terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Canonização de São Juan Diego

“É com grande alegria que fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio simples e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.

Como era Juan Diego? Por que motivo Deus fixou o seu olhar nele? Como acabmos de escutar, o livro do Eclesiástico ensina-nos que somente "Deus é todo-poderoso e apenas os humildes o glorificam" (cf. 3, 19-20). Inclusivamente as palavras de São Paulo, também proclamadas durante esta celebração, iluminam esta maneira divina de realizar a salvação:  "Deus escolheu aquilo que o mundo despreza [e que é insignificante]. Deste modo, nenhuma criatura se pode orgulhar na presença de Deus" (cf. 1 Cor 1, 28-29).

É comovedor ler as narrações guadalupanas, escritas com delicadeza e repletas de ternura. Nelas, a Virgem Maria, a escrava "que proclama a grandeza do Senhor" (Lc 1, 46), manifesta-se a Juan Diego como a Mãe do Deus verdadeiro. Ela entrega-lhe, como sinal, um ramalhete de rosas preciosas e ele, mostrando-as ao Bispo, descobre gravada no seu manto ("tilma") a imagem abençoada de Nossa Senhora.

"O acontecimento guadalupano como afirmaram os membros da Conferência Episcopal Mexicana significou o começo da evangelização, com uma vitalidade que ultrapassou qualquer expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe assumiu os elementos centrais da cultura indígena, purificou-os e atribuiu-lhes o definitivo sentido de salvação". Desta maneira, Guadalupe e Juan Diego possuem um profundo sentido eclesial e missionário, e constituem um paradigma de evangelização perfeitamente inculturada.

Com o salmista, acabamos de recitar: "Do céu, o Senhor contempla e vê todos os homens"(Sl 33 [32], 13), professando uma vez mais a nossa fé em Deus, que não considera as diferenças de raça ou de cultura. Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo.

Desta forma, facilitou o encontro fecundo de dois mundos e transformou-se num protagonista da nova identidade mexicana, intimamente vinculada a Nossa Senhora de Guadalupe, cujo rosto mestiço dá expressão da sua maternidade espiritual que abarca todos os mexicanos.
Por isso, o testemunho da sua vida deve continuar a dar impulso à edificação da Nação mexicana, a promover a fraternidade entre todos os seus filhos e a favorecer cada vez mais a reconciliação do México com as suas origens, os seus valores e as suas tradições.
Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as difíceis situações por que estais a passar.”

31/07/2002
Papa João Paulo II
Homilia de Canonização de Juan Diego


Nenhum comentário:

Postar um comentário