te ouvir as palavras e para que a ouvisses em
suas orações?
Poderias desprezar as lágrimas de uma mãe que não te pedia nem ouro, nem prata,
nem bem algum terreno e frágil, mas a salvação da alma de seu filho? Poderias,
ó Deus, a quem ela devia tudo o que era, poderias desprezá-la e negar-lhe teu
auxílio? De nenhum modo, Senhor; pelo contrário, tu a assistias, e a escutavas,
mas pelo caminho determinado por tua providência.” Livro V, 16
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