97. Existem periferias que estão próximas de nós, no centro duma cidade ou na própria família. Também há um aspeto da abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial: a capacidade diária de alargar o meu círculo, chegar àqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mundo de interesses, embora se encontrem perto de mim. Por outro lado, cada irmã ou cada irmão que sofre, abandonado ou ignorado pela minha sociedade, é um forasteiro existencial, embora tenha nascido no mesmo país. Pode ser um cidadão com todos os documentos em ordem, mas fazem-no sentir como um estrangeiro na sua própria terra. O racismo é um vírus que muda facilmente e, em vez de desaparecer, dissimula-se mas está sempre à espreita.
98. Quero lembrar estes "exilados
ocultos", que são tratados como corpos estranhos à sociedade. Muitas
pessoas com deficiência sentem que vivem sem pertença nem participação. Ainda
há tanto que as impede de beneficiar da plena cidadania. O objetivo não é
apenas cuidar delas, mas acompanhá-las e “ungi-las” de dignidade para uma
participação ativa na comunidade civil e eclesial. Trata-se de um caminho
exigente e também cansativo, que contribuirá cada vez mais para a formação de
consciências capazes de reconhecer cada um como pessoa única e irrepetível.
Penso igualmente nos idosos, que, inclusive por causa da sua deficiência, são
por vezes sentidos como um peso. Mas todos podem dar uma contribuição
singular para o bem comum através de sua biografia original. Permiti que
insista: Tende a coragem de dar voz àqueles que são discriminados por causa de
sua condição de deficiência, porque infelizmente, em certas nações, ainda hoje
é difícil reconhecê-los como pessoas de igual dignidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário