Deste modo, o Senhor começa a
despedir-se dos seus com este dom, precisamente “a paz”. Escutamos também o
trecho dos Atos dos Apóstolos, que narra a viagem que Paulo e Barnabé fizeram
partindo de Antioquia, e regressando de novo ali, e ouvimos tudo o que sofreram.
É esta é a paz que Jesus nos dá? De fato, Paulo e Barnabé pregavam em Listra
mas, alguns judeus que aliciaram o povo, apedrejaram Paulo e, julgando-o morto,
arrastaram-no para fora da cidade.
Mas, é esta a paz que Jesus dá?
Ou Paulo não recebera a paz? Os Atos narram como os discípulos o rodearam e ele
ergueu-se e voltou para a cidade anunciar o Evangelho. Resumindo, Paulo
continuava a trabalhar. E não obstante tudo fortalecia a alma dos discípulos,
encorajando-os a manterem-se firmes na fé, afirmando: Temos que sofrer muitas
tribulações para entrar no Reino de Deus.
Por conseguinte, é uma paz no
meio das tribulações. Por essa razão quando Jesus oferece este dom e diz aos
discípulos “Deixo-vos a paz, eu vos dou a minha paz”, acrescenta “Eu vo-la dou não
como o mundo a dá”. Com efeito, aquela paz que nos oferece o mundo é uma paz
sem tribulações: artificial, mais que paz é tranquilidade. Como se disséssemos por
favor, não me incomodem: quero estar tranquilo.
Poder-se-ia dizer, que o mundo
nos oferece uma paz que se importa só com as próprias situações, com as
próprias seguranças e que nunca falte nada. O mundo ensina-nos o caminho da paz
com a anestesia. O mundo anestesia-nos para que não vejamos outra realidade da
vida: a cruz. Por este motivo: Paulo diz que para entrarmos no Reino de Deus
temos de sofrer muitas tribulações. Mas podemos ter paz na tribulação?
Se depender de nós, não,
porque só somos capazes de obter uma paz que seja tranquilidade, uma paz
psicológica, contudo as tribulações existem: há quem tem uma dor, quem uma
doença, quem uma morte.
Ao contrário a paz que Jesus
oferece é um dom: um dom do Espírito Santo. Uma paz que resiste no meio das
tribulações e vai em frente: não é uma espécie de estoicismo, nem o que faz o
faquir. É precisamente outra coisa, é um dom que nos faz ir em frente.
Eis então, que a paz de Deus é
real, concretiza-se na realidade da vida, não nega a vida. Porque a vida é
assim: existe o sofrimento, há doentes, muitas situações terríveis, há guerras,
mas a paz interior, que é um dom, não se perde, ao contrário, leva-nos para a
frente, carregando a cruz e o sofrimento, com a consciência de que uma paz sem
cruz não é a paz de Jesus: é uma paz que se pode comprar. Talvez a possamos
fabricar, mas não será duradoura: acabará.
Quando me enraiveço e perco a
paz, quando o meu coração se turva, é porque não estou aberto à paz de Jesus;
porque não sou capaz de levar a vida como ela se apresenta, com as cruzes e as
dores que chegam: porque não sou capaz de rezar: “Senhor, dai-me a vossa paz”.
E esta, é uma ótima graça para ser pedida hoje, ouvindo este trecho de Jesus e
a palavra de Paulo: “Temos que sofrer muitas tribulações para entrar no Reino
de Deus”. Sim, a graça da paz, de não perder a paz interior.
Papa Francisco - 16 de maio de 2017
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