Paulo da Cruz é
considerado o maior místico do século XVIII. Escreveu mais de 30 mil cartas
espirituais, ensinando sacerdotes, religiosas e leigos, a experimentar o amor
de Deus, presente na cruz de Jesus. Amou a Eucaristia e Maria. Amou e serviu os
pobres, os enfermos e os pecadores. Missionário e profeta anunciou o amor
incondicional de Deus, na Paixão no mundo. Profeta da Páscoa apontou a vida
onde a dor e a morte buscavam triunfar. Deus
morreu por amor! Esta verdade, segundo Paulo, deveria ser proclamada por
todo cristão, sem medo e com alegria.
Paulo Francisco foi o segundo dos 16 filhos do casal
Lucas Danei e Ana Maria Massari, ambos de famílias empobrecidas, na região do
Piemonte, ao norte da Itália. A 3 de janeiro de 1694, “uma luz
extraordinária iluminou o quarto onde ele nasceu, de noite, de maneira que as
lâmpadas que lá estavam acesas pareciam apagadas”.
Os pais, que
exerciam o pequeno comércio de tecidos na localidade de Ovada, no Piemonte, eram sobretudo modelo de casal
cristão, vivendo numa santa afeição e no temor de Deus.
Ainda muito
pequeno, a piedade de Paulo Francisco era tão profunda, que bastava a mãe lhe
apresentar o Crucifixo para que ele deixasse de se lastimar ou então fizesse
algo de que não gostava. Incutindo-lhe uma profunda devoção à Paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo, a mãe seguia um impulso divino, preparando aquele que
seria o grande apóstolo desse Santo Mistério. O próprio Cristo crucificado
mostrava-se a ele em frequentes visões, às vezes coroado de espinhos, com o
corpo retalhado pela flagelação, e mesmo como um ser que se contorce de dores,
um corpo que não é senão uma chaga.
A Mãe de Deus
também lhe aparecia, algumas vezes para socorrê-lo. Isso ocorreu, por exemplo,
quando ao atravessar o rio Orba com seu irmãozinho, João Batista, caíram ambos
na água. Debatendo-se os dois entre as ondas, apareceu-lhes, andando sobre as
águas revoltas, a formosa Senhora, que dando-lhes a mão tirou-os para fora.
O Menino Jesus
apareceu-lhe também uma vez para fazer-lhe companhia quando ele rezava o terço,
devoção à qual se afeiçoou desde muito pequeno.
Aos 10 anos foi
enviado a Cremolino para os estudos, lá permanecendo por cinco anos. Sua vida
nesse período foi mais a de um consumado asceta do que a de um menino na
primeira adolescência. Ele “passava
parte da noite na contemplação das divinas bondades de seu Deus, nas dolorosas
cenas de sua paixão. Não as interrompia senão para dilacerar sua carne virginal
com cruéis flagelações, e não se permitia senão poucas horas de repouso sobre
pranchas. Ele jejuava frequentemente. .... Sua terna e viva devoção à
Santíssima Virgem não se igualava senão à proteção especial com a qual essa Mãe de misericórdia o
circundava”.
Não só seus
condiscípulos, mas os habitantes do lugar passaram a designá-lo como o
Santo. Muitos de seus colegas, levados pelo seu exemplo, entregaram-se à
vida de piedade e depois entraram em Ordens religiosas, então focos de piedade
cristã.
Terminados os
estudos, voltou Paulo Francisco para casa. Enquanto aguardava os
desígnios de Deus a seu respeito, continuava a levar vida de intensa piedade.
Alista-se na Cruzada contra os turcos muçulmanos
Aos 21 anos, em
1715, Paulo Francisco tomou conhecimento de duas bulas de Clemente XI que
promovia uma liga entre os Príncipes católicos e animava também os fiéis a se
engajarem na luta contra os turcos muçulmanos que preparavam grande investida
contra a Europa. Aconselhava-os ainda a aplacar a cólera de Deus e implorar seu
auxílio por meio de jejuns, penitências e orações públicas.
Paulo Francisco,
vendo nisso não só a oportunidade de possivelmente derramar seu sangue pela Fé,
mas também a de lutar por ela, partiu para Crema como voluntário no exército
cristão.
Mas outro era o
combate que Deus queria dele, e o fez compreender isso durante a oração. Paulo
Francisco pediu dispensa do exército e voltou à sua terra.
Um tio seu,
sacerdote, propôs-lhe então vantajoso casamento com uma moça rica e virtuosa,
e, para assegurar-lhe o futuro, fê-lo seu herdeiro. Paulo recusou as duas
propostas, pois decidira-se a servir somente a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Conduzido em espírito ao inferno
Certo dia em que
Paulo Francisco, devido a uma contusão na perna, encontrava-se no leito fazendo
sua meditação, foi levado em espírito ao inferno. “Ele perdeu os sentidos, e de seu peito escaparam grandes gritos:
era como uma mistura incoerente de escárnios e de cruel desespero. Seu irmão
João Batista, e sua irmã Teresa, que acorreram para o despertar e acalmar,
foram tomados de pânico. Voltando a si pouco a pouco, ele disse, com um
sentimento de horror pintado em sua face: ‘Não, eu jamais direi o que
vi’. ... Mais tarde o Santo confiou a uma pessoa que, nessa
circunstância, tinha sido transportado pelos Anjos ao inferno, e que havia
visto, com temor e tremor, as penas eternas dos danados”.
Congregação dos Passionistas: revelação ao fundador
No ano de 1720,
durante um êxtase, Nosso Senhor mostrou-lhe o hábito Passionista, ao mesmo
tempo em que lhe imprimiu na alma as regras que a Congregação deveria seguir.
Noutro dia, a Santíssima Virgem apareceu-lhe trazendo na mão o mesmo hábito, e
nesse instante Paulo viu-se com ele revestido. Nascia assim a Congregação dos
Passionistas. Paulo confiou a seu confessor, o Bispo de Alessandria, a visão
que tivera. Manifestou-lhe, então, o desejo de portar o hábito a ele revelado,
o que ocorreu em novembro do mesmo ano.
A primeira pessoa
que se juntou a Paulo Francisco foi seu irmão João Batista, seu companheiro de
penitências e orações na juventude, e que seria até o fim da vida seu mais
firme apoio. Ambos receberam o sacerdócio em 1727, estabelecendo-se 10 anos
depois no Monte Argentaro, onde foi fundado o primeiro convento e noviciado da nova
Congregação.
Seus membros, além dos três votos (pobreza,
obediência e castidade), pronunciavam um quarto: o de propagar a Paixão de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Somente em 1746 as
regras da Congregação foram aprovadas por Bento XIV. Nelas estão aliadas a vida
contemplativa e a ativa. A pregação de Missões e os exercícios espirituais
tornaram-se a meta da Congregação, tudo com muita ênfase posta na sagrada
Paixão de Cristo.
“Durante 50
anos São Paulo da Cruz consagrou sua vida a converter os pecadores, a
santificar os corações arrependidos, a aperfeiçoar as almas dos justos”.
Por obediência ao Papa, pede e obtém sua própria cura
Enfraquecido pela
extrema fadiga e contínua penitência, em 1771 Padre Paulo da Cruz foi acometido
por uma doença que os médicos anunciaram ser mortal. Dois de seus religiosos
apresentaram-se então ao Papa a fim de pedir uma bênção especial para o
moribundo. Clemente XIV, que media bem a extensão que essa perda representaria
para a Igreja, mandou-os dizer ao doente que o Papa lhe ordenava, sob
obediência, que não morresse então. Ao receber a ordem, Paulo da Cruz pegou seu
Crucifixo e, com lágrimas, pediu a vida, para obedecer ao Papa. Desde esse
instante, começou a melhorar até ficar completamente são.
Nesse mesmo ano, o
santo fundou o ramo feminino dos Passionistas.
Grande pregador
com fama de santidade, procurado por todos, desde o Papa até o mais humilde
pescador, aclamado pelas multidões, São Paulo da Cruz parecia insensível a
qualquer pensamento de vanglória. Ele afirmou com toda simplicidade a seu
diretor espiritual: “Graças a Deus, jamais um
pensamento de orgulho se aproxima de mim. Eu me creria um danado se me viesse
um pensamento de orgulho”.
Seu espírito de
obediência ia tão longe, que ele fizera um voto de obedecer a todo mundo
naquilo que não fosse contra a lei de Deus. Sua pureza era ilibada, e ele
conservou sua inocência batismal até o último suspiro. Um dia, não sabendo
estar sendo observado, ouviram-no dizer: “Vós
sabeis bem, Senhor, que com o concurso de vossa graça eu jamais sujei minha
alma com uma falta deliberada”.
São Paulo da Cruz
morreu nos braços de seu discípulo amado Vicente Maria Strambi, que dele havia
recebido o hábito e com ele convivera. Também elevado à honra dos altares, São
Vicente foi o primeiro biógrafo do grande fundador.
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