Gertrudes era de uma família abastada e nasceu em
Eisleben, Alemanha, no ano 1256. Seus pais a colocaram como aluna das
beneditinas de Roderdorf quando tinha apenas cinco anos.
A pequena Gertrudes encantava a todos. “Nessa alma, Deus reuniu o brilho e o
frescor das mais belas flores à candura da inocência, de maneira que encantava
todos os olhares como atraía todos os corações”, diz sua biógrafa e contemporânea.
Para uma jovem de seu tempo, não era coisa tão comum, mas
Gertrudes recebeu uma cultura universal e clássica. Estudou latim, filosofia e
teologia; se comprazia com a leitura de Virgilio e Cícero, e a filosofia de
Aristóteles. Sua educação foi confiada à irmã da priora, Matilde de Hackeborn,
muito adiantada na via mística e na santidade. Esta procurava incutir nas almas
de suas alunas o fogo do amor de Deus que devorava seu coração. E encontrou em
Gertrudes um campo propício para isso.
A narração das experiências místicas de Matilde, Lux
divinitatis, constitui um elegante texto poético. Por volta de 1290, Matilde tivera
uma visão relacionada com a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Em 27 de
janeiro de 1281, depois de um mês de terrível provação, Nosso Senhor
apareceu-lhe e fez-lhe compreender sua falta: “Provaste a terra com meus inimigos e sugaste algumas gotas de mel
entre os espinhos. Volta a mim, e te inebriarei na torrente de meu divino
amor”. E, como dirá ela mesma, o Senhor "mais brilhante que toda luz, mais
profundo do que qualquer segredo, docemente começou a aplacar aquela
perturbação que havia entrado em meu coração".
Nessa visão, não de modo visível externamente, foram-lhe
impressos os sagrados estigmas de Cristo Senhor Nosso, e em seguida foi
agraciada com êxtases. Após tais acontecimentos, que ela chama de “sua conversão”, entregou-se com ardor
ao estudo da teologia escolástica e mística, da Sagrada Escritura e dos Padres
da Igreja, sobretudo de Santo Agostinho, São Gregório Magno, São Bernardo e
Hugo de São Vítor.
No mosteiro ela não exercia outra função senão a de
irmã-substituta da irmã-cantora, Santa Matilde. Apesar de sempre doente e
lutando tenazmente contra suas paixões, atendia às inúmeras pessoas que a
vinham consultar. Gertrudes desejaria viver na solidão, mas as notícias correm
e pessoas chegam ao mosteiro para fazerem confidências, para interrogá-la, ou
simplesmente para vê-la.
E esta contemplativa enferma tem momentos de assombrosa
atividade no contato com as pessoas e no empenho em divulgar-lhes a
devoção ao Sagrado Coração de Jesus e o culto a São José. A outros mais
distantes auxilia com seus escritos, e o
faz com elegância que é fruto de seus estudos. O empenho da adolescência e da
juventude na disciplina escolástica preparara Gertrudes para ser uma apóstola
do modo adequado ao seu tempo. E é uma
precursora de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Margarida Maria Alacoque.
Santa
Gertrudes é a Santa da Humanidade de Jesus Cristo e a teóloga do
Sagrado Coração. Ela
vê o Coração Divino não com a coroa de espinhos e a cruz; não se sente chamada
à vocação especial de vítima expiatória pelos pecados do mundo. A chaga do
peito que Jesus lhe apresenta é uma porta dourada por onde ela entra. Como São
João Evangelista, ela repousa sobre o peito de Jesus, onde seu Coração é para
ela um banho de purificação, um asilo e um descanso.
Um dia Gertrudes não pôde assistir com as Irmãs uma
conferência espiritual. Apareceu-lhe o Senhor e lhe disse:
"Queres, minha queridíssima, que o
sermão to faça Eu"?
Ela aceitou e Jesus fez que ela descansasse sobre o seu
Coração e ela ouviu duas pulsações:
"Com
estas duas pulsações opero Eu a salvação dos homens",
disse-lhe Ele.
A primeira pulsação servia para tornar o Pai propício aos
pecadores, para lhes desculpar a malícia e movê-los à contrição; a segunda era
um grito de alegria e congratulação pela eficácia do sangue de Jesus na
salvação dos justos. Era um grito que atraía os bons para trabalharem
constantemente na obra de sua perfeição.
Num ano em que o frio ameaçava os homens, animais e
colheitas, durante a Missa Santa Gertrudes implorava a Deus que desse remédio a
esses males. E teve a seguinte resposta:“Filha,
hás de saber que todas tuas orações são ouvidas”. Ao que ela replicou: “Senhor, dai-me a prova desta
bondade fazendo com que cessem os rigores do frio”. Ao sair da igreja,
a santa notou que os caminhos estavam inundados pela água produzida pela neve
derretida. O tempo favorável continuou, e começou mais cedo a primavera.
Os especialistas afirmam que os livros da Santa
Gertrudes, junto com as obras de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Catarina de
Sena, são as obras mais úteis que uma mulher tenha dado à Igreja para alimentar
a piedade das pessoas que se dedicam à vida contemplativa.
Santa Gertrudes havia escrito uma preparação para a
morte, para proveito dos fiéis. Consistia em um retiro de cinco dias, o
primeiro dos quais, consagrado a considerar a última enfermidade; o segundo, a
confissão; o terceiro, a unção dos enfermos; o quarto, a comunhão; e o quinto a
dispor-se para a morte. Certamente ela se preparou desse modo para seu
falecimento, que ocorreu no Mosteiro de Helfta, em 17 de novembro de 1302.
Gertrudes já era considerada santa no momento de sua
morte; Clemente XII incluiu o seu ofício no Calendário Romano em 1677. Mas
somente em 1739 o seu culto foi estendido à Igreja Universal.
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