“É com grande alegria que
fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração
mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego
Cuauhtlatoatzin, o índio simples e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno
da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.
Como era Juan Diego? Por que
motivo Deus fixou o seu olhar nele? Como acabmos de escutar, o livro do
Eclesiástico ensina-nos que somente "Deus é todo-poderoso e apenas os humildes o
glorificam" (cf. 3, 19-20). Inclusivamente as palavras de São
Paulo, também proclamadas durante esta celebração, iluminam esta maneira divina
de realizar a salvação: "Deus escolheu aquilo que o mundo despreza [e
que é insignificante]. Deste modo, nenhuma criatura se pode orgulhar na
presença de Deus" (cf. 1 Cor 1, 28-29).
É comovedor ler as narrações
guadalupanas, escritas com delicadeza e repletas de ternura. Nelas, a Virgem
Maria, a escrava "que proclama a grandeza do Senhor" (Lc 1, 46),
manifesta-se a Juan Diego como a Mãe do Deus verdadeiro. Ela entrega-lhe, como
sinal, um ramalhete de rosas preciosas e ele, mostrando-as ao Bispo, descobre
gravada no seu manto ("tilma") a imagem abençoada de Nossa
Senhora.
"O acontecimento
guadalupano como afirmaram os membros da Conferência Episcopal Mexicana
significou o começo da evangelização, com uma vitalidade que ultrapassou
qualquer expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe assumiu os
elementos centrais da cultura indígena, purificou-os e atribuiu-lhes o definitivo
sentido de salvação". Desta maneira, Guadalupe e Juan Diego possuem um
profundo sentido eclesial e missionário, e constituem um paradigma de
evangelização perfeitamente inculturada.
Com o salmista, acabamos de
recitar: "Do céu, o Senhor contempla e vê todos os homens"(Sl 33 [32], 13), professando uma vez mais a nossa fé em
Deus, que não considera as diferenças de raça ou de cultura. Ao acolher a
mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu
a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos
de Deus em Cristo.
Desta forma, facilitou o
encontro fecundo de dois mundos e transformou-se num protagonista da nova
identidade mexicana, intimamente vinculada a Nossa Senhora de Guadalupe, cujo
rosto mestiço dá expressão da sua maternidade espiritual que abarca todos os
mexicanos.
Por isso, o testemunho da
sua vida deve continuar a dar impulso à edificação da Nação mexicana, a
promover a fraternidade entre todos os seus filhos e a favorecer cada vez mais
a reconciliação do México com as suas origens, os seus valores e as suas
tradições.
Amados Irmãos e
Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura
do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em
relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com
esperança as difíceis situações por que estais a passar.”
31/07/2002
Papa João Paulo
II
Homilia de
Canonização de Juan Diego
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