Segundo a tradição, Lucas é originário da Síria
(Antioquia), de cultura grega e proveniente do paganismo. Era médico de
profissão («o médico amado»: Colossenses 4,14). Foi colaborador de Paulo
(Filémon, 24) a partir da sua segunda viagem apostólica, por volta do ano 49
(Atos 16,10, onde Lucas passa a relatar usando «nós», a primeira pessoa do
plural). Permaneceu fiel ao lado de Paulo nos seus últimos dias antes do
martírio em Roma (2Timóteo 4,11). Segundo a tradição, era também pintor (teria
pintado o primeiro ícone da Virgem Maria!).
Estas
qualidades particulares delineiam já uma pessoa que suscita uma certa simpatia
à primeira vista. Mas é, sobretudo, a sua sensibilidade humana e de fé,
transparecendo dos seus escritos, que o torna uma figura atraente, luminosa,
atual. Indagando um pouco livremente na personalidade de Lucas, podemos
assinalar algumas características de um evangelizador:
Arauto da alegria:
Uma
das características do evangelho de Lucas é a alegria. Se «evangelho» é «alegre
notícia», o primeiro anúncio (do anjo Gabriel a Zacarias) é um «evangelho»:
«Terás alegria e regozijo e muitos se alegrarão...». O mesmo anjo diz a Maria:
«Alegra-te, cheia de graça». O Magnificat de Maria é uma explosão de alegria.
Mas «a grande alegria», «que será para todo o povo», é o nascimento do Messias.
Todo
o evangelho de Lucas é um relato de uma grande sementeira de alegria. Com a sua
palavra nova, a sua ação prodigiosa, a sua proximidade a todos, Jesus suscita
maravilha e louvor por onde passa! O evangelho termina dizendo que os apóstolos
voltaram a Jerusalém «com grande alegria», louvando a Deus.
O
missionário, o evangelizador é, antes tudo, um arauto da alegria, portador de
uma mensagem que acalenta o espírito, fazendo renascer a esperança no coração e
brotar o sorriso nos lábios. Por isso mesmo deve ser uma pessoa alegre, que
toma a sério a sua missão de «anunciador de boas novas» (Isaías 40,9).
Cantor da bondade de Deus:
O
livro de Lucas é o «Evangelho da Misericórdia». E não só pelo famoso capítulo
15, das três parábolas da misericórdia. Jesus veio para «proclamar o ano de
graça do Senhor». A salvação está agora ao alcance de todos: «Todo o homem verá
a salvação de Deus». Uma oportunidade a aproveitar, sem demoras, hoje. O «hoje»
é uma «palavra-chave» do evangelho de Lucas, desde o nascimento de Jesus,
passando pelo seu discurso inaugural na sinagoga de Nazaré e o encontro com
Zaqueu, até à penúltima palavra na cruz dirigida ao «bom ladrão». Ao grande
banquete do Reino são convidados «pobres, aleijados, cegos e coxos», toda a
categoria de pessoas, mesmo as que a antiga Lei excluía do culto.
Lucas
sublinha a bondade, doçura e compaixão de Jesus. Jesus manifesta uma predileção
particular pelos mais débeis. Ele se diz enviado a «anunciar a boa nova aos
pobres». Senta-se à mesa dos pecadores e mulheres «de má vida», porque veio
salvar os «perdidos». Espelho da bondade do Pai, acolhida na sua profunda
experiência de oração – outro tema caro a Lucas. Sete vezes ele alude à oração
de Jesus (número altamente simbólico) e três vezes a explicita (também este
significativo).
Eis
uma segunda característica que tem de sobressair no evangelizador: a bondade,
essência do evangelho.
Entusiasta da diversidade:
Lucas
apresenta uma imagem de Jesus que acolhe toda a gente, atirando-se a crítica dos
fariseus, os «puros» e «justos». Que educa para a tolerância: «o que não é contra
vós é a vosso favor». Até os seus adversários reconhecem que «não faz acepção
de pessoas».
Mas
a abertura sem reservas à diversidade é fruto do Pentecostes. Prosélitos
provenientes «de todas as nações que há debaixo do céu» (Atos 2,5) acorrem ao
Cenáculo. E apesar da abundância da «pesca», «as redes não se romperam». Lucas
sublinha a concórdia da primitiva comunidade de Jerusalém que «tinha um só
coração e uma só alma», colocando tudo em comum (Atos 4,32-35) e cativando a
simpatia de toda a gente (Atos 2,47).
Em
círculos cada vez mais amplos, o evangelho ultrapassa os confins: da Judeia à
Samaria até às grandes cidades pagãs; da Sinagoga aos diversos ambientes
culturais do império greco-romano, rumo aos «confins da terra» (Atos 1,8).
Apesar das inevitáveis dificuldades (Atos 6,1), a Igreja optará pela abertura à
universalidade. Iniciada por Pedro (Atos 10), encontrará em Paulo o seu
principal paladino e será sancionada no «concílio de Jerusalém» (Atos 15).
O
evangelizador deve ser um «santo» convencido que a diversidade é dom, enriquecimento
recíproco.
Impelido pelo vento do Espírito:
Lucas
é também o homem da missão. Quando a comunidade cristã vivia na expectativa do
regresso iminente de Cristo, Lucas – profeticamente – acentua a tarefa urgente
e fundamental da Igreja de anunciar o evangelho, de ser testemunha de Jesus
«até aos confins da terra», assistida pela potência do Espírito Santo (Atos
1,8). O livro dos Atos é também chamado o «evangelho do Espírito Santo». Nele
encontramos mais de cinquenta referências ao Espírito. É Ele que impele a
Igreja a sair pelas estradas do mundo para mostrar o «Caminho» (Atos 19,19.23).
É Ele o grande protagonista da evangelização (Atos 8,29.39; 13,3; 16,6-7).
O
evangelizador é aquele que abre as velas da sua barca ao Vento do Espírito,
navegando veloz e confiante rumo a novos mundos. Pois «os que põem a sua
esperança no Senhor renovam as suas forças, abrem asas como as águias, correm e
não se fatigam, caminham e não se cansam» (Isaías 40,31). Uma missão baseada em
simples estratégias humanas, pelo contrário, pretende avançar à força de remos.
Depressa sucumbirá à fadiga de remar contra ventos contrários.
São Lucas: Padroeiro dos Médicos
Segundo a tradição, São Lucas era médico, além de pintor, músico e historiador, e teria estudado medicina em Antioquia. Possuindo maior cultura que os outros evangelistas, seu evangelho utiliza uma linguagem mais aprimorada que a dos outros evangelistas, o que revela seu perfeito domínio do idioma grego.
São Lucas não era hebreu e sim gentio, como era chamado todo aquele que não professava a religião judaica. Não há dados precisos sobre sua vida. Segundo a tradição era natural de Antioquia, cidade situada em território hoje pertencente à Síria e que, na época, era um dos mais importantes centros da civilização helênica na Ásia Menor. Viveu no século I d.C., desconhecendo-se a data do seu nascimento, assim como de sua morte.
Lucas não tinha mulher nem filhos, depois de ter estudado medicina em Antioquia dirigiu-se para Alexandria, Atenas e Pérgamo, onde encontrou Paulo. Segundo a tradição, quando Paulo foi atingido por uma enfermidade durante sua viagem, teria sido curado por Lucas e a partir deste momento Lucas passou a acompanhá-lo em suas viagens, tendo ido para Filipos, Jerusalém e Roma.
Em Roma acompanhou Paulo em seus dois cativeiros e este deixou registrado que teve consigo São Lucas, “médico queridíssimo” que o ajudava no seu apostolado, consolava-o nos seus trabalhos e atendia-o e curava-o com solicitude nos seus padecimentos corporais. No segundo cativeiro, do ano 67, pouco antes do martírio, escreve a Timóteo que “Lucas é o único companheiro” na sua prisão. Os outros tinham-no abandonado.
Há incerteza, igualmente, sobre as circunstâncias de sua morte; segundo alguns teria sido martirizado, vítima da perseguição dos romanos ao cristianismo; segundo outros morreu de morte natural em idade avançada. Tampouco se sabe ao certo onde foi sepultado e onde repousam seus restos mortais. Na versão mais provável e aceita pela Igreja Católica, seus despojos encontram-se em Pádua, na Itália, onde há um jazigo com o seu nome, que é visitado pelos peregrinos.
Não há provas documentais, porém há provas indiretas de sua condição de médico. A principal delas nos foi legada por São Paulo, na Carta aos Colossenses, quando se refere a "Lucas, o amado médico" (4.14). Foi grande amigo de São Paulo e, juntos, difundiram os ensinamentos de Jesus entre os gentios.
Outra prova indireta da sua condição de médico consiste na terminologia empregada por Lucas em seus escritos. Em certas passagens, utiliza palavras que indicam sua familiaridade com a linguagem médica de seu tempo.
É o único evangelista que reporta a frase pronunciada por Jesus: “médico, cura a ti mesmo”.
São Lucas: Pintor da Virgem Maria
Santo Agostinho, no séc. IV, diz-nos pela sua parte que não conhecemos o retrato de Maria; e Santo Ambrósio, com sentido espiritual, diz-nos que era figura de bondade.
Uma tradição – que recolheu no séc. XIV Nicéforo Calisto, inspirado numa frase de Teodoro, escritor do séc. VI – diz-nos que São Lucas foi pintor e fala-nos duma imagem de Nossa Senhora saída do seu pincel.
Santo Agostinho, no séc. IV, diz-nos pela sua parte que não conhecemos o retrato de Maria; e Santo Ambrósio, com sentido espiritual, diz-nos que era figura de bondade.
Este é o retrato que nos transmitiu São Lucas da Virgem Maria: o seu retrato moral, a bondade da sua alma.
O Evangelho de boa parte das Missas de Maria Santíssima é tomado de São Lucas, porque foi ele quem mais longamente nos contou a sua vida e nos descobriu o seu Coração.
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